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Showing posts from December, 2010

Francella - Un día de furia

Conheci Francella no filme "El secreto de sus ojos" como companheiro alcoólatra do personagem de Darín, um papel apenas discretamente cômico. No iutubio a gente encontra um monte de sketches do programa de televisão que ele tinha e vários são sensacionais, bem melhores que os correspondentes brasileiros. "Un día de furia" é uma série que traz um tipo classe média cheio de boas intenções mas já desconfiado de que a farsa que é a paródia latino americana do mundo norte-americano, que já é uma farsa de eficiência e alegria em si mesmo, vai desmoronar. A farsa vai desmoronando, ele vai perdendo a cabeço e aí... Eis aqui um dos meus favoritos:

Prosa minha: vida de cachorro

Fim de conto, homenagem ao nosso querido, saudoso Totó: " Enquanto a companheira se prepara para fugir pela porta que abre, o velho cão em pele e osso recosta a cabeça pesada sobre as patas em cruz e cai num sono profundo embalado pelo zumbido dos carros lá fora. Sonha com um gato malhado de olhos amarelados repugnantes, um pombo arrogante cheio de penas eriçadas, deliciosos chinelinhos peludos e sua verdadeira querida dona, que no sonho tinha um pedaço de pão besuntado de manteiga e um osso sujo de sangue em cada mão e cheirava a laranja podre, a cigarro apagado, a benzina e água de colônia, a pipoca e lã, urina e sabão e bosta de cachorro e chamava com a voz doce de amor e alegria. fiu, fiu, totooó, vem cá lindinho vem ... E no sonho o cão e a dona saíam juntos pela rua, ele se deliciando com cada poste e cada canto cheio de cheiros bons e os vira-latas com os olhos queimando de inveja rosnando com o pêlo das costas arrepiados latindo seis pernas , meleca de coleira... e os doi

Umberto Eco sobre Wikileaks

"El primer aspecto de WikiLeaks es la confirmación del hecho de que cada dossier abierto por un servicio secreto (de cualquier país) está compuesto exclusivamente de recortes de prensa. Las “extraordinarias” revelaciones americanas sobre los hábitos sexuales de Berlusconi no hacen más que informar de lo que desde hace meses se puede leer en cualquier periódico (salvo aquellos cuyo propietario es Berlusconi), y el perfil siniestramente caricaturesco de Gadafi era desde hace tiempo un tema corriente entre los artistas de cabaret. La regla según la cual los dossiers secretos no deben contener más que noticias ya conocidas es esencial para la dinámica de los servicios secretos, y no únicamente los de este siglo. Si va usted a una librería consagrada a publicaciones esotéricas, verá que cada obra repite (sobre el Grial, el misterio de Rennes-le-Château, los Templarios o los Rosacruces) exactamente lo mismo que dicen las obras anteriores. No se trata únicamente de que el au

Recomendo: para quem gosta de Jane Austen com Curry

A indústria cinematográfica indiana tem, além de filmes em Hindi, filmes falados em Tamil, que são feitos no sul do país em Chennai , na província de Tamil Nadu . Lá fizeram um adaptação muito boa de Sense and Sensibility de Jane Austen, bem melhor que essa idéia esquisita de juntar zumbis e monstros aquáticos com Austen que emplacou por aqui . Kandukondain Kandukondain [em inglês "I have Found it"] tem sacadas geniais como fazer do coronel veterano da colonização na Índia ser um capitão do exército indiano que perde a perna na intervenção da Índia no conflito no Sri Lanka [quando os rebeldes falantes da língua Tamil foram combatidos pelos indianos]. Isso além da heroína cair num bueiro numa enxurrada e da música linda, principalmente quando a gente tem legendas para entender a letra:

Umberto D, ou sem medo de ser infeliz...

Esse filme de Vittorio de Sica foi violentamente rejeitado na Itália na época em que foi lançado. Era 1952 e as misérias da Itália ninguém mais queria ver. O final do filme está aqui. De Sica disse que ainda que tenha comido o pão que o diabo amassou com o fracasso do filme, não o mudaria em nada, exceto as crianças que aparecem no final. Uma interpretação tocante de um professor aposentado que foi abordado no meio da rua e convidado a fazer o filme. Carlo Battisti pediu para passar em casa antes de ir se encontrar com De Sica e, de tão nervoso, colocou duas gravatas. Assim ganhou o papel.

