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Showing posts from November, 2008

Poema de José Emilio Pacheco

José Emilio Pacheco é um dos poetas mais importantes das letras em espanhol hoje em dia e um prosista maravilhoso também. Adoro esse seu poema, simples e contundente, em que ele reflete sobre a natureza por um viés, digamos, incomum, enxergando no mundo natural não um reflexo de harmonia e justiça, mas das misérias do mundo humano. Los mares del sur Felicidad de estar aquí en esta playa aún sin Milton ni Sheraton. Arena como al principio de la creación, victoria de la existencia. Mira cómo salen del cascarón las tortuguitas. Observa cómo avanzan sobre la playa ardiente hacia el mar que es la vida y nos dio la vida. Prueba esta agua fresquísima del pozo. No comeremos ni siquiera almejas por no pensar en nada que recuerde la muerte. Los paraísos duran un instante. Llegan las aves, bajan en picada y hacen vuelos raspantes y se elevan con la presa en el pico: las tortugas recién nacidas. Ya no son gaviotas: es la Luftwaffe sobre Varsovia. Con que angustia se arrastran hacia la orilla, víct

Recordar é viver - Editorial da Folha de São Paulo de 1971

"Como o pior cego é o que não quer ver, o pior do terrorismo é não compreender que no Brasil não há lugar para ele. Nunca ouve. E de maneira especial não há hoje, quando um governo sério, responsável, respeitável e com indiscutível apoio popular, está levando o Brasil pelos seguros caminhos do desenvolvimento com justiça social - realidade que nenhum brasileiro lúcido pode negar, e que o mundo todo reconhece e proclama. O país, enfim, de onde a subversão - que se alimenta do ódio e cultiva a violência - está sendo definitivamente erradicada, com o decidido apoio do povo e da imprensa que reflete o sentimento deste." Octávio Frias de Oliveira, 22 de setembro de 1971

Diário do Império - Wall Street, Manhattan versus the Ninth Ward, New Orleans

Republicanos ou democratas propõem 600 bilhões, 700 bilhões, 800 bilhões para salvar Wall Street do desastre em que se meteu a partir do momento em que teve total liberdade para fazer o dinheiro com mais dinheiro, sem produzir nada além de dívidas e consumo. E ai de quem faça qualquer objeção ou reparo. Enquanto isso em New Orleans, três anos depois da barragens se romperem por negligência com a chegada do furacão Katrina… as pessoas continuam morando em barracas, morando em trailers precários ou nem morando [há quem diga que 40% da população da cidade ainda não voltou, e provavelmente não vai votar nunca mais].

Langston Hughes - Dream Deferred

What happens to a dream deferred? Does it dry up like a raisin in the sun? Or fester like a sore-- And then run? Does it stink like rotten meat? Or crust and sugar over-- like a syrupy sweet? Maybe it just sags like a heavy load. Or does it explode?

Tradução, sacação, traição

Deu na Folha de São Paulo: Roberto Domênico Proença "traduziu" os contos de Voltaire - trocando uns detalhes aqui e outros dali de uma tradução antiga de Mário Quintana. A troca era pura crocodilagem - os erros contidos na tradução do poeta gaúcho continuaram. A Martin Claret, editora especializada em livros de bolso, publicou traduções igualmente plagiadas de "Os Irmãos Karamazov" e "A República". A primeira, assinada por Alexandre Boris Popov, é cópia de uma antiga versão da editora Vecchi. A tradução de "A República", assinada por Pietro Nassetti, é, na verdade, uma versão de Maria Helena da Rocha Pereira. Essa história de tradução requentada é antiga. Eu perdi o respeito intelectual por um grande poeta [que continuo respeitando muito como poeta] quando percebi que uma das suas "traduções" eram assim mesmo, muito entre aspas. As pessoas se fiam muito na ignorância geral da nação para fazer bonito, mas esse tipo de impostura prol

Línguas Ferinas - Borges y Bioy Casares

Estou lendo o mastodonte de mais de 1500 páginas com os trechos dos diários Adolfo Bioy Casares sobre Jorge Luis Borges. Como esperado, a fofoca maledicente corre solta no livro e confesso que às vezes me sinto até um pouco sem graça de estar compartilhando assim a intimidade embaraçosa dos dois. Um pequeno exemplo: Jueves, 25 de octubre [1956]. Borges me dice: “Le dieron el Premio Nobel a Juan Ramón Jiménez”. Bioy: “Qué vergüenza…”. Borges: “… para Estocolmo. Primero a Gabriela [Mistral], ahora a Juan Ramón. Son mejores para inventar a dinamita, que para dar premios”. [232] Outro exemplo: Sábado, 25 de mayo [1957] “Comentamos títulos absurdos. Recuerdo Libertad Bajo Palavra de Octavio Paz: ‘A continuación del título vigoroso, poemas deshilachados. Pero no agradables, no vayas a creer: en cuanto asoma la posibilidad del agrado, el poeta reacciona, no se deja ganar por blanduras, y nos asesta una vigorosa, o por lo menos, incómoda, fealdad. Así cree salvar su alma’.” [277] Mais um, agor

