Skip to main content

Posts

Showing posts from March, 2011

Retalhos costurados: Os dinossauros não estão extintos

[ilustração: essa cena reproduz o momento em que o Tiranossauro Bolsonaro, enfurecido com os filhos que acabavam de chegar na madrugada da terça-feira de carnaval vindos do baile do orgulho gay-afro-cubano, perseguia os filhos para dar-lhes uma chuva de torturas terapeuticas.] Reagir com indignação aos três patetas do apocalipse da família Bolsonaro é, na minha opinião, bater em cachorro morto. Reagir com espanto é fruto de ingenuidade ou ignorância. Reagir com ironia, portanto, foi meu primeiro instinto: Está lançada a campanha "Ajude os Bolsonaros a Soltar a Franga e Sair da Lama": alguém aí conhece um cubano socialista, negro, gay e com espírito cívico suficiente para se animar a dar um bom abraço fraterno nesses três patetas do apocalipse? O planeta terra, o Brasil e principalmente o Rio de Janeiro de São Sebastião Maia agradecem. Mas também não acho que seja adequado ficar fingindo que os dinossauros agora são mais ou menos inofensi

A "renovação" faz 45 anos e Glauber Rocha estava lá

Cada vez que chega as eleições no Brasil os piores candidatos ficam falando que são o "novo" e que querem "renovar". Bem nada mais velho que esse papo de novo. Exemplifico através de um filme que conheci em um dos blogues mais interessantes que eu conheço : há 45 anos esse tal "novo" tinha chegado ao poder no governo do Maranhão e para documentar seu triunfo com estilo decidiu chamar ninguém menos que um já consagrado Glauber Rocha para documentar a posse. O resultado é profético:

Diário de Pindorama

[ilustração: Após mudar seu penteado para tentar fugir do ódio popular depois de ter sido flagrada trocando poemas alheios por dinheiro público, vemos aqui foto de Maria Bethânia para a sua ficha na polícia cultural. Notem, por favor, o olhar altaneiro e desafiante da vilã.] Nossa visão de nós mesmos é paradoxal. Gostamos de pensar que somos gentis e afáveis mas também sabemos que nos matamos diariamente uns aos outros como se estivéssemos em plena guerra civil. Da mesma forma, gostamos de pensar que somos uma sociedade tolerante mas, de tempos em tempos, escolhemos um bode expiatório para saciar nossa sede de indignação hipócrita e o ódio então parece uma espécie de esporte nacional. Um exemplo: A deputada que dança quando um companheiro de partido é absolvido depois de um escândalo vira capa de revista e de jornal e objeto central do aparente ódio nacional à corrupção [e eis aí mais um paradoxo: como é que podemos ser tão corruptos e odiar tanto a corrupção?]. De repent

Deep Undercurrents 1

Song of Alice She was the ... the patron saint of 23 rd Street. She was around for a lot of time, she ...
wandering around the hotel hallways in the middle of the night, carrying a little ... yellow cardboard box.
 And she... inhabited the place, like a ... butterfly. There was this kind of sadness about her and they...
and she did have this light...
and nobody ever knew her real name. Those times, I see her coming on a,
stepping through broken bottles and gum, carrying her shoes, barefoot.
People said she was crazy, but I ...
 About six months before the fire, there was a ... big blackout, famous summer blackout.
She walked around through the halls, giving everyone candles.
Scared everybody away in the end.
And when the fire happened, you know,
everybody assumed it was her. Terrible fires all that year and little ones.
I don't know if it was fair or not,
but everybody blamed her for it.

 And then one day, she ... she just vanished. And later, they

Convite em Ladino

La Sosiedad de Estudios Kripto-Judios (Society for Crypto-Judaic Studies) va tener su 21en kongreso del 7 a 9 Agusto en San Diego, California. Envitan a partisipantes ke keren dar konferensia sovre kualker tema relasionado kon kripto-judaismo, ansi ke aspektos de la istoria i vida sefaradi. Todo el ke kere partisipar kon una "ponensia" (konferensia, diskorso) es envitado de mandar un resume de 200 biervos de su ensayo, antes del 1 Mayo 2011, a Seth Ward (prof. Religious Studies, University of Wyoming) : sward@uwyo.edu

Primavera em New Haven

[Ilustração: quando se sente sozinho por essas bandas glaciais, o alegre cidadão ao lado pode sempre bater um papo bem humorado com suas roupas congeladas.] E finalmente chegou a primavera na Nova Inglaterra: 2ºC e neve com chuva lá fora... Acho que só mesmo quem já passou um ano inteiro num lugar com clima temperado sabe o que é esperar pela primavera em março. Ou quem lê esse blogueiro de 1/2 tigela. Outro dia li num blogue brasileiro uma pessoa falando [e várias comentando] indignadamente sobre como os americanos estúpidos e desperdiçados não põem as suas roupas para secar num varal e ficam usando secadoras de roupas que consomem energia e me dei conta que aprendi coisas sobre as quais a maioria dos meus compatriotas não tem a menor idéia. Onde eu vivo, se você pendurar uma cueca num varal do lado de fora da casa entre outubro e abril, você pode jogar disco com sua cueca depois, mas se você chegar perto da praia de outubro a abril você tem que estar usando umas duzentas camadas de

