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Showing posts from September, 2012

Admirável velho mundo novo

De camisa azul, o neo-liberalismo; de cabelo comprido o neo-positivismo; e de blusa azul escura, o neo-fundametalismo religioso. Obviamente os três estão com pressa e uma baita fome de cérebros. Não sei se a foto foi tirada em Bagdá ou em Nova Iorque. Talvez em São Paulo. Os Anglicanos, claro, não têm Papa, aquele tal infalível. Eles têm Rowan Williams, o bispo Anglicano chefe. Ele anda tentando lidar diplomaticamente com grupos da sua igreja na Inglaterra que ameaçam ir embora para a Igreja Católica. A causa desse motim religioso é a ordenação de "bispas" na Igreja Anglicana Inglesa. Ratzinger, o infalível de Roma fez a gentileza de convidar publicamente os rebeldes para "voltar" ao manto de Roma, onde mulheres nunca vão além de freiras. Numa entrevista Rowan Willians, que é também teólogo, fez a seguinte reflexão : "One of the odd things about fundametalism in its American form, but not exclusively, is that it's par

Receita para a cura da cegueira

Tenho uma receita para a cura da cegueira crônica que afeta muitos brasileiros no que toca ao quesito racismo e discriminação racial no Brasil. Essa receita é complicada e custa caro, mas funciona para quase todos os brasileiros da nossa tropa da elite. Talvez não funcione para alguns poucos afortunados do fenótipo Xuxa; afinal como dizia Lima Barreto, no Brasil tem de tudo, até Godos. Mas para o resto todo do país "branco", onde essa peculiar cegueira mais se spresenta, funciona. Vá para um país do norte da Europa ou para algum lugar bem "branco azedo" nos Estados Unidos e viva lá por uns dois meses, pelo menos. Quando nosso caro membro da elite "quase Goda" não for atendido ou for mal-atendido num café ou restaurante, quando tiver uma bolsa revistada sem mais nem menos na saída de uma loja, quando for parado pela polícia no trânsito, quando pedirem que ele mande uma foto da família antes de receber uma resposta sobre uma vaga no clube da cidade, ele vai

último post sobre Joyce - Joyce e o Local

4.   Joyce e Dublin: Joyce, como Guimarães Rosa, como Faulkner, como Juan Rulfo, como Woody Allen, como Mário de Andrade, como muita gente interessante do século passado, era um localista. O que é que eu quero dizer? Eu me explico no meu livro que [espero] esteja para sair a qualquer momento pela Editora UFMG. Aqui eu explico muito pouco, por falta de tempo e preguiça mental. Ao invés disso, exemplifico: Um ano antes de publicar o Ulysses Joyce escreveu para uma tia para perguntar a ela se “it was possible for an ordinary person to climb over the area railings of No7 Eccles street, either from the path or the steps, lower himself from the lowest part of the railings till his feet are within 2 feet or 3 of the ground and drop unhurt.”   E aqui um pedacinho do capítulo 17 : “What action did Bloom make on their arrival at their destination? At the housesteps of the 4th of the equidifferent uneven numbers, number 7 Eccles street, he inserted his hand mecha

Joyce e a psicanálise

Joyce tinha uma filha esquizofrênica e por isso conheceu Jung. Jung não gostou nem um pouco de Joyce e disse que o escritor era “a man of small virtue, inclined to extravagance and alcoholism.” Joyce também não foi com a cara de Jung, a quem ele chamava de “the Swiss Tweedledum who is not to be confused with the Viennese Tweedledee,” aproveitando para sacanear Freud de brinde.    Freud é o da esquerda... ou será o da direita. Bom, Jung é o outro.

Joyce e a produtividade poética dos trocadilhos

Bom, além do acaso, Joyce acreditava muito no poder da mais humilde das figuras de linguagem: o trocadilho. Quando reclamavam da vulgaridade dos trocadilhos, Joyce lembrava o “Pedro, tu és pedra” da Bíblia e dizia, “The Holy Roman Catholic Apostolic Church was built on a pun. It ought to be good enough for me.”  Guimarães Rosa e Leminski certamente concordariam. Sr. Tenochtitlán e Sra. Jequitinhonha se casam em cerimônia oficiada pelo eminente Pe Calavera no templo do Terceiro Corpo aqui no meu escritório.

