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Showing posts from April, 2010

Alvoroço em Pindorama: a dança do defunto

[foto: dois acadêmicos brasileiros mascarados à beira de um confronto mortal sobre o defunto polêmico] Wilson Martins morreu. Um punhado de textos elogiosos sobre ele saíram em vários jornais. Flora Süssekind leu os tais textos e mandou bala em um artigo que, para os atuais parâmetros raquíticos do jornalismo brasileiro, é longo e pesado e contém pontos de vista bastante interessantes. Transcrevo aqui um trecho: "O que parece, no entanto, nostálgico, reativo, talvez não aponte exclusivamente para um período anterior à formação da crítica moderna no Brasil, mas para uma reprodução esvaziada de sentido, e desligada de vínculos efetivos com a experiência histórica, de comportamentos, práticas de escrita e certo culto à autodivulgação e à vida literária que parecem se expandir (em prêmios, concursos, revistas, blogs, antologias, bolsas de criação) em movimento inverso ao da restrição que se opera no campo da produção e da compreensão da literatura, ao da quase total desimportância de

Mais terremotos: "El día del derrumbe" de Juan Rulfo

Se nós não temos terremotos, temos governadores de montão... - Entonces fue allí ni más ni menos donde me agarró el temblor ese que les digo y cuando la tierra se pandeaba todita como si por dentro la estuvieran rebullendo. Bueno, unos pocos días después, porque me acuerdo que todavía estábamos apuntalando paredes, llegó el gobernador; venía a ver qué ayuda podía prestar con su presencia. Todos ustedes saben que nomás con que se presente el gobernador, con tal de que la gente lo mire, todo se queda arreglado. La cuestión está en que al menos venga a ver lo que sucede, y no que se esté, allá metido en su casa, nomás dando órdenes. En viniendo él, todo se arregla, y la gente, aunque se le haya caído la casa encima, queda muy contento con haberlo conocido.¿O no es así Melitón? -Eso que ni qué. -Bueno, como les estaba diciendo, en septiembre del año pasado, un poquito después de los temblores cayó por aquí el gobernador para ver como no

Diário da Babilônia: West Cove Studio

A Nova Inglaterra é cheia de fábricas abandonadas, algumas delas têm sido transformadas em escritórios e até condomínios. Essa virou um estudio de pintura que funciona como uma cooperativa de artistas [uma delas minha cara metade], com espaço para prensas e exposições. Para ver melhor, clique na foto ou no texto.

Prosa minha: O começo do fim de Eulâmpio Catabriga

O sol tinha acabado de nascer quando sentiu a dor pontual, aguda, intolerável. Quando logo em seguida o coração parou, parecia-lhe um alívio, uma oportunidade de escape, que durou só um instante. Agora a dor ainda era intensa mas era suportável. Passara num punhadinho de tempo do inferno da dor aguda para o purgatório da dor crônica: recostou-se no sofá do escritório e esperou paciente pela morte, que não veio. … Meu coração se agarra ao corpo. Cansado de bater na porta aberta, prepara-se para o salto, o relâmpago, o silêncio, o hiato. … A filha entrou sem bater, tinha as chaves da casa. O sol tinha acabado de se esconder atrás do telhado do vizinho. - Pai? Cadê você? Não conseguia responder. Esperou mudo, recostado feito um manequim desajeitado no sofá, até que ela chegasse ao escritório. - Oi, Pai, a Lydia me pediu pra – Pai? Tudo bem? Ele quer falar mas não consegue nem um sussurro. Acho que peguei no sono deitado de mau jeito, minha filha. Agora estou com um torcicolo que não consi

Recomendação - Quadrinhólatra

Para quem gosta de quadrinhos esse blogue de nome auto-explicativo é um prato cheio. O cara faz o papel, fundamental no mundo de hoje, de contrabandista cultural, divulgando um monte de coisas interessantes que acontecem por aí e não saem no Jornal Nacional nem no Fantástico. Recentemente colocou uma série de tiras do desenhista argentino Liniers, que vale a pena conhecer.

Ainda José Emilio Pacheco e o terremoto

12 Esta ciudad no tiene historia, sólo martirologio . El país del dolor, la capital del sufrimiento el centro deshecho del inmenso desastre interminable.

