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Showing posts from February, 2011

Melancolia do Futuro?

[Ilustração : Edvard Munch , Melancolia, 1891 ] “Chesterton escreveu certa vez que – ‘as melhores coisas não viajam’. Mas brevemente não haverá mais nada que não viaje. Pois se nós não podemos viajar, o mundo viaja para nós. Brevemente não haverá mais necessidade de viajar. Teremos o mundo inteiro ao alcance da mão. Em nosso quarto de estudo. Não apenas gutemberguizado, reduzido a pasta de papel e tinta de typographia, mas em sons e em imagens e quem sabe em tacto tambem. O mundo todo à mão. Sem nenhum esforço. Mais facilmente que na alegoria do “Mandarim”. E nesse dia o homem morrerá de inercia, por excesso de actividade." Trecho de “Melancolia da crítica” de Tristão de Atayde de 1930

Recordar é viver: a FSP e seus momentos marcantes lembrados e momentos marcantes esquecidos

[Ilustração: não, não é um flagrante da linda festa de comemoração dos 90 anos da Folha de São Paulo. É só um quadro de George Condo, pintor que, por incrível que pareça, nunca esteve na redação de qualquer jornal brasileiro e nem sequer em Brasília.] Trecho do discurso de Dilma Roussef no aniversário de 90 anos da Folha de S.Paulo: “Um homem que é referência para toda a imprensa brasileira. Octavio Frias de Oliveira foi um exemplo de jornalismo dinâmico e inovador. Trabalhador desde os 14 anos de idade, Octavio Frias transformou a Folha de S.Paulo em um dos jornais mais importantes do nosso país. E foi responsável por revolucionar a forma de se fazer jornalismo no nosso Brasil. Soube, por exemplo, levar o seu jornal a ocupar espaços decisivos em momentos marcantes da nossa história, como foi o caso da campanha das Diretas-Já.” Segue abaixo um exemplo cabal dessas posições decisivas tomadas pelo jornal em momentos marcantes da nossa história. Trata

Sobre escritores 6

"One day, out of the blue, the memory of my long dead grandfather comes to me. My eyes grow moist seeing him in the last year of his life limping around the yard on his wooden leg throwing some corn to the chickens. I recall the mutt he had then, and I put him in a poem. There’s even a rusty old truck in the yard. The sun is setting while my grandmother is fussing over the stove and my grandfather is sitting at the kitchen table thinking about the vagaries of his life, the stupidity of the coach of the local soccer team and the smell of bean soup on the stove. I like what I got down on paper so far and fall asleep that night convinced I have a poem in the making. The next day I’m not so sure. The sunset is too poetic, the depiction of my grandparents is too sentimental, and so much of it has to go. Weeks later—since I can’t stop tinkering with the poem—I arrive at the conclusion that the old dog lying in the yard surrounded by the pecking chickens and the rooster is what I li

E agora, José? – Parte 2 ou “no hay pregunta prohibida; todo se puede preguntar”

Carmen Aristegui se manifestou sobre sua demissão, defendendo seus empregadores e recontando a história toda com direito a citações sobre Clinton, Dilma e Berlusconi: Aproveito para observar: como é saboroso para um falante de português esse idioma nosso primo que os mexicanos manejam como ninguém. “Pulcritud”, por exemplo, é uma palavra deveras maravilhosa e expressões como “buscamos un camino sin claudicar” ou “hecho ominoso” são, para mim, deliciosas... Bom, o fato é que Aristegui toca o dedo na ferida quando diz que o tema verdadeiro é o duopólio que impera nos meios de comunicação do México, já que sem liberdade de expressão verdadeira, não há democracia realmente plena. Aqui está a segunda parte da cacetada, com o assunto das concessões negadads ou facilitadas, “telebancadas” no congresso, candidatos pré-fabricados em estúdios de jornal e coisa e tal – mas peraí: isso é no México mesmo ou no Brasil?. Bem, agora acaba de chegar a notícia que Aristegui vo

Extra!

[Ilustração: capa da agência de notícias do Estadão...] Extra! Estado de São Paulo - aquele vetusto jornal que costuma dizer aos seus leitores que blogues independentes não são confiáveis como ele - cita "reportagem" do National Enquirer ! National Enquirer [minha leitura predileta na fila do caixa do supermercado] é um tablóide, digamos assim, humorístico, cheio de notícias estapafúrdias e escandalosas com gente famosa. Seguindo tão eminente fonte, daqui há pouco vai dar no Estadão: "Lex Luthor Returns!", "Gaga-Madonna War Erupts!" ou então "Why Obama is Scary Skinny?" [todas manchetes tiradas hoje do site do National Enquirer]

