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Showing posts from September, 2019

Notas sobre palestra do Professor Lewis Gordon na Universidade de Oklahoma

Minhas notas sobre a palestra de Lewis Gordon •A voz é a marca da visibilidade. Porque só tem voz quem é escutado por alguém. Ter voz é ter poder, porque o poder é a capacidade de fazer as coisas acontecerem. E ser escutado é um acontecimento importante. •São inúmeros os exemplos de escritoras mulheres que centram suas atenções na questão de ter voz e serem ouvidas. •Entretanto, o verdadeiro jogo do poder é jogado por aqueles que têm a prerrogativa de ouvir ou ignorar as vozes que circulam em volta deles. Dois gestos de poder são para mim complementares: conceder a voz a alguém [oferecendo a possibilidade de assimilação a esse alguém] ou ignorar a voz de alguém [exercendo o fechamento epistemológico contra esse alguém].  •O fechamento epistemológico é nomear o outro como o desumano monstruoso, ou o primitivo que já passou seu prazo de validade [aquilo que pertence ao passado morto], ou o mudo que não consegue articular lé com cré. •É assim que nos educamos e instruímos aos

De Balbúrdia em Balbúrdia IV

Estamos sob muita pressão. Ontem eu estava pela quarta vez tentando escrever um texto para continuar a série sobre como é trabalhar na educação básica neste momento histórico, nesse lugar chamado Brasil, nessa província chamada Minas Gerais. Não consegui porque não estava conseguindo pensar com clareza. São muitos os fatores que estão pressionando os professores. O salário baixo é o mais antigo deles, mas há ainda a indisciplina, as leis que nos dão autoridades e obrigações e nos retiram as ferramentas para cumpri-las, o volume desumano de trabalho que se tornou ainda mais desumano com fechamento de turmas e o consequente aumento do número de alunos atendidos por cada professor, a precariedade da estrutura física das escolas, as estruturas administrativas que parecem que foram pensadas para impedir a atividade fim de uma escola e nos colocar uns contra os outros, etc, etc, etc. Meu colega de trabalho Bruno Coga se matou essa noite. Não estou conseguindo escrever um textão, como d

Para contextualizar os possíveis leitores

Volta

O Paulo me convidou a colaborar com ele por aqui. Nós só nos conhecemos assim, pela internet, mas há muitos anos. Quando trocamos as primeiras palavras um com o outro, eu era uma recém adulta estudante de história muito corajosa. E eu escrevia muito. Muito mesmo. Muitas coisas aconteceram na minha existência  e no mundo desde então. Dentre elas, eu envelheci e tomei consciência do tamanho da minha ignorância. Sinto falta de não ter medo de expor ideias não testadas e de deixar frases que não se completam nos textos. O "Ensaio sem compromisso" que vou deixar postado deve ter sido a última vez que fui jovem. Eu meio que já sabia que seria assim e já sentia saudades. Será que tem como voltar? Ensaio sem compromisso 24/12/2015 Escrevi este rascunho há mais ou menos um mês. E então ele ficou guardado, esperando por duas coisas: 1-que eu tivesse tempo para acrescentar umas referências cabeçudas, 2- a oportunidade de publicá-lo em algum lugar onde fosse realmente lido. O

O mundo é o parquinho dos bilionários

Além do abuso sistemático de meninas adolescentes, são componentes da história funesta de Jeffrey Epstein, o bilionário que se suicidou na prisão: 1. Doações milionárias para universidades (no caso, Harvard); 2. Jantares elegantes para cientistas e acadêmicos respeitados; 3. Amigos poderosos igualmente endinheirados; 4. Comissões misteriosas no valor de milhões de dólares; 5. Informação privilegiada sobre idas e vindas do mundo dos negócios; 6. Operações secretas em paraísos fiscais; 7. O serviço leal e discreto de bancos gigantescos; 8. Fundações de caridade que recebem e transferem dinheiro em transações estranhas; 9. Investigações internas que são misteriosamente abortadas antes de chegar ao final; 10. Gangs de advogados com a ferocidade de pit bulls treinados para luta pronto para intimidar; 11. Acordos camaradas com promotores generosos em processos; 12. Revelações escabrosas feitas apenas depois que o sujeito caiu em desgraça.  Eis os doze componentes básicos da h

Duas canções sobre pássaros, vida, morte, memória e sentido

--> Pájaros Café Tacvba Un pájaro en el cielo atravesó. Estaba yo dormido y a mi cuerpo despertó. Como una luz fugaz se deslizó. Alcanzó las estrellas y entre ellas se perdió. De pronto casi todo entendí. Así que de repente supe a que vengo aquí. Algunos que se han marchado ya. Algunos que ya vienen y otros seguimos acá La tierra que me vio nacer. El cielo me hará perecer. Tus manos me hicieron crecer. Mis hijos me harán renacer. Yo sé que tal vez no regresarás, Pero aquí con nosotros por siempre estarás. Del cielo al suelo llega tu raíz. Los que vienen llegando ya me hacen muy feliz. Mis manos queriendo rezar,  Mis ojos queriendo llorar, Mis labios queriendo reír, Escucho la tierra vivir. The Beginning of Memory Laurie Anderson There's a story in an ancient play about birds called “The Birds” And it's a short story from before the world began. From a time when there was no earth, no land. Only air a

Poesia minha: Glória da ciência nacional

Desenho meu: Caveiras Glória da ciência nacional Já estavam quase aprendendo a viver quase sem comer quando vieram a falecer , deixando pra trás aqueles que, sem poder provar doces sonhos de consumo, compraram com arma na mão                                  e disposição na cabeça a paixão em Neves em quatorze passos penitenciários onde, antes de aprender a doçura da miséria sem traumas, também vieram a falecer , mas não sem prover                       entre montanhas de decapitados e colchões queimados a bucha desse ajustamento duro,       o consenso asmático do medo          crasso, violento, diário, banal, nossa identidade de quinhentos anos,                       nosso sorriso de esfinge reiterando doce e gentilmente                                  que “tem que matar ” já que o bom mesmo é o morto . Com a cabeça na mão e as ideias enterradas na areia fresca da praia,