Prosa minha: Ano da Fumaça

Há coisas que estão aí mas a gente não vê; só cogita na existência delas quando o destino faz um movimento mais brusco e nos dá um tranco. Sem aviso nem explicação, o tranco nos obriga a mover e assim deita a rodar a roda da história. Ali as opções são três: tentar fugir, tentar se matar ou, na falta de talento, força ou coragem, viver no fogo lento daquele inferno. Mas essa clareza eu só tive mesmo quando vi aquela cara rasgada, a cabeça rachada em gomos feito uma fruta amassada soltando um caldo grosso que empapava o chão. Mesmo que agora o Ano da Fumaça esteja num canto cada menos visitado da memória, me lembro ter sentido naquela hora exatamente o que sinto agora: nojo e medo mas também uma forma de êxtase, uma felicidade cristalina, difícil de explicar. Ali naquele momento eu não apenas entendi o que eu era e quais eram as minhas opções; eu também saí de um estupor de anos e a covardia já não era mais capaz de me paralisar. Ainda em choque eu cheguei mais perto e dei com a minh

Música que fez minha cabeça: Waterboys

Fisherman’s Blues Mike Scott I wish I was a fisherman tumbling on the seas far away from dry land and its bitter memories casting out my sweet line with abandonment and love no ceiling bearing down on me save the starry sky above with light in my head with you in my arms... I wish I was the brakeman on a hurtling fevered train crashing head long into the heartland like a cannon in the rain with the feeling of the sleepers and the burning of the coal counting the towns flashing by and a night that's full of soul with light in my head with you in my arms... And I know I will be loosened from the bonds that hold me fast and the chains all around me will fall away at last and on that grand and fateful day I will take thee in my hand I will ride on a train I will be the fisherman With light in my head You in my arms... Light in my head You in my arms... Light in my head You... With light in my head You in my arms... O nome da banda eu acho péssimo, mas esse disco do

Música: Yasmin Levy

O ladino é uma língua em vias de extinção. Era o iídiche dos judeus da península ibérica e a expulsão dos judeus no mesmo ano em que Colombo zarpava rumo às "Índias" espalhou a língua por outras partes do mediterrâneo. O ladino é um primo nosso, uma língua mais próxima de nós do que nossa visão simplista de Iracemas e Caramurus indica. Era provavelmente a língua de muita gente boa e ruim que chegou aqui no período colonial. Tal era a porcentagem de judeus entre os portugueses que na América espanhola os sobrenomes portugueses eram quase sinônimo de "sangue impuro". Yasmin Levy nasceu em Israel e faz aqui uma versão contemporânea de um hino tradicional em ladino. Irme kero Irme kero, madre, a yerushlayim [yerushlayim: Jerusalém] komer de sus frutos, bever de sus aguas Refrão: En el me arrimo yo [arrimar: apoyar] i en el m'afalago yo

Reciclar o Lixo Literário?

[Foto: Jardim Gramacho de livro de Marcos Prado] “Sem espaço para a crítica, criou-se uma espécie de não literatura dentro da literatura. Há muito lixo. E quem vai selecionar isso? Quem se interessa em editar isso? A voz do crítico perdeu ressonância. O papel dele era refletir sobre o texto e levá-lo ao conhecimento dos outros, gerando discussão. Agora, não há mais ninguém para ordenar esse diálogo.” Benedito Nunes, citação de artigo na revista Cult.

Poesia Minha - Divertimento

[Ilustração: still do filme Alma do osso de Cao Guimarães] Pai e mãe é muito bom Barriga cheia é mió: Quem tem barriga cheia Tem pai, tem mãe, tem vó. Canção do Rio São Francisco Quando eu era criança toda a criança queria crescer e não ser criança pra poder nadar no rio o dia inteiro, em paz. Quando eu era criança, na outra margem do rio os moleques se gabavam do preço que eu não tinha quando eu era criança. Quando eu era criança, n’água morna da beirinha, puxando ronco, brincando, caçando piabas e girinos, moles, soltos toda-a-vida. Quando eu era criança, coisas velhas, esquecidas, teimam em não se apagar: O homem da rua saiu quando eu era criança. Valham-me as nove almas, saiu o Não-sei-que-diga! Três morreram enforcadas! Eh-vem o cão-coxo, mofino! Outras três foram queimadas! Quando eu era criança saiu de mim meu moinho. Três morreram afogadas! Nove almas na farinha do pão que ele ama

