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Showing posts from March, 2013

Agruras

Essa jóia de José Emilio Pacheco é para quem já escreveu [ou tentou escrever] um livro como o que estou escrevendo agorinha: La maleza y la la sombra En torno de una idea original difunde su maleza la retórica, su óxido fatigado la repetición, su tormenta de vaho el paso en falso. En torno de una idea original hay una muchedumbre de lugares comunes, frases mal construidas, expresiones que no ajustaron con el pensamiento. En torno de una idea original crece la sombra y la aridez se agolpa. Irás y no volverás , 1969-1972 Foto da Maleza [mato], tampando o riachinho na beira da estrada. Escrever repetindo-se é tomar o chão batido da estrada. Escrever sem se repetir é arriscar-se numa embranhada perigosa no mato. A rapadura é doce, mas é dura!

Algumas perguntas safadas sobre o vernáculo tupiniquim como praticado na imprensa nos dias de hoje

1.     UNIVERSITÁRIO . (S.) Por que é que nunca leio uma manchete do tipo “Analfabeto Assalta Loteria” ou “Traficante com Segundo Grau Completo é Preso no Aeroporto” mas percebo com insistência notícias sobre “universitários” suspeitos de atividades criminosas? 2.      UNIVERSITÁRIO (ADJ.) A inda sobre o mesmo termo adjetivo agora não substantivado, por que é que esse tal estilo musical se chama “Sertanejo Universitário”? Existe “Pagode Analfabeto Funcional”? “Forró Doutorando”? “Axé da Secundária”? 3.     MUSA (S.) Outro termo me intriga: “musa”. Musa da Novela, Musa do Futebol, Musa do Karatê, Musa do Tribunal, Musa da CPI… Serão elas chamadas de musas por serem inspiração à arte do onanismo? Não seria mais honesto chamá-las de “A Gostosona da Olimpíada” ou qualquer coisa assim?   4.     BUM-BUM (S.) Ainda me intriga também o uso constante da palavra “bum-bum” em textos de jornalismo onde se comenta a anatomia do traseiro de alguém – poderia

Sob o efeito nocivo da penicilina

Mas cuidado com os efeitos deletérios da pílula de mofo...  1. O local onde ficava o principal palco do movimento punk em Nova Iorque [CBGB] hoje abriga uma boutique que vende jaquetas de couro de alta costura [sem tachinhas] por mais de dois mil dólares. 2. O Museu de Arte Metropolitan em Nova Iorque está promov endo uma exposição sobre moda punk. Os shows sobre moda estão entre os mais bem sucedidos do museu nos últimos anos e a expectativa é a de mais um grande sucesso de público. O primeiro impulso é seguir a corrente geral: fazer a crítica moralista, apontando para a falsidade dos valores do movimento punk ou para o oportunismo dos traidores do movimento. Mas quando eu leio coisas assim, seja sobre Roquenrrol ou o PT ou o movimento hip-hop, minha vontade é parar na terceira linha. Não porque não exista aí alguma verdade, mas porque o moralismo é de uma chatice infinita. Eu me recuso terminantemente a colocar o que seja no lugar da santíssima trindade que eu recusei aos d

Leituras durante a gripe

"I am among those few people who have constantly drawn attention to this: you must (and you must do it well ) put philosophers’ biographies back in the picture, and the commitments, particularly political commitments, that they sign in their own names, whether in relation to Heidegger or equally to Hegel, Freud, Nietzsche, Sartre, or Blanchot, and so on." Derrida citado em interessante resenha da biografia dele escrita por Benoît Peeters que você pode ler aqui . “Crise” hoje em dia significa simplesmente “você deve obedecer!”. Creio que seja evidente para todos que a chamada “crise” já dura decênios e nada mais é senão o modo normal como funciona o capitalismo em nosso tempo. E se trata de um funcionamento que nada tem de racional. “O capitalismo é uma religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro

Escavando notas: procurando os Bernardellis

Oxford dictionary of dance - Le Violon du Diable Ballet in two acts with choreography and libretto by Saint-Léon, music by Pugni, sets by Despléchin and Thierry, and costumes by Lormier. Premiered 19 Jan. 1849 at the Paris Opera, with Cerrito and Saint-Léon. In the ballet, a retelling of the Faustian legend, the young violinist Urbain is in love with Hélène and allows the sinister Doctor Matheus (Satan in disguise) to bewitch his violin so that its beautiful sound will win over the reluctant Hélène. When Matheus comes to claim the violinist's soul, Urbain refuses. The ballet ends happily when Urbain is delivered from evil and the lovers are united. At the ballet's premiere Saint-Léon played the violin as well as dancing the role of Urbain. Read more: http://www.answers.com/topic/le-violon-du-diable#ixzz2OIZdDue6