Literatura é bom e eu gosto - Joyce 2

2. Joyce e o acaso James Joyce não tinha nem sombra do messianismo de Ezra Pound nem do pedantismo de TS Eliot e não achava que a literatura substituía nem deus nem religião nem a vida nem nada. A sua única fé mesmo era provavelmente no acaso: “Chance furnishes me with what I need. I’m like a man who stumbles; my foot strikes something, I look down, and there is exactly what I’m in need of.” Foto Minha: Rua Palmira

Literatura é bom e eu gosto - Joyce 1

Eu me aborreço rápido com a adoração que muitas pessoas têm por figuras como Baudelaire, Mallarmé, Proust, Pound, Eliot, Joyce, etc. Esse negócio de ficar rezando num panteão de santos padroeiros da literatura, mesmo que eles sejam um doidão como Rimbaud ou Bukowski, é muito chato e às vezes francamente ridículo. Mas eu me calo – em público – porque não acho justo com todos esses defuntos que geralmente não tem culpa nenhuma. Aviso isso antes de começar uma série sobre um desses santos, talvez pela obra dele ser tão anti-panteão. Joyce e o amor: Joyce era um apaixonado que escreveu grandes cartas para Nora, com quem teve dois filhos. Algumas dessas cartas são chamadas de pornográficas e outras não. Bom, o próprio Ulysses ficou proibido na Inglaterra e nos Estados Unidos por mais de dez anos por ser um livro pornográfico e portanto não me perguntem como é que separam as cartas das cartas de amor. O famoso Bloomsday, o 16 de junho de 1904 que Joyce escolheu para o Ulysse

Escavando notas - Mais Manoel Bonfim

Um dos lances mais ousados [até hoje] de América Latina: Males de Origem é quando Manoel Bonfim enquadra a independência brasileira como mais uma independência latino-americana. O padrão delas todas é a preponderância do que ele chama de "elemento refratário" e compara aos dentes do parasita colonial que permanecem agarrados ao corpo dos novos países.  "Fez-se a independência da colônia exclusivamente para os refratários. No momento, toda a separação se reduziu a substituir o título do chefe do governo – não é mais rei, é imperador; a nação passa a ter uma Constituição sua, copiada da antiga, copiada pelo próprio imperante, eterno distribuidor de constituições; deram-lhe um parlamento seu, que o monarca dissolveu quando quis; e fez-se tornar a Portugal alguns centos de soldados. Tudo mais aqui fica: “todas as pessoas de ordem civil, eclesiástica e militar que a corte portuguesa deixou no Rio de Janeiro ocupando os altos cargos”. A mesma má

Recordar é viver: Parabéns Pátria Adorada

"Quando é que o Brasil entrou a ser verdadeiramente autônomo?... Quando, ameaçando separar-se, forçou a metrópole a abolir estancos e reduzir quintos, ou quando abrigou a corte, foragida da metrópole? Quando entrou em relações com o mundo na qualidade de reino soberano, aberto ao comércio de todas as nações; ou quando, partindo daqui o rei e a corte, passou a ter um governo à parte? Quando Barata e seus companheiros gritavam os nossos direitos no recinto das cortes portuguesas, ou quando o príncipe, chefe do governo aqui, desobedecia formalmente às injunções da metrópole? Quando o chefe do Estado houve de desistir da coroa portuguesa, ou quando, apesar disto, o forçaram a deixar o Brasil?... Qualquer desses momentos foi mais decisivo para a independência do que essas datas, que a história oficial consagra – o gesto ridículo do Ipiranga, ou a assinatura do tratado mediante o qual o Brasil pagou à antiga metrópole a importância dos tributos, que ela já não

Prosa Minha - Festas Nacionais

Festas Nacionais Uma vez por ano aqui em Montezuma, no dia 14 de abril, escolhemos alguém da família Moreira para o que chamamos de Aniquilamento Seletivo, Execução Extra-Judicial ou, simplesmente, Festa da Fé. Escolhemos um Moreira porque eles são muitos, se reproduzem com presteza impressionante e não têm predadores naturais, não fazem a menor falta nos outros 364 dias do ano e são simplesmente perfeitos para os nossos festejos. O coração dos Moreiras, como o conhecemos, é fibroso, mas doce e saboroso. Não recomendaria um assado pois a carne acaba ficando dura e não entranha bem o tempero. Por melhor que seja a aparência do órgão logo depois de extraído de um corpo macerado mas ainda pulsante e, por um breve instante de jorro e gozo, ainda vivo, há que se esmerar na limpeza e preparo do coração. Limpa-se a carne com faca de ponta, corta-se o resto em filetes bem finos e refoga-se no óleo bem quente com alho, cebola e louro. Depois de uns 10 minutos de refogado, b

Escavando notas: James e Pound

Fotografia minha: Pedra sempre pedra! "The whole thing of anything is never told" Anotação em diário de William James Mais do mesmo "It is the business of the artist to make humanity aware of itself." Ezra Pound, escrevendo sobre William James