Reciclando de 2007 - Proque o tempo passa mas nem tanto

Recebi essa mensagem daquele tipo de dinossauro pré-blog e facebook que fica mandando email para deus e o mundo com piadas sem-graça, mensagens de anjos etc. Acho isso uma invasão desnecessária, principalmente hoje em dia. Minhas barbaridades eu escrevo aqui e só lê quem quer e não fico enfiando tudo pela caixa de correio de deus e o mundo. E as barbaridades que eu quero ler eu procuro na rede. Eis a mensagem, incluindo o repasse: Sent: Monday, 19 November, 2007 6:58:53 AM Subject: Assistencialismo - Absurdo! Amigos e Amigas, BOA SEMANA!!! Repassando... Fiquei INDIGNADO! REVOLTANTE!!! Mas, em cada cabeça uma sentença, já dizia nossos antigos... Abraços História do Zelador que pediu para ser demitido !!! Interessante e verídico! IRREAL para um PAIS como o BRASIL!!! IRREAL... partindo de um opositor ferrendo da POLÍTICA SOCIAL anterior... O zelador de um prédio em Natal/RN, pediu à administração do condomínio onde trabalhava que o demitissem. C

Da série rir para não chorar, ou uma interpretação otimista dos sinais ambíguos:

Todos os caminhos levam à Vitória (e a Niterói e Cabo Frio)! E descendo eu ainda passo também por Campos… E o fotógrafo Tomaz Solberg ainda teve a presença de espírito de tirar sua foto no meio de um temporal!

Perguntas. perguntas, perguntas...

"Quem aqui não teve uma namoradinha que precisou abortar? Meus amigos, vamos encarar a vida como ela é." Sergio Cabral, governador do Rio de Janeiro, ontem, durante evento com empresários via João Villaverde . Três perguntas: 1. Quando ele disse "namoradinha" se referia exatamente a que tipo de relacionamento? Qual é a diferença entre uma namorada e uma namoradinha? Seria o aborto um assunto de namoradinhos [ou de cinquentões nostálgicos]? Ou seria um assunto mais de namoradinhas? Seria também assunto de namoradas? As outras mulheres, que não são namoradas ou namoradinhas, não tem nada com o assunto? Será que a Igreja é tão contra a legalização do aborto porque nunca teve namoradinhas? Será que a Igreja nunca teve namoradinhas? 2. Parece que ele estava naquele momento falando a um público exclusivamente masculino. Por que não havia empresárias no evento? Se pelo menos 20% do público na sala onde a declaração foi feita fosse feminino, o governador d

Folha de São Paulo em busca do Leitor Médio

O colunista Antônio Cícero do seu blogue anuncia sua saída: “Embora eu tenha tido, na Folha, leitores fiéis e de grande qualidade, parece que a quantidade dos mesmos era menor do que a que convém a uma coluna da ‘Ilustrada’ de sábado. Em outras palavras, meus artigos eram considerados difíceis e/ou desinteressantes pelo leitor médio.” E no site da folha a nova colunista Fernanda Torres anuncia sua entrada no sábado: "Gosto de ciência, história, comportamento, literatura e arte, mas adoraria entender de física, matemática, filosofia, geologia, poesia...". "Não há nada mais duvidoso do que uma atriz que escreve. Vamos ver se tenho fôlego..." "Como atriz, jamais trabalhei pensando em um público alvo. Isso deve ser uma falha, quanto mais hoje em dia, quando ninguém dá um passo sem uma pesquisa de opinião" E o “novo” time de articulistas da Ilustrada fica assim: Luiz Felipe Pondé (segundas), João Pereira Coutinho (terças), Marcelo

Música que fez minha cabeça 2 – Camarón de la Isla

Eles eram um bando jovens nascidos na parte mais miserável no sul esturricado de uma pobre Espanha enterrada num pesadelo católico/fascista de trinta anos. E usavam roupas e penteados que pareciam do tempo da Jovem Guarda ou de algum ídolo brega brasileiro. E falavam com sotaque forte de pé rapado, comendo o Ss no fim das sílabas e os Ds dos particípios. E usavam só apelidos ao invés de nomes e sobrenomes: o cantor era um cigano, que por ser muito branquelo azedo tinha o apelido de “Camarão da Ilha” e era acompanhado por um filho de portuguesa conhecido como o “Paco [apelido de Francisco] da Luzia” e depois também por um outro cigano cabeludo conhecido apenas como Tomatito [Tomatinho]. Eu tinha uns 17 anos e quando Camarón de la Isla abria a boca para cantar “Como el agua” – mesmo numa fita K7 fuleira num gravadorzinho vagabundo – legiões de anjos e demônios da minha adolescência saíam voando pela sala. Como el agua Limpiaba el agua del rio como la estrella de la mañana, limp