Sobre escritores 7

"Chekhov was never confortable as a playwright. 'Ah, why have I written plays and not stories!' he wrote to Suvorin in 1896. 'Subjetcs have been wasted, wasted to no purpose, scandalously and unproductively.'" [...] “I am not destined to be a playwright. I have no luck at it. But I’m not sad over it, for I can still go on writing stories. In that sphere I feel at home; but when I write a play, I feel uneasy, as though someone were peering over my shoulder.” [ Reading Chekhov - A Critical Journey , Janet Malcolm , 170] Escrever para teatro não é fundamentalmente diferente, mas exacerba a questão da recepção na cabeça de quem escreve, já que no teatro essa recepção é um fantasma que no dia da estréia torna uma forma concreta, de carne e osso, direta e imediata. O público teatral não é uma abstração como "o leitor". Ele se levanta e vai embora ou cochila na cadeira ou começa a conversar ou não ri nos momentos engraçados ou não apl

Alalaô on the Rocks 3 - Carnaval em Vera Cruz

[Ilustração: George Condo documenta foliões performáticos durante pausa para café e cigarro na concentração da Sapucaí.] " Con grandes dificultades llegó a la esquina elegida. El calor y el estruendo informe, la promiscua continuidad de tantos extraños le provocaba un malestar confuso. Entre aplausos apareció la descubierta de charros y chinas poblanas. Bajo gritos y música desfiló la comparsa inicial: los jotos vestidos de pavos reales. Siguieron mulatos disfrazados de vikingos, guerreros aztecas y penachos de rumbera. Desfilaron cavernarios, kukluzklanes, la corte de Luis XV con sus blancas pelucas entalcadas y sus falsos lunares, Blancanieves y los Siete Enanos (Adelina sentía que la empujaban y las manoseaban), Barbazul en plena tortura y asesinato de sus mujeres, Maximiliano y Carlota en Chapultepec, pieles rojas, caníbales teñidos de betún y adornados con huesos humanos (la transpiración humedecía su espalda), Romeo y Julieta en el balcón de Verona, Hitler y su

Alalaô on The Rocks 2 - Direto da Sapucaí Digital

[Ilustração: George Condo retrata flagrante de famosos do camarote da cerveja Zumbi.] Nervosa, a ex-BBB fuma um cigarro e pergunta para seu assessor: “Como está a bunda?”. E ele: “Perfeita como sempre”. Parte de "reportagem" sobre os "bastidores" da Sapucaí no Uol .

Em clima de Alalaô no gelo: Livros e Calcinhas?

Sexta de carnaval. Meu termômetro marca 4 graus positivos, mas ainda são três da tarde... Amanhã na Inglaterra vão comemorar uma "Noite dos Livros" e na primeira página do site do The Guardian tem uma matéria interessante com sugestões de escritores sobre o que dar, inclusive com dicas de livros infantis. Enquanto isso a Inglaterra também aparece hoje com destaque na primeira página do site do "Estrago de Minas": "Mais de 150 calcinhas são doadas para carnaval feminista na Inglaterra" . É como diz aquela velha canção: "quem te conhece não esquece jamais, ó Minas Gerais..."

Razões de Estado 2

“Debemos aceptar como una realidad que en la Argentina hay personas desaparecidas. El problema no está en asegurar o negar esa realidad, sino en saber las razones por las cuales estas personas han desaparecido. Hay varias razones esenciales: han desaparecido por pasar a la clandestinidad y sumarse a la subversión; han desaparecido porque la subversión las eliminó por considerarlas traidoras a su causa; han desaparecido porque en un enfrentamiento, donde ha habido incendios y explosiones, el cadáver fue mutilado hasta resultar irreconocible. Y acepto que puede haber desaparecidos por excesos cometidos durante la represión. Esta es nuestra responsabilidad; las otras alternativas no las gobernamos nosotros. Y es de esta última de la que nos hacemos responsables: el gobierno ha puesto su mayor empeño para evitar que esos casos puedan repetirse.” Videla, 14 de setembro de 1977 Los dinosaurios – Charly García Los amigos del barrio pueden desaparecer Los cantores de

Razões de Estado 1

“No, no se podía fusilar. Pongamos un número, pongamos cinco mil. La sociedad argentina, cambiante, traicionera, no se hubiere bancado los fusilamientos: ayer dos en Buenos Aires, hoy seis en Córdoba, mañana cuatro en Rosario, y así hasta cinco mil, 10 mil, 30 mil. No había otra manera. Había que desaparecerlos. Es lo que enseñaban los manuales de la represión en Argelia, en Vietnam. Estuvimos todos de acuerdo. ¿Dar a conocer dónde están los restos? Pero ¿qué es lo que podíamos señalar? ¿El mar, el Río de la Plata, el Riachuelo? Se pensó, en su momento, dar a conocer las listas. Pero luego se planteó: si se dan por muertos, enseguida vienen las preguntas que no se pueden responder: quién mató, dónde, cómo.” General Videla, Argentina " No más que los esperábamos, cada uno tenía su fecha y su hora, pero eso sí, sin apuro, fumando despacio, de cuando en cuando el negro López venía con café y entonces dejábamos de trabajar y comentábamos las novedades, casi si