Poesia Mexicana - Xavier Villaurrutia

Xavier Villaurrutia [1903-1950] dá nome a um dos prêmios literários mais respeitados do México, é mais um dos poetas venerados no México mas pouco conhecidos for a dele [coisa que o Brasil e o México têm em comum]. O resto o poema abaixo explica. POESÍA Eres la compañía con quien hablo de pronto, a solas. Te forman las palabras que salen del silencio y del tanque de sueño en que me ahogo libre hasta despertar. Tu mano metálica endurece la prisa de mi mano y conduce la pluma que traza en el papel su litoral. Tu voz, hoz de eco es el rebote de mi voz en el muro, y en tu piel de espejo me estoy mirando mirarme por mil Argos, por mí largos segundos. Pero el menor ruido te ahuyenta y te veo salir por la puerta del libro o por el atlas del techo, por el tablero del piso, o la página del espejo, y me dejas sin más pulso ni voz y sin más cara, sin máscara como un hombre desnudo en medio de una calle de miradas.

Diário do Império - Get Out The Vote

Assisti ontem a uma palestra interessante em que os métodos “científicos” de pesquisas e campanhas eleitorais foram impiedosamente criticados como charlatanice pura. Donald Green, que deu a palestra, escreveu com Alan Gerber um livro sobre o assunto chamado Get Out the Vote - a ênfase num país em que o voto não é obrigatório é compreensivelmente fazer o máximo número de pessoas que apoiam seu candidato a sairem de casa e irem votar [ou votar pelo correio, coisa mais ou menos comum por aqui]. A eficiência de coisas como chamadas telefônicas eletrônicas, correio, e-mails, propagandas na TV é posta em dúvida por Greer. Quando comparados a grupos de controle os resultados são quase que invariavelmente pífios e os marqueteiros revelam-se como enganadores que fingem eficiência e precisão para poder vender mais do seu peixe. O que Green cita como fator capaz de influenciar as coisas em uma campanha? Um acompanhamento próximo com mais de uma visita pessoal ao provável eleitor [uma coisa cara

Clássicos da MPB

Chega de Boa Esperança, Minas Gerais, uma carta apaixonada de Nair Pimenta de Oliveira, pedindo fortografias para um álbum de recordações. Lamartine Babo se corresponde com a fã apaixonada por um ano, até que esta interrompe as cartas porque ia se casar. Tempos depois Lamartine é convidado para ir à Boa Esperança e quer conhecer a fã apaixonada. Mas não existia nenhuma Nair na cidade – quem lhe escrevia era o próprio homem que o convidara, um dentista colecionador de fotos de celebridades. Lamartine compôs então uma de suas mais belas canções, "Serra da Boa Esperança", interpretada em 1937 por Francisco Alves. Serra da Boa Esperança Serra da Boa Esperança, esperança que encerra No coração do Brasil um punhado de terra No coração de quem vai, no coração de quem vem Serra da Boa Esperança meu último bem Parto levando saudades, saudades deixando Murchas caídas na serra lá perto de Deus Oh minha serra eis a hora do adeus vou me embora Deixo a luz do olhar no teu luar Adeus Levo n

Onde o filho chora e a mãe não ouve - Primeira parte

A moça que limpava e arrumava a casa não vem mais e não há ninguém para reclamar de volta o que antes a natureza tomava e aparentemente deixava reconquistar, mas que agora, depois de dois meses, se entrega por completo: tufos de mato brotam das rachaduras do piso, musgo e mofo crescem pelos cantos das paredes e insetos de vários tamanhos e formatos atravessam cada vez menos aflitos distâncias cada vez maiores, fazendo e desfazendo a descoberto suas transações misteriosas. Tudo aqui parece indicar que a história não pára, mas nessa casa o tempo está curiosamente em suspensão: passado e futuro se acumulam em camadas sucessivas sobrepostas a um presente cada vez mais impreciso e obscuro. São 6 árvores ao todo, plantadas há muito tempo, perto demais umas das outras, amontoadas como que aleatoriamente no espaço exíguo do quintal, confinadas por muros altos que tentam esconder inutilmente três prédios imensos, dois deles colados na divisa do terreno, mastodontes de mais de 20 andares sem gar

Diário do Império - Obama nas alturas!

