Skip to main content

Posts

Showing posts from November, 2012

Só o amor constrói?! - Parte 3

Sem brincadeira, às vezes a produtividade do rancor da Fiona Apple me dá medo: --> Regret Fiona Apple ‘Member when we argued on the concept of regret? You were an expert even then but not me, not yet. Now all you got to do's remind me that we met. And there you got me, that's how you got me, you taught me to regret ‘Member how I asked you why are you so mean? You didn't know how to react to being seen I tried to be your friend, you made me ‘shamed, now I'm getting even and there you got me, that's how you got me, you taught me to be mean I ran out of white dove feathers to soak up the hot piss that comes through your mouth every time you address me. ‘Member when I was so sick and you didn't believe me? Then you got sick too, and guess who took care of you? You hated that, didn't you? Didn't you? Now when you look at me, you're condemned to see the monster your mother made you to be and there

Só o amor constrói?! - Parte 2

Garro jovem Garro velhinha E ainda falando em produtividade literária, vejam só que maravilha a abertura do conto mais famoso de Elena Garro, “La culpa es de los Tlaxcaltecas” [Os tlaxcaltecas eram inimigos dos astecas que ajudaram os espanhóis de Cortés na conquista do México]: Nacha oyó que llamaban en la puerta de la cocina y se quedó quieta. Cuando volvieron a insistir abrió con sigilo y miró la noche. La señora Laura apareció con un dedo en los labios en señal de silencio. Todavía llevaba el traje blnaco quemado y sucio de tierra de sangre. — ¡Señora!… —suspiró Nacha. La señora Laura entró de puntillas y miró con ojos interrogantes a la cocinera. Luego, confiada, se sentó junto a la estufa y miró su cocina como si no la hubiese visto nunca. — Nachita, dame un cafecito…Tengo frío. — Señora, el señor… el señor la va a matar. Nosotros ya la dábamos por muerta. — ¿Por muerta? Laura miró con asombro los mosaicos blancos de la cocina, subió la

Só o amor constrói?!

No mundo cor-de-rosa todos os escritores fazem livros para salvar o mundo da maldade, pregar a liberdade e a felicidade geral da nação e trazer paz e amor ao mundo. No mundo real muita coisa muito excelente já foi escrita em cima de coisas nada cor-de-rosas, como por exemplo, medo e ódio, mesclados nesse estado de fabulação compulsiva comumente diagnosticado como paranóia. Vejam o caso da escritora Elena Garro, que numa entrevista disse o seguinte do seu ex-marido: "Yo vivo contra él, estudié contra él, hablé contra él, tuve amantes contra él, escribí contra él y defendí a los indios contra él. Escribí de política contra él, en fin, todo, todo, todo lo que soy es contra él. Mira, Gabriela, en la vida no tienes más que un enemigo y con eso basta. Y mi enemigo es Paz." Elena Garro aqui. [ http://www.jornada.unam.mx/2006/09/17/sem-elena.html ] Dá até para traduzir o trem como um belo poema de escárnio. Olha só: Garro contra Paz “Vivo contra

Ornamento do Mundo

Trecho de Ornament of the Worl d de María Rosa Menocal: "In the end, it would be al-Andalus's vast intellectual wealth, inseperable from its prosperity in the material realm, that made it the 'ornament of the world.' The rich web of attitudes about culture, and the intellectual opulence that it symbolized, is perhaps only suggested by the caliphal library of (by one account) some four hundred thousand volumes, and this at a time when the largest library in Christian Europe held no more than four hundred manuscripts. Cordoba's caliphal library was itself one of seventy libraries in a city that apparently so adored books that there were seventy copists in the book market who worked exclusively on copying Qurans." Abd al Rahman I, príncipe exilado  da dinastia dos Umayyads que foi para a península ibérica Córdoba, capital do califado

O dia do peru

O aniversário de Mark Twain às vezes coincidia com o Dia de Ação de Graças. Quando fez setenta anos, consagradíssimo no seu país, Twain disparou um discurso demolidor sobre o Dia do Peru. Começou “revelando” o segredo da sua longevidade: As an example to others, and not that I care for moderation myself, it has always been my rule never to smoke when asleep, and never to refrain when awake. E depois tirou a máscara do piedade cristã/puritana que move o dia e o país do dia: Foto minha: peru de fazenda, não do mato, me olhando com olhar desconfiado... Thanksgiving Day, a function which originated in New England two or three centuries ago when those people recognized that they really had something to be thankful for—annually, not oftener—if they had succeeded in exterminating their neighbors, the Indians, during the previous twelve months instead of getting exterminated by their neighbors the Indians. Thanksgiving Day became a habit, for the reason tha

