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Literatura Coletiva, Literatura de Massa: Alloy Entertainment


Alloy Entertainment é um grupo editorial que se especializa no público adolescente e pré-adolescente. Eles não publicam livros; criam coletivamente ideias para livros, programas de TV e filmes. Depois que uma ideia inicial se desenvolve e é aprovada pelos dois sócios da Alloy, um resumo do conceito aparece e é enviado a um escritor free-lancer que escreve um primeiro capítulo/amostra. Se o pessoal da Alloy gosta do tal capítulo/amostra, o escritor monta um enredo completo junto com três editores da empresa, em sessões diárias de brainstorming coletivo. Com o enredo pronto, o escritor escreve sozinho os primeiros 10 capítulos do livro que, depois de aprovados pela Alloy, são enviados como proposta a uma editora. A Alloy produz assim uns trinta livros por ano e alguns são grandes sucessos com o público adolescente feminino, como Gossip Girl [12 livros], que virou seriado de TV [3 temporadas]. O segredo do sucesso, de acordo com uma editora de livros infantis e juvenis: “Editors and publishers get humg up about what’s good for kids. At Alloy, they always think first about what kids want to read.”

Comments

Luis Heitor said…
É oque se chama no mercado de criando a demanda...só que para literatura eu acho complicado.Para onde irá a inspiração ? A publicação de livros sempre atrelada ao que se venderá destes?Ou será que estes livros são responsáveis por grande incentivo a leitura(Harry Potter,Crepúsculo, etc) ?
É uma boa pergunta, Luís. O Gossip Girl, por exemplo, é uma porcaria terrível. Só falam de roupas de marca e marcas famosas o tempo todo. Eu não sou moralista de jeito nenhum, acho que a leitura para as crianças e adolescentes deveria ser um prazer e não uma fonte de conhecimento. Mas como pai de dois filhos ainda pequenos, fico com o coração apertado deles serem expostos a essa bobagem. Enfim, se eu fui exposto a um monte de bobagem e estou aqui, meus filhos também vão ter que sobreviver a isso. A gente fala de leitura como um valor autônomo: basta a gente ler que magicamente se torna uma pessoa melhor. Já disse um professor daqui [Stanley Fish]: se a literatura melhorasse os seres humanos, os departamentos de literatura não seriam cheios de loucos e neuróticos como são!
Gossip Girl é "Indie Rock fashion" Manhatan é figura mítica para essa geração... vida noturna, drogas e música alta... Dinheiro, mto dinheiro!
Assim a literatura cumpre sua função.
"A literatura é o meio que o homem encontrou para comunicar-se consigo mesmo" cada um tem a sua...
Eu ainda acredito que cultura de massa não tem necessariamente que ser ruim. Digo isso porque um dos escritores que eu mais admiro, Charles Dickens, era um grande sucesso de público em vida.
Mas eu acho que esse cinismo todo do Gossip Girl, essa coisa agressivamente consumista é uma rebeldia de araque - rebeldia que não incomoda a ninguém.
Luís Heitor said…
Ainda bem que meus filhos ainda estão desinformados quanto a esse Gossip Girl... já basta estes enlatados da Disney que chegam aqui no Brasil.
Como você disse, sobrevivemos a muita porcaria . Eles terão que sobreviver também.Abraços.
sabina said…
tenho uma amiga que trabalha numa editora especializada em "livros de entretenimento". não é arte intencionalmente, é diversão.

acho que em teoria pode ser inteligente até, mas isso depende do tempo e dinheiro pago aos roteiristas. no mercado de tv americano, há muita gente com doutorado em teoria literária, de boas universidades (segundo me disse um amigo que conhece bem esse mercado).

do mesmo modo, quem escreve os tabloides na inglaterra saiu de oxford e cambridge.

acho que muitos acadêmicos hoje são terrivelmente ingenuos diante da perícia extrema desse mercado.

o lance é assustadoramente profissional.
A descrição do processo criativo da Alloy é muito interessante. Acho que as pessoas podiam usar o mesmo processo para fazer coisas muito interessantes...
puxa, paulo, tive um choque nessa semana. mandei o seu texto para meus alunos (pensando que iriam ler como matéria de jornal, informação).

vários interpretaram que era uma dica pra procurarem trabalho!

o que pra uns parece quase assustador, pra outros soa como chance de emprego.
Parece uma história que está em um livro excelente que li recentemente, "Um diário de ideias" de Fábio Durão. Num fragmento do livro, Fábio conta da satisfação de colegas de um curso de Marxismmo da Universidade de Duke [a casa de Fredric Jameson] que na avaliação do curso consideraram-no "muito útil", pois é ótimo conhecer bem o sistema para se enquadrar nele da melhor proveito possível.

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