Poesia Mexicana: José Emilio Pacheco em três momentos

Manifiesto Todos somos “poetas de transición”: La poesía jamás se queda inmóvil. Irás y no volverás , 1973  Foto minha: da série "Pedras" Antiguos compañeros se reúnen Ya somos todo aquello Contra lo que luchamos a los veinte años. Desde entonces , 1975-1978 Los mares del sur Felicidad de estar aquí en esta playa aún sin Milton ni Sheraton. Arena como al principio de la creación, victoria de la existencia. Mira cómo salen del cascarón las tortuguitas. Observa cómo avanzan sobre la playa ardiente hacia el mar que es la vida y nos dio la vida. Prueba esta agua fresquísima del pozo. No comeremos ni siquiera almejas por no pensar en nada que recuerde la muerte. Los paraísos duran un instante. Llegan las aves, bajan en picada y hacen vuelos raspantes y se elevan con la presa en el pico: las tortugas recién nacidas. Ya no son gaviotas: es la Luftwaffe

Artistas Mexicanos Contemporâneos no Brasil

Gabriel Orozco fez "Turista Maluco" na Bahia Damián Ortega fez essa instalação do lado de fora da Bienal de São Paulo Dr. Lakra fez essa obra num velho poster de Getúlio Vargas

Sobre dor de cotovelo ou canções de dor de corno: "Sara" de Bob Dylan

Várias canções do sensacional Blood on Tracks parecem se referir à separação de Bob Dylan da sua esposa depois de 12 anos de casamento. “You’re a Big Girl Now,” “Idiot Wind,” e “Shelter From the Storm” são dignas daqueles Chico Buarques mais tristes. Agora, "Sara" [nome da sua ex-esposa] é outra história. Imagine que um desses barangos de música sertaneja caísse num caldeirão de LSD e lesse Drummond e Bandeira por três anos todos os dias. Depois imagine que esse tal Frankenstein sertanejo tomasse um pé na bunda da esposa depois de 12 anos de casado. O resultado seria “Sara”: Sara Bob Dylan I lay on a dune, I looked at the sky, When the children were babies and played on the beach. You came up behind me, I saw you go by, You were always so close and still within reach. Sara, Sara, Whatever made you want to change your mind? Sara, Sara, So easy to look at, so hard to define. I can still see them playin' with their pails in the sand, They run to

Sor Juana escreve enigmas

Eles foram escritos para um  grupo de freiras ilustradas portuguesas que faziam parte da "Asamblea de la Casa del Placer" e são , até hoje, os últimos versos de sor Juana Inés de la Cruz. Eu, que adoro redondilhas, adorei:   ¿Cuál es aquella homicida que, piadosamente ingrata, siempre en cuanto vive, mata, y muere cuando da vida? ¿Cuál será aquella aflicción que, con igual tiranía, es callarla cobardía, decirla desatención ? ¿Cuál puede ser el dolor de efecto tan desigual; que, siendo en sí el mayor mal, remedia otro mal mayor? ¿Cuál es la sirena atroz que en dulces ecos veloces muestra el seguro en sus voces, guarda el peligro en su voz? ¿Cuál puede ser el cuidado que, libremente imperioso, se hace a símismo dichoso y a sí mismo desdichado? ¿Cuál es aquella deidad que con tan ciega ambición, cautivando la razón, toda se hace libertad? ¿ Cuál será aquella pasión que no merece piedad,

Brasil e México em tempos de colônia: sobre as finezas do amor

Sor Juana Inês de la Cruz se meteu em uma tremenda encrenca com a sua “Carta Atenagórica,” uma crítica contundente ao sermão de Antonio Vieira que citei no ultimo post. A verdade é que, neste caso, Vieira encontrou, em espanhol, uma “fera” tão boa quanto ele no manejo das palavras. Sor Juana e Vieira fala sobre a natureza do amor e suas “finezas” e o raciocínio da freira Mexicana   sobre qual teria a maior fineza de Cristo é preciso como uma faca que acabou de ser afiada: “ Luego para ser del todo grande una fineza ha de tener costos al amante y utilidades al amado. Pues pregunto, ¿cuál fineza para Cristo más costosa que morir? ¿Cuál más útil para el hombre que la Redención que resultó de su muerte? Luego es, por ambos términos, la mayor fineza morir.” E depois mais tarde: “Es el amor de Cristo muy al revés del de los hombres. Los hombres quieren la correspondencia porque es bien propio suyo; Cristo quiere esa misma correspondencia para bien ajeno, que

Escadas de Jacó

“Duas coisas viu Jacó no que viu, que muito e com muita razão lhe assombraram, não a vista, senão o entendimento. E quais foram? A primeira que, sendo a escada para descer Deus, a descida era muito maior que a escada. Pois a descida maior que a escada? Sim. Porque a escada chegava da terra ao céu, que é distância limitada, e a descida era de Deus ao homem, que é distância infinita. E vendo unir dois extremos infinitamente distantes, quem, ainda estando muito em si, não ficaria atônito e assombrado? A segunda causa, e não menor, do mesmo assombro, foi que por meio da Encarnação do Verbo, assim revelada a Jacó, vinha a conseguir muito mais o menor anjo do que a soberba de Lúcifer tinha afetado. Porque Lúcifer quis ser igual a Deus, e fazendo-se Deus homem, ficava Deus por este lado sendo inferior ao menor anjo.” Antônio Vieira, Sermão do Mandato de 1655, manhã  Nessa escada eu subi e é a melhor tradução em pedra dessa ideia doida que é a tal escada de Jacó...  

