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Showing posts from June, 2014

Música: Creature Fear

Justin Vernon estava se recuperando de uma doença e se enfiou numa barracão de madeira no meio do nada no inverno de Wisconsin. Lá ele compos e gravou sozinho as canções do primeiro album da sua banda Bon Iver. Acho o método de composição muito interessante: primeiro ele compôs e gravou fazendo os vocais sem letras para depois esscrever “encaixando” as letras nas canções prontas. Já postei aqui a minha favorita desse primeiro album, mas aqui aproveito para me deliciar com as coisas que a internet nos proporciona: três versões da canção “Creature Fear.”   Creature Fear Justin Vernon I was full by your count I was lost but your fool Was a long visit wrong? Say you are the only So many foreign worlds So relatively fucked So ready for us, so ready for us The creature fear I was teased by your blouse Spit out by your mouth I was loud by your low Seminary soul Tear on, tail on Take all on the wind on The soft bloody nose Sign another floor So many territories

Postal Efraín Huerta

Foto Minha: Pingüim, 2013 Ay poeta Primero Que nada Me complace Enormísimamente Ser Un buen Poeta De segunda Del Tercer Mundo.

Tradução: Eu puto, tu putas, ele puta, nós putamos, vós putais e eles putam

Um exemplo fascinante de uma tradução que sai dos trilhos por motivos que nada têm a ver com a tradução em si é a seguinte frase famosa do dramaturgo romano Terencio: Homo sum: humani nihil a me alienum puto . Destrinchando rapidamente a frase: homo e humani não precisam de explicação, suponho; sum é “sou”; nihil é “nada”; puto é a primeira pessoa singular do verbo putare [nada de pensar em bobagem] que significa aqui “considerar” [dele veio nosso “imputar”] alienum é “alheio” a me é “a mim” ou “para mim” A famosa frase foi traduzida elegantemente nem sei por quem como: “Sou um homem: nada do que é humano me é estranho” Não há nada de errado com a tradução, não é? O problema é que na peça de onde ela vem, Heautontimoroumenos (“ o que se pune a si próprio”  - em grego, que por sinal dá uma vontade danada de traduzir como “O masoquista” …), essa fala vem de um personagem que se intromete na vida dos outros e está cinicamente defendendo o seu di

Postal: Jorge Andrade

Foto minha: "Pedra" "Quem consegue sentir os outros,  senão os que vivem divididos  em  mil pedaços!" As Confrarias de Jorge Andrade

Histórias na Babilônia, histórias em Pindorama

Nos estados do sul dos Estados Unidos no começo do século XX um negro era enforcado ou queimado vivo [ou alguma combinação grotesca dos dois] a cada QUATRO dias. Até então 90% dos negros americanos viviam nos estados do sul, numa situação que não devia absolutamente nada ao  apartheid  da África do Sul. Entre 1915 e 1918 meio milhão de negros americanos migraram para o o norte e entre 1920 e 1930 mais 1.3 milhão de negros chegaram principalmente nas grandes cidades industriais da época: Chicago, Detroit, Nova York, Filadelfia e Los Angeles. Depois disso que foi chamado "A Grande Migração", 53% dos negros americanos ainda viviam no sul. Com eles Martin Luther King se levantaria e sacudiria as coisas ao ponto em que chegamos hoje, ainda longe da igualdade, ainda longe da justiça, mas longe do mundo construído por gente como James K. Vardaman [que dizia "imporemos a ordem nem que tenhamos que linchar todos os negros do estado] e Theodore Bilbo, [que sozinho impediu a vo

Sobre a possível inexistência da história e outras coisas

O discreto magnata da imprensa, dono do jornal em inglês de maior circulação no mundo [4.300.000 a exemplares por dia], tem, de repente, mais um dos seus momentos de filósofo: “Acho que História não existe e, se eu fosse primeiro-ministro da Índia, baniria o estudo dessa disciplina nas nossas escolas." A nem tão discreta escritora de um romance escandaloso sobre a alta sociedade em Mumbai e Nova Dehli, editora e organizadora de vários desses estranhos festivais literários,* retruca de bate pronto: "Vamos fazer o seguinte: eu lhe dois tapas bem dados e um chute na canela, e se você não conseguir se lembrar deles eu concordo com a sua tese sobre a inexistência da história." O magnata ri educadamente, vira-se para o outro lado e ignora a escritora pelo resto da noite. A pequena anedota, que li num longo perfil sobre o tal magnata, me chamou a atenção para a tal escritora. Procurei um livro recente dela, seu único livro de contos, porque não teria tempo

Postal: Dou água aos outros, e peço água, quando estou com sede

Foto minha: "Água em Diamantina 1" "- É o que é, seu Oscar. Viver de graça é mais barato... É o que dá mais... - E os outros, seu Laio? A sociedade tem sua regra... - Isso não é modinha que eu inventei. - Ta varrido! - Pode que seja, seu Oscar. Dou água aos outros, e peço água, quando estou com sede... Este mundo é que está mesmo tão errado, que nem paga a pena a gente querer consertar..." "   Traços biográficos de  Lalino Salãthiel  ou a  volta do marido pródigo", João Guimarães Rosa