Começo de "O arquivo" de Victor Giudice

[Imagem: Elote Clasificado de Damián Ortega] No fim de um ano de trabalho, joão obteve uma redução de quinze por cento em seus vencimentos. joão era moço. Aquele era seu primeiro emprego. Não se mostrou orgulhoso, embora tenha sido um dos poucos contemplados. Afinal, esforçara-se. Não tivera uma só falta ou atraso. Limitou-se a sorrir, a agradecer ao chefe. No dia seguinte, mudou-se para um quarto mais distante do centro da cidade. Com o salário reduzido, podia pagar um aluguel menor. Passou a tomar duas conduções para chegar ao trabalho. No entanto, estava satisfeito. Acordava mais cedo, e isto parecia aumentar-lhe a disposição. Dois anos mais tarde, veio outra recompensa. O chefe chamou-o e lhe comunicou o segundo corte salarial. Dessa vez, a empresa atravessava um período excelente. A redução foi um pouco maior: dezessete por cento. Novos sorrisos, novos agradecimentos, nova mudança.
[Imagen: George Condo, “Brown abstract dog”, 1989. Mais de Condo, inclusive uma reprodução maior desse quadro, você encontra aqui .] Cantiga de Malazarte Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo, ando debaixo da pele e sacudo os sonhos. Não desprezo nada que tenha visto, todas as coisas se gravam pra sempre na minha cachola. Toco nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos, destelho as casas penduradas na terra, tiro os cheiros dos corpos das meninas sonhando. Desloco as consciências, a rua estala com os meus passos, e ando nos quatro cantos da vida. Consolo o herói vagabundo, glorifico o soldado vencido, não posso amar ninguém porque sou o amor, tenho me surpreendido a cumprimentar os gatos e a pedir desculpas ao mendigo. Sou o espírito que assiste à Criação e que bole em todas as almas que encontra. Múltiplo, desarticulado, longe como o diabo. Nada me fixa nos caminhos do mundo. Poemas , 1925-1929 fonte: http:/

E agora, José? - Parte 1

Um partido de esquerda mexicano [não o principal, o PRD, mas um partido menor chamdo PT] criou celeuma no congresso mexicano com um cartaz gigante que eles levaram em conjunto até a tribuna com alusões a um possível alcoolismo do presidente Felipe Calderón. Após reportagem sobre o acontecido, a comentarista, Carmen Aristegui, comentou o fato - a meu ver de forma respeitosa - e pediu que o governo se manifestasse sobre os boatos de que Calderón seria ou não alcoólatra. Resultado: por pressão do governo Aristegui foi sumariamente demitida do seu posto, e deu há pouco declaração contundente sobre o assunto. No Brasil muitas pessoas têm dois pesos e duas medidas quando essas coisas acontecem. Quando se trata de um político de que o sujeito gosta, ele diz que trata-se de deslealdade, de fofoca, de golpe baixo, moralismo barato etc; quando se trata de um político de que o sujeito não gosta, o cara passa a fofoca para frente, dá risada, faz piada, chama de pinguço, faz musiquinha e coisa e t

Poesia Mexicana - Alfonso Reyes

[Foto de Halley de Pacheco mostrando Xochipilli, deusa das flores, presente de Alfonso Reyes ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro, cujo jardim de cactus mexicanos contou com contribuições do poeta-diplomata mexicano também.] El-Rey Don Juan VI trajo [O Rey Dom João VI trouxe] una palmera de Cuba. [uma palmeira de Cuba.] Para besarle los pies [Para beijar-lhe o pés] todas las plantas se juntan. [ todas as as plantam se juntam.] De los indianos lanceros [Dos indianos lanceiros] –al cielo el morrión de pluma– [–ao céu o seu gorro de pluma–] las guardias trazan la senda,

Sobre escritores 5

[Imagem: Lisboa, Avenida Fontes P. de Melo, grafite do projeto Crono , foto do facebook de ablak - zsiráf, dica da Ildiko] No conto "Recortes de Prensa" de Julio Cortázar, a narradora Noemi visita um escultor que quer que ela escreva um texto para o catálogo de sua exposição. Os dois são exilados argentinos em Paris. Ela traz um recorte de jornal que recebeu de um amigo e pede ao escultor que leia o terrível relato [verdadeiro, tirado de carta a um jornal mexicano] de uma família dizimada barbaramente pela ditadura argentina. Quando termina o relato o seguinte diálogo acontece: “—Ya ves, todo esto no sirve de nada —dijo el escultor, barriendo el aire con un brazo tendido—. No sirve de nada, Noemí, yo me paso meses haciendo estas mierdas, vos escribís libros, esa mujer denuncia atrocidades, vamos a congresos y a mesas redondas para protestar, casi llegamos a creer que las cosas están cambiando, y entonces te bastan dos minutos de lectura para comprender de

Konder, Marx e o Mistério

O que se poderia recuperar nessa releitura de Marx, e como isso seria diferente das leituras predominantes feitas ao longo do século XX? KONDER: A noção de que o real é inesgotável, irredutível ao conhecimento crítico, dialético, que ele tem sempre algo a nos dizer que não entendemos ainda. Isso contrasta com o tipo de análise que você encontra, por exemplo, em muitos historiadores marxistas. Existem alguns bons historiadores marxistas, mas há vários que são incapazes de se surpreender com os acontecimentos — adotam sempre um mesmo tom conclusivo, como se tudo que acontece pudesse ser previsto de antemão. O resto da entrevista está aqui .