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Showing posts from August, 2016

Obituário: Geneton Moraes Neto

22 de agosto de 1987. O Jornal do Brasil trazia no seu caderno Idéias duas entrevistas inéditas, cada uma ocupando duas páginas do jornal. Eram entrevistas feitas pouco antes da morte de Carlos Drummond de Andrade naquele mesmo ano e de Glauber Rocha, em 1981. Cristalina a visão de dois temperamentos bastante diferentes na maneira de se colocar publicamente. Drummond dizendo que iam esquecê-lo e que ele não se importava com isso porque não tinha mesmo feito nada demais, e Glauber anunciando o artista [de preferência ele mesmo, autoproclamado “poeta, escritor, crítico, pintor […] músico” além de cineasta] como Avatar que enxerga mais longe e traça os caminhos do futuro. A entrevista com Drummond não contém perguntas; só as falas do poeta com um título temático e seguido de trechos de poesias dele que de alguma forma se relacionavam com o que ele dizia. A entrevista de Glauber Rocha tem uma pequena introdução, que explica o contexto da entrevista dada a Manoel Carvalheiro e

Sobre texto de Leyla Perrone-Moysés no Suplemento de Pernambuco

Escrevo aqui breves comentários sobre o texto de Leyla Perrone-Moysés no Suplemento Cultural do Diário Oficial do Estado de Pernambuco, excelente periódico cultural. A autora fala em  “elitismo” [entre aspas] como "uma seleção visando a preservar o melhor do que já foi feito até hoje, e de uma resistência ao tsunami da indústria cultural".   Acho reveladora a ideia da autora do artigo de uma "resistência a um tsunami". Acho que a expressão concede a derrota antecipada desse campo de alta cultura que Perrone-Moyses insiste em defender como bandeira no seu embate com a odiada cultura de massas [o tsunami em questão]. No mais, pessoalmente, não tenho a menor disposição para ser porteiro de boate e ficar barrando e deixando entrar "o melhor". Mais tarde a autora fala que " algo deve ser preservado da rica tradição literária ocidental, como resistência à indústria cultural e a uma concepção da literatura como mero bem de consumo, produzida

Gentileza e Brutalidade

Pintura de Pedro Américo de 1893 que assombrou minha infância Valentim Alexandre resume nos seguintes termos os principais traços atribuídos aos portugueses como colonizadores pela ideologia do luso-tropicalismo: “Uma especial capacidade de se relacionar com outros povos, em particular os das regiões tropicais, uma forma de estar marcada pela ausência de preconceitos raciais, nos contactos com esses povos; uma particular apetência pela miscigenação, dando origem ao mestiço, em contraste com a relutância de outras populações, nomeadamente as nórdicas; e como consequência de todas estas características, uma vocação para servir de ponte, de elo de ligação entre regiões e culturas diferentes.” [Fonte aqui , na excelente tese de Sandro Motta Campos] Leio de novo então o trecho da sentença de condenação de Tiradentes: “… condenam ao Réu Joaquim José da Silva Xavier por alcunha o Tiradentes Alferes que foi da tropa paga da Capitania de Minas a que com baraço e pregã