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Showing posts from November, 2018

O de sempre e as velhas novidades

O de sempre: Sai a enésima reportagem anual sobre pesquisa sobre hábitos de leitura no Brasil que, apesar da pesquisa indicar uma pequena mas constante mudança POSITIVA no número de leitores e no número de livros lidos, gera manchetes e depois inúmeros comentários carregados de complexo de vira-lata sobre "a falta de cultura" do ser fictício mais odiado do Brasil: o brasileiro [que curiosamente sempre exclui aquele que se pronuncia sobre ele, mesmo que via de regra seja ele brasileiro também].   A velha novidade: Pessoas importantes do mercado editorial brasileiro lançando cartas ao público nas redes sociais pedindo que as pessoas comprem mais livros em vista da situação periclitante da indústria no fim de 2018.  Outra velha novidade: Livro com os contos de Lygia Fagundes Telles que acaba de ser lançado pela editora mais importante do país custa simplesmente R$99,90, o que significa mais de 10% de um salário mínimo. Pesquisa do IBGE de 2017 aponta que 50% dos trabalhador

Aparece Diadorim

Diadorim aparece pela primeira vez na voz de Riobaldo, ainda naquelas primeiras páginas em que ele divaga uma espécie de prólogo para a história. Fugindo da morte, o cavalo baleado, Riobaldo se embrenha no mato até tomar um susto com um papa-mel: Conforme pensei em Diadorim. Só pensava era nele. Um joão-de-barro cantou. Eu queria morrer pensando em meu amigo Diadorim, mano-oh-mão, que estava na Serra do Pau-d’Arco, quase na divisa baiana, com nossa outra metade dos sócandelários... Com meu amigo Diadorim me abraçava, sentimento meu iavoava reto para ele...

Desaparecidos e fantasmas

O fenômeno dos desaparecidos na América Latina a partir dos anos 70 é uma antecipação de coisas que mais tarde se espalhariam, aparentemente, pelo mundo todo. Hoje desaparecem mexicanos, sírios, congolenses e filipinos aos montes, sem falar no uso indiscriminado das famigeradas "black ops" patrocinadas pelo serviço secreto de vários países chiques e cheirosos. O desaparecimento é um ato de terrorismo de estado, e poderia ser parte desse renascer geral do terrorismo no século XXI. Mas o desaparecimento tem um componente particularmente perverso: enquanto outros atos de terrorismo culminam no momento em que um grupo se responsabiliza pela ação executada, o desaparecimento se apoia, ao contrário, no ato de negar publicamente qualquer responsabilidade do estado pelo desaparecimento. A atitude se repetia de um país para o outro nos anos 70. Os porta-vozes oficiais do governo insistiam enfaticamente: não houve sequestro, não houve denúncia formal de crime, não houve detenção, n

Natalia Lafourcade: finalmente um tesouro da música mexicana

Natalia Lafourcade começou a aparecer no começo do século, com uma canção bem típica do pop mexicano: Confesso que não me interessei muito. Entendia, reconhecia a qualidade da letra e da execucão, mas achava um pouco bonitinho demais, planejado demais para o meu gosto. Era o anúncio de que ela não era mais presa fácil da máquina de produzir sucessos adolescentes [comparada com a máquina de produzir sucessos adolescentes dos anos 60, dá dó - quanto mais controle mais desanda a fórmula que um dia nos deu aqueles Beatles de "She Loves You"]. No refrão dizia: Ya no soy, ya no soy La infantil criatura, la inocencia se acabó Ya no soy, ya no soy La de ese cuerpo extraño Ahora siente el corazón Depois ela se juntou a um dos membros do Café Tacvba e lançou um lance meio Bossa-Nova de gringo chamado Natalia y La Forquetina. Era bonitinho: E às vezes até interessante: No refrão: No se pueden quejar soy un ser humano! No me puedo quejar estoy condenado! Ninguém

Os melhores da América Espanhola em 2018

A banda venezuelana La Vida Boheme pergunta no refrão [em português]: "E o que você vai fazer?" Já a vocalista dos colombianos da banda Bomba Estéreo diz com simplicidade no refrão: Es amar así,  como te amo yo. Es amar así,  sintiendo el calor. Es amar así, como te amo yo. Es amar así, cuerpo y corazón. Num trabalho lindo de reviver os gloriosos clássicos do passado, a mexicana Natalia Lafourcade nos pede: Un alma que al mirarme, sin decir nada,  Me lo dijese todo con la mirada. Café Tacvba não cansa de espantar e nos presenteou assim: La muerte dijo sí, Yo digo que no. Yo digo que sí, La vida dijo no. Al final ¿qué importa, si muerto en vida sobreviví? Outro veterano, o Residente do Calle 13 de Porto Rico [ai, pobre Porto Rico] grita: Somos anormales: Lo que me gusta de ti  Es que tu eres anormal. ¡Soy anormal!

100 anos do fim da Primeira Guerra Mundial

“(...) the old 19 th century doctrines –  Romantic humanism, liberal individualism,  dreams of social progress –  had all failed to survive the Somme ”.  [Figures of Dissent, 79] “[…] as velhas doutrinas do século xix –  o humanismo romântico, o individualismo liberal,  os sonhos de progresso social – f oram todos incapazes de sobreviver ao Somme ”. Amanhã comemora-se 100 anos do fim da Primeira Guerra Mundial. A batalha de Somme, que começou no verão de 1916, consumiu quase 20.000 soldados britânicos apenas no seu primeiro dia. Depois de quatro meses 300.000 pessoas morreram num batalha que resultou, em alguns pontos da linha que dividia os dois lados, num avanço de no máximo 5 milhas na posição das trincheiras. A escala é tão monumental que os seres humanos chafurdados na lama do Somme viraram insetos insignificantes. A carnificina fútil da Batalha de Somme é símbolo da Primeira Guerra Mundial, resultado da industrialização apl