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Showing posts from February, 2020

Poema meu: Land of the Free

The Land of the Free Raspe as axilas, não raspe as axilas, não diga suvaco que é feio, use desodorante, use mais desodorante, não use tanto desodorante, troque de desodorante, não use desodorante, tire os pelos, apare os pelos, pinte os pelos, descolora os pelos, depile-se, não se depile, nunca se depile, sempre se depile, raspe as pernas, não raspe as pernas, descolora o buço, arranque o buço, deixe o buço, passe batom, não passe batom, não use batom escuro, não use batom claro, limpe esse batom, tire o excesso, faça as sobrancelhas, não faça as sobrancelhas, tome banho todos os dias, tome dois banhos todos os dias, tome três banhos ao dia, faça xixi sentado, faça xixi em pé, lave o cabelo, não lave o cabelo todo dia, penteie o cabelo, desembarace o cabelo prenda o cabelo, solte o cabelo, alise o cabelo, use o cabelo natural, corte o cabelo, não corte o cabelo, apare o cabelo, apare as pontas do cabelo, pinte o cabelo, n

Música Country não é a porcaria que as pessoas pensam ou "High Above the Water" de Parker McCollum

High Above the Water Parker McCollum Hooked on money, hooked on chains, No more cripple, no more cane How'd I do all I did Why won't you call me the kid Best believe I'm afraid Shake it off everyday You're like a record spinnin' round I'm leavin' this town It ain't been the way that it goes Rather die alone from somethin' that I chose Go out in style Go out on fire Livin' high high high High above the water Livin' high high high High above the water Dark as day bright as night That's the big city life Troubles always next door Always beggin' for more Give and take what you got Make your way to the top I won't ever come down I feel what I've found It ain't been the way that it goes Rather die alone from somethin' that I chose Go out in style Go out on fire Livin' high high high High above the water Livin' high high high High a

O Manifesto Comunista

Dos dez pontos programáticos do Manifesto Comunista, sete parece que foram escritos ontem: 1. Imposto progressivo; 2. Abolição das heranças; 3. Crédito bancário nas mãos do estado; 4. Produção industrial nas mãos do estado; 5. Meios de comunicação e transporte nas mãos do estado; 6. Educação gratuita em escolas públicas para todos; 7. Fim do trabalho infantil

Recordar é viver: o horror é muito antigo

São dois filmes simples, feitos no Chile de Allende, com poucos recursos. Neles os refugiados políticos brasileiros denunciam a tortura do regime militar. São muitos, são quase todos bem jovens, atrapalhados quase todos entre português e espanhol e inglês. As cicatrizes estavam bem frescas. O que eles descrevem no filme, no calor da hora, é o que o Brasil escolheu colocar no poder em 2018. E agora, 2020, estão horrorizados com um político mequetrefe que passou os últimos 40 anos exaltando o que o regime militar produziu de pior. Não é hora de chorar from Luiz Alberto Barreto Leite Sanz on Vimeo .

Pindorama sonha com defuntos da Babilônia

Mais de 9.000 lojas fecharam as portas nos EUA em 2019. O número bateu o recorde anterior, de 2018, que havia batido o anterior, de 2017. 2020 promete: até agora foram anunciados 1.200 fechamentos. A coisa chegou ao ponto de séries de fotografia inteiramente dedicadas aos malls abandonados. A qui  você mais fotos de malls abandonados feitas pelo fotógrafo Seph Lawless. Um desavisado poderia pensar que a culpa toda seria da Amazon e congêneres, mas neste século XXI as lojas gigantes de varejo (Costco e Sam's Club, que pertence ao Walmart) cresceram mais que o gigante do comércio online. Ali o consumidor tipicamente sai carregando pacotes gigantes com dezenas de rolos de papel higiênicos, galões de mostarda e ketchup e caixas com milhares de sucos de caixinha. Mais importante que isso, a classe média dos EUA encolheu de 60% da população em 1970 para 40% agora. E enquanto a classe média estadounidense do século XXI, já encolhida contra a parede, não sabe o que é poupança, os 1

O rei do inferno

Entre 1992 e 1995 Radovan Karadzic era rei no inferno em que a antiga Iugoslávia se tornou com a guerra entre bósnios, croatas e sérvios. Ele só foi preso em 2008 e condenado em 2016 no tribunal de Hague por diversos crimes contra a humanidade. Carisma e disposição para jogar com nacionalismo narcisista, racismo, ressentimento, fanatismo, sede de poder e o medo da mudança e a perda de status e privilégios. Sinceramente não deve ter sido muito consolo para os milhares de pessoas cujas vidas Karadzic e seus seguidores transformaram num inferno. O presidente do Brasil têm quatro anos e disposição para destruir. O que vai acontecer depois, não será consolo.