Ainda sobre a questão das expectativas sobre o Obama gostaria de chamar a atenção para um dado fundamental: a eleição de Obama vem acompanhada de uma vitória expressiva dos democratas no senado e na câmara. Isso é algo que nem FHC nem Lula tiveram e, pelo jeito, não tão cedo um presidente brasileiro terá. As limitações, as concessões, a "falta de agressividade" da agenda política de um presidente num processo democrático estão ligadas às relações dele com o congresso e muitas das frustrações causadas pelos últimos governos brasileiros estão ligadas a necessidade de trabalhar com congressos que representam em grande medida interesses inconfessáveis – mas precisamos não esquecer que esses são congressos legítimos, eleitos pelo voto livre. A democracia frustra algumas pessoas porque não entrega ao mandatário um poder desmesurado de fazer qualquer coisa que ele queira. Isso é fonte de frustração porque ainda esperamos que o presidente seja um imperador e decrete sumariamente o fi

Arte de Letícia Galizzi e poema de Paulo Moreira

Mash-up 4 – Robert Browning Ele fez essa carne de gente, essa bolha inflada, essa massa socada que engarrafa e gruda no chão da terra essa alma humana, bafo da boca dEle, vaporosa vertigem de cinza e nada. Ele faz aparecer nessa mesma massa de carne esses picos e rachaduras por onde esse vapor engenhoso, esse fogo esbelto, essa música delgada, essa coluna de silêncio puro, esse rio assombroso que se levanta do leito e flui pelos ares, que escapa assim de volta à fonte, sempre um pouco antes da hora. Isso e tudo mais nesse inferno que é o artesanato Seu aqui na terra me aparece assim: torcido e torneado com tinta que escorre da Sua boca e se condensa no papel jornal de um livrinho vagabundo jogado num canto cheio de entulho sobre-humano. Formigueiros crescendo dentro de uma caixa de ferro: Ele nos quer assim: sem caber dentro.

Diário do Império - Eleições 3

Obama ganhou e o mesmo tipo de esperança eufórica que aconteceu no Brasil com a primeira eleição de Lula se espalha pelos Estados Unidos. Mas aqui há uma diferença fundamental: o partido democrata tem agora uma maioria sólida no senado e na câmara. Mas também não custa lembrar que o democrata Lyndon Johnson [vice de Kennedy que o substituiu em 1963] ganhava com uma maioria ainda mais estrondosa do ultra-conservador Barry Goldwater, que ganhou apenas 6 estados. Acho que qualquer brasileiro sabe o que aconteceu em 1964 e como foi a atuação do governo americano. Um resumo do governo de Lyndon Johnson: consolidar a luta pelos direitos civis e o fim do apartheid americano em casa e Vietnã lá fora.

Diário do Império - Eleições 2

Meu filho de 7 anos "votou" hoje na escola, onde, ele me disse, Obama ganhou por larga margem. Eu não gosto de ficar falando de política com meu filho - nessa idade ele apenas repetem o que a gente diz sem muita reflexão e tento não ceder à vaidade de ver meu discurso político na boca de um menino de 7 anos, mas neutralidade tem seus limites. O debate "político" do Samuel aconteceu, portanto, na escola dele, e durante o fim de semana, enquanto a gente dava uma volta juntos - ele chupando um geladíssimo picolé do Homem Aranha numa tarde para mim gelada [menos de 10 graus], ele me explicou que ambos candidatos "tinham coisas ruins e coisas boas": que Obama queria a paz enquanto McCain queria guerra, mas que Obama "tirava dinheiro das pessoas e dava para o governo" e McCain não fazia isso. Ele me perguntou o que eu achava. Eu disse que não gostava de guerra e por isso preferia que o Obama ganhasse, mas que eu não podia votar porque era estrangeiro,

Diário do Império - Eleições

Eu cada vez mais gosto do sistema distrital de eleições - quem quiser ter uma idéia de como a coisa funciona pode conferir esse mapa muito interessante do New York Times, onde dá para ver estado a estado, distrito a distrito, como anda a briga entre democratas e republicanos: http://elections.nytimes.com/2008/congress/house.html Já o sistema de colégio eleitoral para eleição para presidente é uma bela porcaria. Todos os votos de um estado vão para um dos lados, não importando quantos votos o lado perdedor teve [perder com 49% ou com 2% dá quase na mesma]. Isso faz com que a eleição seja disputada basicamente onde as campanhas acham que têm chancer de ganhar [Flórida, Virgínia, etc] e bastante morna onde as coisas estão, de acordo com as pesquisas, resolvidas [ah, as pesquisas...]. http://elections.nytimes.com/2008/president/whos-ahead/key-states/map.html

Personagens Secundários Memoráveis - Goodhue Coldfield [e Rosa Coldfield]

He had closed his store permanently and was at home all day now. He and Miss Rosa lived in the back of the house, with the front door locked and the front shutters closed and fastened, and where, so the neighbors said, he spent the day behind one of the slightly opened blinds like a picquet on post, armed not with a musket but with the big family bible in which his and his sister's birth and his marriage and Ellen's birth and marriage and the birth of his two grandchildren and of Miss Rosa, and his wife's death (but not the marriage of the aunt; it was Miss Rosa who entered that, along with Ellen's death, on the day when she entered Mr. Coldfield's own and Charles Bon's and eve Sutpen's) had been duly entered in his neat clerk's hand, until a detachment of troops would pass: whereupon he would open the bible and declaim in a harsh voice even above the sound of the tramping feet, the passages of the old violent vindictive mysticism which he had already ma