Cantinflas cruza a fronteira

O filme se chama Por mis pistolas de 1968 Trechos favoritos: Cantinflas: Además, no me grites si todavía no estoy en sus terrenos. Todavía no pasa uno y lo tratan de “sub-bajar” el individuo. Guarda: Bueno ¿Qué quiere? Cantinflas: Pos [pues], cómo “¿que quiero?”. Pasar al “over there”, al “other side”, you know. […] Cantinflas: Y además pa [para] que tantas preguntas si vengo a gastar mis “dolarianos”. Pos qué, que cree que somos braceros, o qué? […] Guarda: Estado civil? Cantinflas: Pos solterón, así, pues, así, listo para el enganche. ¿no tiene usted una hermanita, mister? […] Guarda: Quiere derrocar el gobierno de los Estados Unidos? Cantinflas: Ay! Mire… No sea payaso, hombre. Pos solamente que yo tubiera armas, y esas las acapararan ustedes… […] Cantinflas: Ay Fierabras [o nome do burro] y ya te pegaron garrapatos del otro lado. Y son güeros [louros], no más. […] Este es una ganzúa [faquinha para abrir cadeados] made in mexico hecha para abrir candados made in United States.

Diário de Pindorama - Chove chuva

[essas duas capas apareceram para mim, assim, no blogue catatau - deve ter alguma coisa na água de Curitiba, como é que sai tanta gente legal de lá? - que por sua vez as encontrou no blogue revista do zé pereira, que eu não conhecia.] O Brasil não tem furacões nem terremotos nem tsunamis (pelo por enquanto). Mas todos os anos, a partir da segunda metade de dezembro até o final de janeiro, chove muito, principalmente no sul e no sudeste. As mortes e perdas que essas chuvas causam todos os anos me parecem, na minha talvez inocente visão de um não-especialista em problemas urbanos, perfeitamente evitáveis, em sua maioria. Um problema de uma defesa civil atuante. Eu sei que prevenção e planejamento não são nosso forte, mas já melhoramos um pouco (sou um otimista). Diga-se de passagem que, em alguns lugares, essas mortes e perdas em larga escala já têm sido evitadas, mas nesse caso não aparece nada na imprensa. Não é notícia, não é mesmo? Dá para imaginar: “Choveu como o diabo por uma seman

Poema: Cuestión Bizantina de Max Aub

Pai alemão, mãe francesa, o espanhol Max Aub abraçou a República Espanhola [sem ele não haveria Guernica de Picasso] e por causa dela acabou num campo de concentração chamdo Djelfa, na Argélia, de 25 de dezembro de 1941 até julho de 1942. Dali saiu um livro de poemas, Diario de Djelfa , de onde vem esse poema. CUESTIÓN BIZANTINA Max Aub La playa ¿es orilla de la mar o de la tierra? Conseja bizantina. La orilla del bosque ¿es su límite o del llano borde? ¿Qué frontera separa lo tuyo de lo mío? ¿Quién acota la vida? ¿Vives hoy o mañana? Raíz, tallo, flor y fruto ¿dónde empiezan y acaban? El mantillo ¿es orillo del ramaje muerto, del renuevo o del retorcido helecho nuevo? Cuestión bizantina. Importa la orilla, dormir limpio en ella. (No somos tú y yo, sino el hilo impalpable que va de tu presencia a la mía.) Límites y fronteras se agostarán un día. Sin orillo ni orilla ¿qué más da de quién sean los cachones, la arena? La playa es orilla de la mar y de la tierra, nunca frontera: Nada separ

Pindorama e Babilônia, ou o lugar das idéias III

[Foto: Race Riot em Omaha, Nebraska em 1919] As bases dessa “febre” racista no coração da modernidade democrática liberal e vanguarda da modernidade capitalista? Uma receita muito conhecida no Brasil: uma pitada de Mendel, um bocado de Spencer, um pouquinho de Darwin e um galão de racismo. No Brasil as elites brancas se apavoram com as conseqüências de um sistema político em que a “gentalha” possa votar e, pior ainda, se candidatar. Nos Estados Unidos as elites brancas se apavoram com as hordas de imigrantes “escuros” que vão fazer da grande república redentora uma republiqueta latino-americana. É claro que essas idéias motivadas por ansiedades raciais, recebidas entusiasticamente na Alemanha não preciso nem dizer por que tipos, tinham seus opositores nos Estados Unidos (como no Brasil). Fitzgerald, por exemplo, inclui no Great Gatsby uma alusão satírica sobre o assunto quando Tom defende entusiasmado um livro chamado “The Rise of the Colored Empires”. Daisy ironiza o marido e diz: “T

