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Showing posts from December, 2015

Feliz Natal

--> Foto minha: Quadro de Avisos Spectre Radiohead I'm lost, I'm a ghost, dispossessed, taken host. My hunger burns a bullet hole, a spectre of my mortal soul. These rumors and suspicion, anger is a poison. The only truth that I could see is when you put your lips to me. Futures tricked by the past. Spectre, how he laughs. Fear puts a spell on us, always second- guessing love. My hunger burns a bullet hole, a spectre of my mortal soul. The only truth that I can see: Spectre has come for me.

Música/Testamento

--> Há dois momentos marcantes em que dois artistas que eu admirei muito como adolescente rasgaram aquela capa que insiste em ficar entre a arte e a vida. Esse limite ganhava urgência e se transformava também em limite entre a vida e a morte, já que as duas são canções que falam sobre uma morte como uma coisa eminente e concreta, não como uma abstração impactante para impressionar adolescentes. O primeiro foi em 1989, quando eu tinha vinte anos, sonhava com o Lula barbudão sem gravata presidente revolucionário, era o pior estudante universitário que eu já conheci, tinha uma banda de roque e ainda comprava vinis com meus caraminguás como professor de inglês. Foi assim que comprei Burguesia , o último disco do Cazuza. Um disco difícil de ouvir por causa da debilidade física do artista que fica registrada feito um fantasma na voz trêmula e vacilante do cantor. A faixa fantasmagórica mais impressionante daquele disco é “Cobaias de Deus”, música de Ângela Ro-Rô e letra am

A malandragem de terno e gravata

Outro dia um pessoa amiga e inteligente se queixava publicamente dos achaques diários a que várias empresas sujeitam seus clientes no Brasil e sugeria que isso seria resultado da nossa incapacidade de reproduzir no nosso país os padrões de eficiência do capitalismo de lugares como os Estados Unidos. Eu, como morador há quase dez anos nos Estados Unidos pensei comigo mesmo que esse modelo de achaque ao cliente é uma cópia perfeita do sistema daqui. Se você não pode ser um cliente VIP/Gourmet/Primeira-Classe, que paga um extra, não vai conseguir livrar-se do inferno a que estão sujeitos todos os outros, meros mortais. Com a gentalha todo mundo dá o preço errado, erra no troco, não cumpre prazo nem atende o telefone sem pelo menos 20 minutos de musiquinha. Trata-se de um sistema de malandragem sistematizada, regulamentada em cartório, oficializado nas letras cada vez mais miúdas dos contratos cada vez mais longos. Nos tempos, digamos, do meu pai, os malandros eram os que movimentavam, p

Um fragmento de um diário

Uma pessoa amiga me mostrou em confidência esse belíssimo fragmento do seu diário. Insisti e ela permitiu que eu compartilhasse aqui o que ela escreveu, mas em anonimidade. Espero que vocês gostem tanto quanto eu. 2004 Prometo não me esconder atrás de mim mesmo. Prometo deixar no papel nada que não seja meu sangue. A onda vem e eu perco o pé, mas não me desespero. Solto o corpo e sinto o silêncio vibrar nele a paz do esquecimento. Um vento denso de água e sal balança meu corpo feito um saco plástico vazio de mim. Imagino meu esqueleto solto dançando por dentro em ondas de sangue ainda mais denso. A próxima onda chega e me puxa mais longe. Respirar me custa, me cansa subir. Devagar aos poucos tomo ar e volto para baixo d’água. Não me sinto preso. Não estou me afogando ainda, agora. Não estou vencido ainda que passe agora por mim o salva-vidas que vem ajudar alguém mais longe da praia que eu. Não peço ajuda. Não é orgulho. Estou à deriva por bem mai

O pequeno psicopata que vive dentro de cada um de nós

Martin Shkreli sucesso das finanças para a indústria farmacêutica Estamos num mundo que promove sem tréguas a ideia de que a cobiça em estado puro não é apenas um valor positivo [o que já seria uma proposição temerária] mas um valor supremo, que deveria nos "libertar" das "distrações" da empatia e do remorso. Livre das patéticas amarras da moral, o capitalismo puro ou selvagem nos ofereceria uma meritocracia radical capaz de trazer a felicidade suprema, mas apenas aos que a merecem de verdade, por darem os maiores "retornos" aos seus "investidores" produzindo o máximo "valor" no mínimo de tempo. Vide Martin Shkreli, que aumentou o preço do Daraprim , um remédio essencial para o tratamento da AIDS e da Toxoplasmose, de US$13,50 para US$750 e promete fazer o mesmo com um remédio para tratar do Mal de Chagas viu as ações de sua empresa aumentarem US$1.50 para US$28 por ação. Como se vê, o Senhor Mercado aprova a psicopatia de Shkre

Música

--> Bulería   --> Paco de Lucía / Pepe de Lucía ¿Para qué quiero yo llorar si no tengo prima quién me oiga?                                       [“primo” é um termo de apreço por                                                                                                companheiro de mesma geração;                                                                                                os mais velhos são                                                                                                respeitosamente chamados “tíos”]   La que me tenía que oír                                                                          está viviendo en la Gloria y no se acuerda de mí. ¿Quién ha visto a una pastora adornada con ricas pieles y por coronita le han puesto una matita de laurel verde?                                                             [“matita” é um ramalhete] Al de la puerta real que me alivie las duquelas       

O que podemos reconhecer e aprender com o cruel mundo dos palhaços

O mundo dos palhaços não é um nunca mundo gentil e pacífico. Na base das relações entre os diversos palhaços [cada um executando a sua função específica no picadeiro] frequentemente aparece a questão do subjugamento violento de um ser humano por outro e também da instabilidade precária nessa relação de dominação, já que o dominado pode de repente levantar-se e transformar-se no dominador. Tudo no mundo dos palhaços é mediado pela lógica da caricatura, do exagero, mas uma vez que se compreenda que se trata de uma convenção grotesca, a crueldade constante do mundo do picadeiro fica clara. No seu manual mínimo do ator, Dario Fo explica que todos os palhaços "lidam com o mesmo problema, com a fome: fome de comida, fome de sexo, mas também fome de dignidade, de identidade, fome de poder" [ I clown, come i giullari e i «comici», trattano sempre dello stesso problema, della fame: fame di cibo, fame di sesso, ma anche fame di dignità, di identità, fame di potere &