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Showing posts from July, 2008

Singela Homenagem a Nossos Dantescos Tribunais

Grafite nas paredes de Palermo nos anos 70: "Chi ha soldi e amicizie va in cullo all Giustizia" A fonte é a melhor revista de notícias do Brasil, disparado: Carta Capital. Ironicamente a mais equilibrada é a única que assume suas posições sem fingir "neutralidade". O sábio provérbio aparece em versão levemente suavizada na Córsega: "Chi ha soldi e amicizie storce il naso alla giustizia."

Soneto da fúria

Trouxa, Artur Barrio, 1969 Tecido, barbante, tinta industrial Soneto da fúria Porém meu ódio é o melhor de mim A minha fúria só viu pasto de onde come a sua ira, que à distância zero parecia merda pura, contra a qual achava que lutava a luta justa. Injusta e errada – eu assumo – (não é pura, a merda, nem é tudo) é ainda a minha mesma fúria o motor maior que me comove. Que a minha fúria, com a sua crosta, açucarado rancor profundo repetente na sua sina pobre de chocar o medo em sua cova, não me impeça a comunhão com o mundo.

O contrabandista cultural

Ninguém nega que exista circulação de informação e cultura em escala global, mas poucas pessoas parecem conscientes que essa circulação obedece a regras rígidas que estabelecem rotas fixas de caráter claramente colonial e/ou imperialista. Assim só conhecemos no Brasil músicos, diretores, atores, escritores, etc de um outro país periférico no sistema quando esse indivíduo é "eleito" nos centros culturais globais, recebendo a chancela de "aceite". E vice-versa, mesmo em países próximos como Brasil e Argentina. Eles ficam com Cidade de Deus, mas sem Lavoura Arcaica, nós ficamos com O Filho da Noiva, mas sem Mundo Grúa. Poderíamos chamar esse conjunto de regras de mercado aplicada à cultura tanto quanto aos bens de consumo de um sistema internacional de aduana cultural. Se você atua de alguma maneira como agente cultural [penso aqui que agentes culturais vão desde de um produtor profissionalizado a um simples dono de blogue caseiro] e não trata de novelas de TV, Ivetes

Tradutores

"Que Dios y Usted me ayuden!" Harriet de Onís, em carta a Guimarães Rosa na qual confirmam o contrato de tradução de Grande Sertão: Veredas para o inglês pela editora Knopf.

Bernardo Soares [Fernando Pessoa] e o patriotismo

"Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse. Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha." Bernardo Soares, O Livro do Desassossego .

Mundo Novo, Mundo Cão

Vemos hoje a expansão da lógica do capitalismo financeiro a todas as esferas do humano. Alguns exemplos concretos: 1. A revista New Yorker trouxe há tempos reportagem sobre o fascínio que o programa preferido de executivos em todo o mundo, o Power Point, exerce sobre a forma de pensar e se comunicar desses executivos, que só conseguiam comunicar-se no estilo de tópico e comentário com ilustrações, e não apenas no seu trabalho. Um deles queria resolver problemas na sua família sentando esposa e filhos à mesa e apresentando em Power Point uma “agenda propositiva para uma família melhor”. 2. A indústria farmacêutica e sua “parceira sinérgica” do setor de seguros saúde transformam juntas os sistemas de saúde no mundo inteiro com a imposição das regras da boa “governância corporativa”: uma medicina propositalmente cara e excludente [pensem nos bancos que cobram mais taxas de quem têm menos dinheiro em conta]. Um dos efeitos desse processo: milhões de pessoas com problemas emocionais de todo

O que é isso, Companheiro? (1996) e Batismo de Sangue (2007)

Eu acho que é um equívoco terrível pensar que “considerar os dois lados” ao contar a história de um dado conflito é o suficiente para alcançar uma posição de neutralidade que equivale à fazer justiça. Essa equívoco parte do pressuposto algo ingênuo de que no fundo somos todos seres humanos e portanto merecemos todos, sem exceção, um olhar de compaixão. Imagina-se que transformando um nazista de vilão absoluto em homem trágico é o suficiente para ser mais profundo e humano na representação do nazismo. Um exemplo desse equívoco foi o filme O que é isso, companheiro? adaptado livremente do livro do sobrevivente da guerra suja brasileira Fernando Gabeira, centrando atenção em um episódio da história brasileira que não ocupa o centro do livro, o seqüestro do embaixador americano Charles Burke Elbrick. O filme de Bruno Barreto decidiu dar dores de consciência e justificações patrióticas a um torturador do aparato repressivo da ditadura militar e transformar um dos seqüestradores em um assass

Vinicius de Moraes e o patriotismo

Pátria minha A minha pátria é como se não fosse, é íntima Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo É minha pátria. Por isso, no exílio Assistindo dormir meu filho Choro de saudades de minha pátria. Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi: Não sei. De fato, não sei Como, por que e quando a minha pátria Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água Que elaboram e liquefazem a minha mágoa Em longas lágrimas amargas. Vontade de beijar os olhos de minha pátria De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos... Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias De minha pátria, de minha pátria sem sapatos E sem meias, pátria minha Tão pobrinha! Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho Pátria, eu semente que nasci do vento Eu que não vou e não venho, eu que permaneço Em contato com a dor do tempo, eu elemento De ligação entre a ação e o pensamento Eu fio invisível no espaço de todo adeus Eu, o sem Deus! Tenho-te no entanto em mim como um gemido De flor;

Jose Emilio Pacheco e o patriotismo

Alta Traicion No amo mi Patria. Su fulgor abstracto es inasible. Pero (aunque suene mal) daría la vida por diez lugares suyos, cierta gente, puertos, bosques de pinos, fortalezas, una ciudad deshecha, gris, monstruosa, varias figuras de su historia, montañas - y tres o cuatro ríos.

Rosario Castellanos e o patriotismo

Um pedacinho da cordilheira de Santa Madre de Chiapas Elegía La cordillera, el aire de la altura que bate poderoso como el ala de un águila, la atmósfera difícil de una estrella caída, de una piedra celeste ya enfriada. Esta, ésta es mi patria. Rota, yace a mis pies la estera que tejieron entrelazando hilos de paciencia y de magia. O voy pisando templos destruidos o estelas en el polvo sepultadas. He aquí el terraplén para la danza. ¿Quién dirá los silencios de mis muertos? ¿Quién llorará la ruina de mi casa? Entre la soledad una flauta de hueso derramando una música triste y aguda y áspera. No hay otra palabra. Poemas, 1957