Onde educação e cultura se tocam

--> Ahmir "Questlove" Thompson [baterista e “maestro” da banda The Roots] é o resultado de uma cultura que, apesar de tudo, ainda é capaz de oferecer uma educação musical de primeira qualidade a um jovem de classe média baixa da Philadelphia. Questlove trazia de casa uma forte cultura musical, tocando com os pais desde menininho; mas a oportunidade de estudar música num ambiente de alto nível deu a ele uma sofisticação invejável. Você tem acesso a um perfil interessante dele aqui . Talentos parecidos no Brasil tem que se esfalfar no autodidatismo, sem acesso sequer a instrumentos de mínima qualidade, sem professores, sem acesso a própria história da cultura musical de que fazem parte. Aqui você vê trechos de um documentário em que Questlove dá a sua visão pessoal do que significou um certo Michael Jackson, musicalmente e culturalmente.    

Primeira parte do poema de Louise Glück

"Andrógino" de Ismael Nery Fuga Louise Glück 1. Porque eu era a mais alta eu fazia o homem. Minha irmã era a que dizia a que horas a gente comia. De tempos em tempos ela paria. 2.  Aí minha alma apareceu. Quem é você, eu perguntei.  E minha alma respondeu, Eu sou sua alma, o estranho irresistível.  3. Nossa irmã morta esperava, desconhecida na cabeça da minha mãe. Nossa irmã morta não era nem homem nem mulher. Ela era feito uma alma.  4. Minha alma foi enganada: se atou a um homem. Não um homem de verdade, o homem que eu fingia ser, brincando com a minha irmã. 5. Está voltando para mim – deitar-se no sofá refresca minha memória. Minha memória é feito um porão cheio de papéis velhos: nada muda nunca. Essas são as primeiras cinco partes do poema, que tem dez partes. O original em inglês você encontra aqui .

Pockets of Misery Persist 2

"the composer  drops all masks and, at the age of eighty-two, stands before you naked." Nathan Zuckerman sobre "As Quatro Últimas Canções" de Strauss no último livro de Philip Roth

Pockets of Misery Persist

James Wood sobre os últimos romances de Philip Roth: "the struggle between the vitality of sex and the fatality of the body"

Escavando notas

Era uma vez um péssimo aluno de arquitetura que leu isso aqui: Nonstraightforward Architecture: A Gentle Manifesto “I like elements which are hybrid rather than pure, compromising rather than clean, distorted rather than straightforward, ambiguous rather than articulated, perverse as well as impersonal, boring as well as interesting, conventional rather than designed, accommodating rather than excluding, redundant rather than simple, vestigial as well as innovating, inconsistent and equivocal rather than direct and clear. I am for messy vitality over obvious unity. I include the non sequitur and proclaim the duality. I am for richness of meaning rather than clarity of meaning; for the implicit function as well as the explicit function. I prefer ‘both-and’ to ‘either-or’, black and white, and sometimes gray, to black or white.” Robert Venturi, Complexity and Contradiction , 16    Séculos mais tarde ele esbarra de falar em complexidade e contradição na

Recordar é viver: Gypsy

Eu era ainda quase um adolescente e gostava de Led Zepellin e Pink Floyd e coisas assim quando minha cunhada me deu de presente um disco de um tal de Fleetwood Mac. Nada ali era como as coisas que eu andava escutando, mas eu fui escutando o disco e essa  canção me pegou de jeito. É de Stevie Nicks sobre as memórias do passado então recente da Califórnia, sobre a saudade com a perda de uma grande amiga. O vídeo é típico dos anos 80, barangada total:   Gypsy So I'm back to the velvet underground, back to the floor that I love, to a room with some lace and paper flowers. Back to the gypsy that I was, to the gypsy that I was. And it all comes down to you. Well, you know that it does. Well, lightning strikes, maybe once, maybe twice. Ah, and it lights up the night and you see your gypsy. You see your gypsy! To the gypsy that remains and faces freedom with a little bit of fear. I have no fear, I have only love And if I was a child And the child was enough

Ela

"She is coming, my own, my sweet;     Were it ever so airy a tread, My heart would hear her and beat,     Were it earth in an earthy bed; My dust would hear her and beat,     Had I lain for a century dead; Would start and tremble under her feet,     And blossom in purple and red." A última estrofe de " Maud " de Alfred Tennyson

A ciência aplicada em prol de uma sexta-feira feliz!

A ciência em prol de uma sexta-feira feliz!