Papai Noel não existe

Tudo o que eu pedi ao Papai Noel foi um ano de paz. Um ano sem essa coisa que por aqui os eufemistas de plantão chamam de "incidente". Aquilo que eu chamo de trumpice: um ato de racismo truculento, ostensivo, uma prova de completa falta de sensibilidade para com o sofrimento dos outros, aquela famosa prepotência de quem, por sua cor e/ou sua classe, se considera o chefe de tudo por aqui e por isso pode falar o que bem entender com quem quiser.  Mas Papai Noel realmente não existe: http://www.oudaily.com/news/ou-gaylord-college-professor-uses-racial-slur-during-class-in/article_ddf0496e-4cff-11ea-9e80-fbaf7ab99bc3.html?fbclid=IwAR1Y_h1SgiOef1-7trL3oc9wZWmA2xNqMAK9MLaZAlItHzeJ_MXwJmfkqmg Uma das pixações pertinho da escola primária onde minha filha estudou  Dessa vez não dá nem para culpar um bando de alunos desmiolados, porque a trumpice saiu da boca de um professor no meio de uma aula expositiva. Um professor de jornalismo! Sentindo-se talvez pessoalmente ofendido p

Cole Porter além das letras

Cole Porter é o Noel Rosa da música urbana americana. Só que Noel Rosa morreu cedo demais e isso dificulta a comparação. O letrista Porter chega mais perto da excelência de Chico Buarque, principalmente naquele momentos em que as rimas mais inusitadas parecem ser inescapáveis. O curioso é que um grupo de jazz meio conservador resolvesse bem no meio dos anos 60 tomar justamente a música feita por Porter (bem próxima do pop dos musicais dos anos 30 e 40 do que do jazz propriamente) para gravar um álbum delicioso e nos revelar a arquitetura fantástica das canções clássicas de Cole Porter, aqui "livres" das letras do mestre. E como não compara o começo desse "Night and Day" com o "Samba de uma nota só"?

Diário de Babylon: Visibilidade e invisibilidade

Descobri recentemente que, para as estatísticas da universidade onde trabalho, um professor, aluno ou funcionário africano, árabe ou chinês não conta nas estatísticas de diversidade racial. Só cidadãos americanos contam nos cálculos. Não basta ser africano, tem que ser African American. Pensei até em propor um abaixo-assinado com um aluno do Panamá e uma funcionária da Bósnia pedindo pela mudança nesses critérios. Mas a verdade é que com o veto a vistos para países como a Nigéria, o caminho aqui em Babylon já está sendo trilhado faz tempo - não me surpreenderia se fosse convidado a ir embora daqui há uns 15 anos. Reconsiderei meu ímpeto inicial porque fiquei com preguiça - se querem me invisibilizar, tudo bem. Aceito minha invisibilidade de bom grado. Li ontem um texto curto de Audre Lorde recentemente traduzido para o português. Ela insiste num gesto: romper o silêncio e transformá-lo em linguagem e ação, recusando o medo de se expressar. Um texto forte e corajoso em 1984, ain

Obituário: Edward Kamau Brathwaite

Um poeta nascido em Barbados e profundamente influenciado pela sua experiência durante a independência de Ghana, Edward Kamau Brathwaite era capaz de poemas que eram quase uma letra de reggae: Rise rise locks- man, rise rise rise leh we laugh dem, mock dem, stop dem, kill dem, an go’ back back to the black man lan’ back back to Af- rica. Mas Brathwaite também era capaz de outros riscos, experimentando com recordes de jornal e arranjos tipográficos de estilo concretista. Na obra dele se esconde o mundo da diáspora caribenha, inclusive o inglês que o africano mastigou, única experiência parecida com o português brasileiro, mastigado por bocas negras e indígenas até chegar a forma que ele hoje tem nas ruas das cidades brasileiras.  Mais sobre ele aqui .

Os anos feridos no México de Fritz Glockner

Três rápidas entradas no livro Los años heridos , sobre a luta armada no México: 1. Marighella no final dos anos 60 no México: “en cualquier librería de la Ciudad de México o de provincia, se podía conseguir por menos de veinte pesos el famoso libro Teoría y acción revolucionarias del brasileño Carlos Marighella, con su portada de revólveres liberadores”. [165] 2. Trecho de documento do próprio governo mexicano sobre o que depois se chamaria "a ditadura perfeita":  “Por la acción de la propaganda política podemos concebir un mundo dominado por una Tiranía Invisible que adopta la forma de un gobierno democrático”. Archivo General de la Nación [204] 3. Texto do presidente Echevarría, muito em sintonia com o conservadorismo brasileiro do século xxi: “Surgidos de hogares generalmente en proceso de disolución, criados en un ambiente de irresponsabilidad familiar, víctimas de la descoordinación entre padres y maestros, mayoritariament