Pindorama e Babilônia, ou o lugar das idéias II

II Em 1906 um comitê liderado por um biólogo da universidade de Stanford foi criado para estudar a “heditariedade humana” para definir “o valor do sangue superior e a ameaça que o sangue inferior representa para a sociedade”. Em 1909 a Califórnia criou sua lei de esterilização forçada dos "incapazes" [em poucos tempo, dois terços dos estados americanos teriam a sua]. Em 1916 Madison Grant publicou “The Passing of the Great Race; or, The Racial Basis of European History” que buscava demonstrar que “a raça nórdica” estava sendo superada por raças inferiores “dark-haired, dark-eyed” [no caso os “enxames” de judeus da Europa oriental, poloneses, italianos e “half-breeds” que chegavam aos milhões aos Estados Unidos naquele momento]. O livro advertia seus leitores que “democracy is fatal to progress when two races of unequal value live side by side”. Em 1918 “Applied Eugenics” foi publicado e tornou-se rapidamente o livro didático mais usado nas universidades americanas em cursos

Pindorama e Babilônia, ou o lugar das idéias I

I Eu acho que falar sobre a demonização do outro é bater em cachorro morto. Eu me preocupo com um outro fenômemo, tão freqüente quanto e muito menos óbvio que aquele: um olhar crítico aparentemente agudo sobre nós mesmos pode tornar-se profundamente míope simplesmente porque parte de uma generalização idealizada do outro. Chega de ser esotérico; vou dar um exemplo partindo de um lugar comum no pensamento crítico brasileiro: a idéia, ainda corrente no Brasil, de que o país entrava no século XX como um espaço arcaico investido de um discurso moderno, portanto como um país ainda dilacerado por uma contradição insolúvel entre a fascinação por idéias liberais modernas que não lhe pertenciam e o profundo arraigamento a uma estrutura social arcaica. Continuo amanhã, tentando mostrar que essa idéia pressupõe uma visão altamente idealizada da situação na Europa e dos Estados Unidos na mesma época.

Já que hoje é 14 de abril...

April, the 14th (Part I) When the iceberg hit, Oh they must have known, God moves on the water Like Casey Jones. So I walked downtown On my telephone, And took a lazy turn Through the redeye zone. It was a five-band bill, A two-dollar show. I saw the van out in front From Idaho, And the girl passed out In the backseat trash. There were no way they'd make Even a half a tank of gas. They looked sick and stoned And strangely dressed. No one showed From the local press. But I watched them walk Through the bottom land, And I wished that I played In a rock & roll band. Hey, hey, It was the fourteenth day of April. Well they closed it down, With the sails in rags. And I swept up the fags And the local mags. I threw the plastic cups In the plastic bags, And the cooks cleaned the kitchen With the staggers and the jags. Ruination day, And the sky was red. I went back to work, And back to bed. And the iceberg broke, And the Okies fled, And the Great Emancipator Took a bullet in the back o

Diário da Babilônia - Tonéx

Tonex [pronuncia-se Tôunei] é um cantor gospel americano. É uma tradição muito viva da música negra, que segue seu próprio circuito de shows e divulgação e que tem uma longa tradição de cantores maravilhosos – Mahalia Jackson, Al Green e Aretha Franklin só para dar três nomes. São muitos os casos de artistas do Gospel que se dividem entre o mundo da música “pagã” e da música cristã ou que vêm e vão de um universo ao outro – o pai de Tonex, por exemplo, tocou saxofone por um tempo com o “paganíssimo” James Brown. Bom, Tonex também pertence a uma longa tradição de cantores desse gospel negro que são, digamos assim, sexualmente ambíguos. O problema é que Tonex chegou ao ponto de declarar publicamente que ele é mesmo sexualmente ambíguo. Como eu não sou nem cristão nem homofóbico, tanto fez, tanto faz. Para ouvir uma sequência de músicas dele ver aqui . Um exemplo interessante da música dele com a letra, sincera e ambígua ao mesmo tempo, só consegui um daqueles "vídeos" do iutubi