Boletim Quintal

--> Boletim eleições no meu quintal [entre o último furacão e a primeira nevasca do ano]: No condado de New Haven [um aglomerado de 25 cidades em volta aqui de New Haven] os resultados da eleição são bastante claros, ainda que a velocidade da apuração daqui dos Estados Unidos em geral seja do tempo das carroças: Nossa deputada federal [o voto aqui é distrital] será, de novo, a democrata Rosa de Lauro, que representa o nosso condado há 21 anos, desde 1991. Todos os cinco deputados federais do estado de Connecticut serão democratas. O democrata Chris Murphy ganhou a vaga do senado que pertencia ao aposentado e [na minha opinião] péssimo Joe Liberman. Assim todos os senadores de Connecticut serão democratas. E Obama teve 59,8%   dos votos no condado como um todo, mas na nossa cidade de New Haven Obama teve 90.07% dos votos! 

Toda insanidade coletiva tem sua lógica interna

Paul Krugman e Robin Wells sobre o desastre americano , que continua amanhã independentemente de quem ganhar a eleição: "... for three decades before the financial crisis American politics and policy had been increasingly dominated by laissez-faire ideology, by the belief that markets—and financial markets in particular—should be allowed to run free. Then came the inevitable crash. But far from demanding a return to stronger regulation, much of the American electorate turned to the view that the crisis was caused by too much government intervention, and rallied around politicians aiming to dive even deeper into the policies that led to crisis in the first place." e depois: "We have a depressed economy in large part because Republicans have blocked almost every Obama initiative designed to create jobs, even refusing to confirm Obama nominees to the board of the Federal Reserve. ( MIT ’s Peter Diamond, a Nobel laureate, was rejected as lacking sufficient q

Um alô dos mortos!

A morte prisioneira prepara-se para sair... Esta aí embaixo é a primeira parte de "Muerte sin fin" de José Gorostiza. É um dos melhores poemas do século XX para mim. Não deve absolutamente nada a T.S. Eliot e outros congêneres, mas é quase desconhecido no Brasil. Porque? Pelo mesmo motivo que "A máquina do mundo" é quase desconhecido fora do Brasil. Antes de reclamar da mentalidade colonizada do resto do mundo, eu acho que é melhor a gente cuidar de combater a nossa própria. Além do mais, o que somos enquanto vivos senão uns sacos de água esperando o dia de se esvaziar? Somos o saco? Somos a água? I Lleno de mí, sitiado en mi epidermis por un dios inasible que me ahoga, mentido acaso por su radiante atmósfera de luces que oculta mi conciencia derramada, mis alas rotas en esquirlas de aire, mi torpe andar a tientas por el lodo; lleno de mí -ahíto- me descubro en la imagen atónita del agua, que tan sólo es un tumbo inmarcesible, un desplom

Quatro séculos de reformas

Arcada encontrada no cemitério dos pretos novos no Valongo --> XVIII Em 1758 as autoridades do Rio de Janeiro, preocupadas com a imagem da cidade e a higiene pública, decidiram deslocar as atividades relacionadas com o tráfico de escravos do principal porto da cidade para o que era então uma área periférica, o Valongo. Ali foi se construindo um complexo: um cais, centros de “triagem,” uma rua com depósitos e mercados e um cemitério de “Pretos Novos” (para os escravos recém chegados que morriam na chegada). As descrições do cemitério feitas por testemunhas oculares na época me lembram as célebres cenas de Auschvitz: pilhas e pilhas de corpos mal-enterrados em covas rasas, as carnes podres expostas no meio da lama. XIX Após a proibição formal do tráfico de escravos em 1831 (a famosa lei para inglês ver), o Valongo foi “apagado” pelas autoridades da cidade, construindo-se em cima dele o “Cais da Princesa,” projeto do arquiteto modernizador da cidade (o francês Gr

Chernoviz: Os acidentes e os remédios do amor

Os acidentes Se considerarmos quanto são freqüentes e quão graves podem ser os accidentes do amor, facilmente convencer-nos-hemos de que os signaes que revelam esta paixão não são noções de mera curiosidade. Com effeito, não somente o amor excessivo distrahe das occupações, dos (leveres sociaes, perturba todas as funeções e pode produzir o marasmo, mas até as suas conseqüências possíveis e mui freqüentes são desastrosas e variadas. Se as conveniências se oppòem á união, tem-se em perspectiva a immoralidade. O amor contrariado conduz á alienação mental, á melancolia, ao suicídio. Os jornaes regorgitam de narrações d'else gênero. Quantas pessoas, sem acabarem tão deploravelmenle, conservam no resto de sua existência uma sensibilidade e tristeza profunda! E quantas desgraças d’este gênero não poderiam ser prevenidas! O remédio A união dos amantes, se as conveniências o permittem, é o melhor remédio do amor. No caso contrario, a isolaçáo é uma das prime