Somos muchos aunque seamos tan pocos

Arte Minha: s_mething is m_ssing "—Ya ves, todo esto no sirve de nada —dijo el escultor, barriendo el aire con un brazo tendido—. No sirve de nada, Noemí, yo me paso meses haciendo estas mierdas, vos escribís libros, esa mujer denuncia atrocidades, vamos a congresos y a mesas redondas para protestar, casi llegamos a creer que las cosas están cambiando, y entonces te bastan dos minutos de lectura para comprender de nuevo la verdad, para...             —Sh, yo también pienso cosas así en el momento —le dije con la rabia de tener que decirlo—. Pero si las aceptara sería como mandarles a ellos un telegrama de adhesión, y además lo sabes muy bien, mañana te levantarás y al rato estarás modelando otra escultura y sabrás que yo estoy delante de mi máquina y pensarás que somos muchos aunque seamos tan pocos, y que la disparidad de fuerzas no es ni será nunca una razón para callarse. Fin del sermón. ¿Acabaste de leer? Tengo que irme, che." Trecho de &qu

Poesia minha: A paz do momento

Foto Minha: Acordando com a primavera A paz do momento Por baixo da casca folhada de gelo as águas escuras assentam o limo nas pedras do fundo. Em profundo silêncio o nada conspira contra a paz do momento. No jardim devastado do fim do outono enterrei uma dúzia de tulipas e lírios. Dormem em silêncio o inverno inteiro até o primeiro degelo. Depois da tempestade juntei e cortei sozinho todos os galhos quebrados. Queimei-os na lareira da sala, deixei que as cinzas esfriassem, juntei as cinzas num saco e levei de volta ao jardim. Cortei meu dedo, o sangue açucara por cima do corte onde dorme a cicatriz fresca no casulo. Salpicadas aos poucos as cinzas flutuam no espelho d’água um instante antes de se dissolver.

todavía hablan del mercado del arte como si fuera el diablo: es como culpar al mar de que te ahogaste

Reflexão do artista mexicano Gabriel Orozco sobre o mercado: “El mercado es una arena donde se desenvuelve el individuo en función de su ideología, sus intereses, sus valores. El mercado no tiene la culpa. Muchos en México todavía hablan del mercado del arte como si fuera el diablo: es como culpar al mar de que te ahogaste. El mercado en realidad es otro espacio del arte, como el museo, la calle o la sala de la casa; otro espacio donde el arte circula públicamente. El mercado tiene un impacto en la vida pública, y así hay que entenderlo, como a las instituciones en general. Las subastas, la especulación, ésa es la parte más vistosa, el show del mercado; pero es mucho más que eso. Hay sobre todo un aspecto del mercado que no ha sido analizado por los teóricos del arte: la manera en que producimos una obra de arte. Y esto es crucial en mi trabajo. Cuánto dinero gastas, qué material utilizas, cómo lo trabajas: desde ahí, hay una actitud particular. Parte de mis

O que significa ter um filho de 11 anos em 2013?

Desenho: Samuel da Luz, 2013 Samuel está no meio de um processo de duas semanas de testes importantes para ele e para a escola. São exames anuais de matemática e inglês que ele faz duas vezes, uma no começo do ano letivo [que aqui começa em setembro] e outro agora, como que aferindo o quando ele evoluiu nas duas matérias nesse ano. Gosto de desenhar e ele também, e às vezes empresto meus cadernos para ele fazer um desenho, isso quando ele não usa os seus ou qualquer papel à disposição. Há poucos dias atrás ele desenhou a si mesmo assim: sentado numa carteira de sala de aula, cercado por relógios e um pássaro (que ele diz representar a professora), que fazem círculos em torno dele. Repare que no desenho ele parece ter sido levantado do nível do chão, onde estão vários seres de tamanhos e atitudes diferentes, além de uma caixa e uma casa. Aí na parte de baixo do desenho está o que ele chama de "mundo da imaginação", um mundo só dele, de introspecção e silêncio aqui de fora

Escavando Notas: Machado Engajado e México Invadido 4

Os mexicanos, liderados por Benito Juarez, botaram os franceses para correr e fuzilaram Maximiliano, que tinha sido abandonado por seus aliados da Igreja Católica mexicana por não concordar em dar à Igreja Católica o poder desmedido que ela desejava quando apoiou a invasão.   Acredito que essa vitória dos mexicanos garantiu que as novas potências européias (e os Estados Unidos) não fizessem com a América Latina o que fizeram com a África e o Oriente Médio. E a partir daí muita gente no Brasil foi batizada de Juarez em homenagem ao Mexicano. Uma das mais importantes colunas de jornal a favor do republicanismo, de Quintino Bocaiúva, chamava-se "Olhemos para o México". Anos depois, em Falenas [1870] Machado ainda voltaria aos eventos do reinado de Maximiliano em outro poema, “La Marchesa de Miramar”. Dessa vez ele faz da esposa de Maximiliano, Carlota [que enlouqueceu mesmo de fato], uma heroína trágica a maneira de Dido e imagina o próprio Maximiliano