Entre o México e o Brasil I - Pedras

Foto: Gabriel Orozco: Piedra que cede A educação pela pedra Uma educação pela pedra: por lições; para aprender da pedra, freqüentá-la; captar sua voz inenfática, impessoal (pela de dicção ela começa as aulas). A lição de moral, sua resistência fria ao que flui e a fluir, a ser maleada; a de economia, seu adensar-se compacta: lições de pedra (de fora para dentro, cartilha muda), para quem soletrá-la. Outra educação pela pedra: no Sertão (de dentro para fora, e pré-didática). No Sertão a pedra não sabe lecionar, e se lecionasse não ensinaria nada; lá não se aprende a pedra: lá a pedra, uma pedra de nascença, entranha a alma.

Moreira da Silva romântico

Entre as personagens fascinantes de Beatriz Kushnir está Estera Gladkowicer , mulher da vida que foi namorada de Moreira da Silva. Para Estera Moreira da Silva esqueceu o Kid Morengueira e cantou em 1937 uma romântica Judia Rara , feita em parceria com Jorge Faraj , um filho de libaneses, e Roberto Martins . Estera morreu em 1968 por overdose de barbitúricos. A rosa não se compara a essa judia rara criada no meu país rosa de amor sem espinhos diz que são meus carinhos e eu sou um homem feliz Os olhos dessa judia cheios de amor e poesia dorme o mistério da noite brilha o milagre do dia A sua boca vermelha é uma flor singular e meu desejo uma abelha em torno dela a bailar.

Contraste entre entrevistadores, além das intenções, em termos de competência

Não é absolutamente minha intenção comparar Nixon com José Dirceu, mas sim comparar um jornalista que se prepara de verdade para fazer um sujeito admitir algo que ele ainda insistia em negar numa entrevista e um bando de patetas que não fazem o mínimo em termos de preparação e ficam achando que um sujeito vai confessar alguma coisa só porque eles querem...

Recomendo: Baile de Máscaras de Beatriz Kushnir

O assunto é a história de associações beneficentes de auxílio mútuo das comunidades de prostitutas e cafetinas judias [as chamadas "Polacas"] no Rio de Janeiro e em São Paulo. Tráfico humano, uma namorada de Moreira da Silva, a origem hebraica da palavra "sacanagem", lutas pelo poder dentro da associação, a luta para a compra de terrenos para oferecer um cemitério judaico digno aos "impuros" e outras histórias fascinantes. A autora tem um blogue sobre o livro com fotos incríveis - e ela tem ainda outro livro de história, fundamental para entender o período dos anos de chumbo, Cães de Guarda .

"Los Señores del Narco" - Para quem continua vibrando com a "Guerra do RJ"

O México está em polvorosa com a sua Guerra do Narco. O parlamento calou-se com um livro bomba que parece que vai deixar qualquer wikileak sobre funcionários do governo mexicano implorando por ajuda americana e admitindo ter perdido o controle da situação no chinelo: "Los Señores del Narco" Me permiti uma tradução livre e adaptada de um trecho da entrevista: "Meu livro não é um livro que alente essa falsa idéia que [complete aqui, por exemplo, o nome dos últimos chefes traficantes presos no Rio de Janeiro] são homens intocáveis, que estão metidos no morro, fugindo da justiça porque são muito audazes, são muito inteligentes, são todo poderosos. Isso é falso. Como esses homens que muitas vezes sequer possuem uma educação primária são os “senhores do tráfico”? Os Senhores do Tráfico não são esses, ou não apenas eles, mas sim ilustres politicos, policiais, empresários, militares, gente que querem fazer crer que são muito respeitáveis. [complete aqui o nome dos últimos traf

Poema meu: Saudades da Aldeia desde New Haven

Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia, 
 que pertence a menos gente 
 mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
 foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
 a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.