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Showing posts from July, 2011

Keren Ann - I'm not going anywhere

Keren Ann: “Time will rise and fall along the bay And I’m not going anywhere I’m not going anywhere People come and go and walk away But I’m not going anywhere I’m not going anywhere” [Essa é para aqueles que se preocupam com a recente transformação do "Às moscas" em "Às traças"...

Diário de Curitiba 3

Imagem: gravura de Poty com as araucárias que são símbolo da cidade e [oh incorrigível narcisismo!] do jardim no quintal da nossa casa na Serra em Belo Horizonte. 1. New Haven aparece no noticiário da TV sobre onda de calor nos EUA! A imagem mostra a ponte sobre o Quinnipiac em Fair Haven que o locutor diz que foi fechada por causa da dilatação da estrutura de ferro! Em Curitiba aproveito um dia morno e chuvoso [compro um guarda-chuva nas Lojas Americanas no caminho para o congresso] teima em contrariar a imagem de “capital mais fria do Brasil”. 2. De novo: travar um primeiro contato com uma cidade desconhecida é resistir à tentação de ler em tudo o que acontece significados além daquela experiência banal: um vendedor bem educado vira exemplo de uma cidade cordata; um mendigo no centro demonstra indiferência com a desigualdade social; pai e filho conversando em japonês indicam uma colônia japonesa que preserva sua identidade; um engarrafam

Diário de Curitiba 2

1. Em minhas incansáveis [bom, na verdade estou exausto] andanças pelo centro de Curitiba, trombei com uma exposição excelente de Debret no Centro Cultural da Caixa Econômica. Uma gentil funcionária da caixa me deu um catálogo da mostra quando eu tentei tirar fotos desses e outros tropeiros [ou eu ando dando muita sorte ou as pessoas em Curitibas são de uma gentileza impressionante]. 2. Nunca vi uma fila tão grande numa caixa de supermercado. Ia comprar umas maçãs e depois de uns quinze minutos, longe ainda de ser atendido, acabei desistindo. 3. Fui tomar um café no mercado: limpo, cheiroso e arrumado. Descobri um tal "café mineiro" com doce de leite que me deu idéia da nossa fama de comedores ou fabricantes de bom doce de leite, mas preferi o café normal mesmo. Esqueci meu casaco por lá - prova de que o terrível frio curitibano ainda não deu as caras. Mas sinceramente quem vive onde eu vivo não pode ter medo de frio no Brasil... 4. Descobri que não consigo entender uma coisa

Diário de Curitiba

1. A gente fica tentado a interpretar o que vê, mas de que vale um passeio cego pelo centro num par de horas? Gosto das calçadas de pedra portuguesa, dos prédios e casas mais ou menos antigos que não foram demolidos e estão bem cuidados, das ruas para pedestres, das pracinhas de interior, da gente na rua, dos velhos confabulando como na antiga praça 7, do português cantado e dos erres a maneira do Sul de Minas. 2. Minha Curitiba é uma sombra de Belo Horizonte: coisas iguais, coisas parecidas, coisas diferentes. Se Belo Horizonte tivesse tido um prefeito muito bom desde os anos 70, a cidade poderia ter um centro tão aprazível e bonito. Apesar disso o tom menor, de uma cidade que vive para si mesma e se esconde um pouco dos turistas vale para cá também, pelo menos nessa primeira caminhada no centro. Curitiba, como Belo Horizonte, não se entrega de bandeja ao turista acostumado a cidades turísticas que vivem de encantar visitantes. 3. Entro numa livraria - péssima - mas qual a probabilida

Poesia Minha - Browning e o Mundo

BROWNING E O MUNDO A tap at the pane, the quick sharp scratch And blue spurt of a lighted match, And a voice less loud, thro' its joys and fears, Than the two hearts beating each to each! ELE fez da gente essa carne salgada, essa bolha inflada, a massa socada que gruda e engarrafa ao chão a alma amarga, esse bafo ínfimo, vertigem de cinza e de nada. Mas também traçou com engenho e arte nessa mesma massa os picos e rachas por onde escapa esse fino vapor engenhoso, esse fogo esbelto, essa música delgada, essa coluna de silêncio puro, esse doce rio quente, assombroso que se levanta do leito e flui pelos ares. Corpo, alma e orgasmo: eis o Seu artesanato. Formigueiro que cresce na caixa de ferro soldada até não caber.

Definição de literatura, ou o diabo mora nos adjetivos

Leyla Perrone-Moyses disfarça mas acaba tentando definir literatura na Folha de São Paulo no último Domingo: "... textos escritos numa linguagem particular, que interrogam e desvendam o homem e o mundo de maneira aprofundada, complexa, surpreendente." Bom, o diabo mora mesmo é nos adjetivos. Resta saber - para começar - o que significa exatamente "particular". Depois vamos a "aprofundado", "complexo" e "surpreendente"... Se a literatura morreu ou está morrendo, deve ser uma daquelas intermináveis mortes de melodrama, quando o personagem do pai honesto mas pobre fazia um longo monólogo no leito de morte enquanto a mocinha segurava a sua mão e sutentava sua cabeça. A melhor parte da "Ilustríssima" (que devia chamar-se mesmo "Caderno Magérrimo") foi o (particular, aprofundado, complexo e surpreendente?) poema de Ana Martins Marques, "O relógio" . Não fosse essa última página, eu diria que quem está a beira de

Poesia Minha - LUNA PARK

Escrever poesia para mim é ficar sempre balançando entre fragmentação e coesão. Um exemplo: escrevi há tempos um poema chamado LUNA PARK, que era assim: Mash-up: LUNA PARK Nací cuando del sollozo del último siglo, No se oía ni un solo eco Luis Cardoza y Aragón O soluço do último século abriu a fenda onde passaram galopando as montanhas. O século seguinte ofereceu a Dom Quixote um aeroplano, lastre lançado ao passado. Do trigo dos campos de batalha um grão de loucura germinou nas minhas entranhas. O rio suicida me piscou um olho; sua suave sonolenta corrente noturna não quer os barcos que singram, fumando, pacientes, sobre trilhos, no mar. Nesse bosque de chaminés fumantes escuto o músculo obediente, fiel, sonoro, da máquina, construindo castelos no ar. Para as vidas sublinhadas em vermelho pela guerra o choro veste os rostos com caretas de máscaras de clown: o futuro é um feto que não vem.

Uma guerra neo-liberal: TCNs, ou uma nova legião estrangeira de civis

Em dez anos mais de dois mil civis contratados - muitos deles estrangeiros contratados de forma ilegal em países de terceiro-mundo por empresas de recursos humanos que prometem empregos em lugares como Dubai e mandam os caras para a guerra lavar pratos, cortar cabelo ou fazer batata frita para os soldados - morreram e mais 51 mil ficaram feridos em bases americanas no Iraque e Afeganistão. Pela primeira vez, as perdas de funcionários de empresas privadas se equiparam com as de tropas americanas nas duas zonas de guerra, chegando a 53% das vítimas do lado americano nos primeiros seis meses de 2010. Mais aqui . O nome dessa gente na burocracia da guerra é TCNs [Third-Country Nationals]. Um exemplo de TCN, para dar stofo ao esqueleto das estatísticas: Constantine Rodrigues, homem de 38 anos deixa mulher grávida em Goa atrás de um emprego que paga $450 por mês no Pizza Hut num acampamento americano no Iraque. Depois da explosão de um foguete que matou dois dos seus colegas de t