Nocturno en la alcoba - Xavier Villaurrutia

La muerte toma siempre la forma de la alcoba que nos contiene. Es cóncava y oscura y tibia y silenciosa, se pliega en las cortinas en que anida la sombra, es dura en el espejo y tensa y congelada, profunda en las almohadas y, en las sábanas, blanca. Los dos sabemos que la muerte toma la forma de la alcoba, y que en la alcoba es el espacio frío que levanta entre los dos un muro, un cristal, un silencio. Entonces sólo yo sé que la muerte es el hueco que dejas en el lecho cuando de pronto y sin razón alguna te incorporas o te pones de pie. Y es el ruido de hojas calcinadas que hacen tus pies desnudos al hundirse en la alfombra. Y es el sudor que moja nuestros muslos que se abrazan y lucha y que, luego, se rinden. Y es la frase que dejas caer, interrumpida. Y la pregunta mía que no oyes, que no comprendes o que no respondes. Y el silencio que cae y te sepulta cuando velo tu sueño y lo interrogo. Y solo, sólo yo sé que

Burma Shave 3 - Tom Waits

Tom Waits é um personagem da Ópera do Malandro E é um compositor fantástico. Olha a história que ela conta a partir dos tais anúncios da Burma Shave: Burma Shave Licorice tattoo turned a gun metal blue scrawled across the shoulders of a dying town the one-eyed jacks [apelido do “valete” do baralho e, de acordo com Waits, carro com um farol queimado – um “jack é um burro] across the railroad tracks [área da cidade com gente pobre, barra pesada, do outro lado da linha do trem] and the scar on its belly pulled a stranger passing through he was a juvenile delinquent never learned how to behave but the cops would never think to look in Burma Shave. And the road was like a ribbon and the moon was like a bone. He didn't seem to be like any guy she'd ever known. He kinda looked like Farley Granger [ator de “Rope” de Hitchcock e “They live by Night”, predecessor de “Rebel Without a Cause”] with his hair slicked back. She say, “I'm a sucker for a fella in a cowboy hat. How far are y

Diário da Babilônia - Crise no Ensino

Trecho de artigo de Richard A. Greenwald no Chronicle of Higher Education sobre a crise nas humanidades nos EUA: "In his most recent essay on the topic, "The Big Lie About the 'Life of the Mind'" (February 8), he [Thomas H. Benton] states that more and more graduate students are from working- to lower-middle-class backgrounds. They were raised to believe that the more education they acquired the better they would fare in life. And yet a starting professor's salary in the humanities is barely lower-middle class. And far fewer than 50 percent of newly minted Ph.D.'s ever find such a job." Obs. Em inglês o conceito de Ciências Humanas como pensado no Brasil no ambiente acadêmico não é de uso corrente. Aqui as Ciências Humanas estariam divididas entre Ciências Sociais [social sciences] e humanidades [Humanities]. Eu particularmente prefiro a divisão brasileira, ainda que ela seja na maioria das vezes apenas um rótulo.

Poema meu: Hino à Bandeira

Hino à Bandeira Tell that its sculptor well those passions read Which yet survive, stamped on these lifeless things, “Ozymandias” Between the motion And the act Falls the shadow “The Hollow Men” O que vejo quando olho a bandeira pendurada no mastro da sua casa não são as fronteiras, as cicatrizes visíveis, tão óbvias e inapagáveis, de guerras, saques e conquistas. O que vejo aqui são forças sutis, misteriosas, antigas, impregnadas desde a partilha das relíquias de reis e santos, desde os banquetes dos Timbiras, desde o massacre dos Cananeus. O que vejo aqui são rios profundos, subterrâneos, água escura que sobe lenta as veias até nos turvar os olhos na frente embaçada do espelho do banheiro. São sombras projetadas pra dentro, que nos rasgam e costuram entre estranhos e estrangeiros e resistem aos vaivens do poder e do dinheiro. O que vejo aqui na minha frente são ventos que correm por dentro da boca, esfumando as velas dum catálogo de armas e barões assinalados, fantasmas antigos, invo

Burma Shave 2 - Clique na foto!

Burma Shave 1

Burma Shave era uma empresa que vendia creme de barbear nos Estados Unidos. Ficaram famosos quando a partir de 1925 até o começo dos anos 60 inventaram uma forma curiosa de anunciar seu produto nas estradas americanas: uma sequência de placas fazia um, eu diria sem hesitação, poema que sempre terminava com a logomarca do produto. Alguns são geniais: THE WOLF IS SHAVED SO NEAT AND TRIM RED RIDING HOOD IS CHASING HIM BURMA SHAVE No próximo post uma foto de outra sequência.