Skip to main content

Posts

Showing posts from September, 2014

Receita para a fama fácil num país de MANÉS

Receita para a fama fácil num país de Manés: Bizarro por bizarro eu fico com Gaby Amarantos Ser um candidato bizarro que tem menos de 1% da intenção de voto e dizer um monte de babaquices num debate qualquer num espaço já absolutamente desproporcional só para vcs ficarem todos aí arrancando os cabelos , batendo a mão no peito e praticando o uso indiscriminado de adjetivos " contundentíssimos " [ou seriam "contundentérimos"], basicamente REPERCUTINDO sem parar o discurso do cara a torto e a direito, transformando um Zé Ninguém em um novo Bolsonaro que, nas próximas eleições, garanto que se elege deputado federal fácil. Levir por Levir fico com o Culpi... E enquanto isso, do outro da sala da injustiça... ah, os trotskistas... você mete cinco num Chevette para ir do Rio de Janeiro até Belo Horizonte e antes de chegar a Petrópolis já são três facções que, é claro, se odeiam profundamente. Cada uma delas com seu menos de 1% de intenção de votos, é claro...

Tim Buckley e várias versões de "Song to the Siren"

Era uma vez um sujeito tímido até não poder mais, cheio de problemas pessoais, tentando fazer sucesso em música popular sem grandes resultados. Ele tem uma chance de cantar em 1968 no programa dos Monkees, aquele clone de Beatles. Ele senta num banquinho e manda essa canção: Song to the Siren Tim Buckley / Larry Beckett Long afloat On shipless oceans I did all my Best to smile Till your singing Eyes and fingers Drew me loving To your isle And you sang, Sail to me, Sail to me, Let me unfold you. Here I am, Here I am, Waiting to hold you. Did I dream you Dreamed about me? Were you here When I was full sail? Now my foolish Boat is leaning Broken lovelorn On your rocks. For you sing, "Touch me not, touch me not, come back tomorrow: O my heart, O my heart shies from the sorrow" I am puzzled as the newborn child I am riddled as the tide. Should I stand amid the breakers? Should I lie with Death my bride? Hear me

A melhor cidade do mundo

Estou de volta à Cidade do México, uma das mais sensacionais que eu já conheci. Repito aqui de novo a definição explicação que dou a meus amigos brasileiros, que às vezes parecem não entender meu entusiasmo por uma cidade que não está nem nos eua nem na Europa. Biblioteca Central da UNAM 1. Aqui está Brasília, a arquitetura imaginativa e grandiloqüente, carregando a dura tarefa de traduzir o centro do poder político do país e o orgulho nacionalista dos projetos nacional-desenvolvimentistas. 2. Aqui está São Paulo [ainda que muita gente ache que São Paulo é Monterrey] porque aqui está aquela peculiar "força da grana que ergue e destrói coisas belas", incluindo aí coisas de cimento e coisas mais abstratas construídas por uma multidão vinda de todas as partes do México e do mundo. Condesa 3. Aqui estão várias Ouros Pretos, cidades coloniais encrustradas na cidade monstro que as engolim sem mastigar. 4. Aqui está o Rio de Janeiro, a capital do império com seu neoc

Desastres da Guerra com Goya e Lima Barreto

Um dos gravados da série Desastres de la Guerra de Goya “Eu duvido, eu duvido, duvido da justiça disso tudo, duvido da sua razão de ser, duvido que seja certo e necessário ir tirar do fundo de nós todos a ferocidade adormecida, aquela ferocidade que se fez e se depositou em  nós nos milenários combates com as feras, quando disputávamos a terra a elas... Eu não vi homens de hoje; vi homens de Cro-Magnon, do Neanderthal armados com machados de sílex, sem piedade, sem amor, sem sonhos generosos, a matar, sempre a matar... Este teu irmão que estás vendo também fez das suas, também foi descobrir dentro de si muita brutalidade,  muita ferocidade, muita crueldade... Eu matei, minha irmã; eu matei! E não  contente de matar, ainda descarreguei um tiro quando o inimigo arquejava a meus pés... Perdoa-me! Eu te peço perdão, porque preciso de perdão e não sei a quem pedir, a que Deus, a que homem, a alguém enfim... Não imaginas como isto faz-me sofrer...” Trecho de carta de Policarpo Quar

Música: Djavan em plena forma

Vive Djavan É inútil  chorar, noites enveredar, ruir,  por nada  assim. Minha vida  é sua como marinheiro do mar. Sofrer,  não há  porquê. Desencana, meu amor. Tudo seu é muita dor. Vive. Deixa o tempo resolver o que tem que acontecer Livre. Tanto o que eu sonhei nos amar à pleno vapor. Tanto o que eu quis Fazê-la  estrela da sagração d e um ser feliz. Desinflama, meu amor. Do seu jeito é muita dor. Vive. Deixa o tempo resolver se tiver que acontecer, vive. Desencana, meu amor. Tudo seu é muita dor. Vive. Deixa o tempo resolver o que tem que acontecer Livre. Apenas três instrumentos: bateria, contrabaixo e piano, todos sincopadamente lacônicos, perfeitamente integrados ao clima de exaltação à simplicidade da letra, com destaque para o contrabaixo que abre espaços com os seus silêncios sem abrir mão de uma "pegada" forte no ritmo. E dizer que a interpretação concentradamente de

Substitua "Estado Novo" por "Ditadura Militar" e veja o "hoje" se transformar em hoje

Coisa custosa arrumar uma foto da Pagu nos anos 40. Tive que cortar o Geraldo Ferraz dessa foto que você encontra aqui . "Agora tenho que pensar: realmente, nos anos do Estado Novo,  era comum a justificativa: 'não posso escrever sem liberdade'.  Hoje o 'slogan' é outro: 'preciso ganhar para viver'.  Mas, na realidade, só excepcionalmente  vive um escritor, aqui,  de literatura. Uns tem negócios, outros um emprego." Patrícia Galvão, "Cor Local", 1946 

Lima Barreto desce ao inferno: "Despeço-me de um por um dos meus sonhos"

Foto da Ficha de Internação de 1814, na qual Lima Barreto diz ser "alcoolista imoderado, não fazendo questão da qualidade"  Despeço-me de um por um  dos meus sonhos.  Trecho do diário de Lima Barreto em 20 de abril de 1914 Hoje tive um pavor burro.  Estarei indo para a loucura? Trecho da entrada seguinte, de 13 de julho de 1914 Estive no hospício de 18-8-14 a 13-10-1914.  Entrada seguinte do diário, completa.

Diário de New Haven: O que é que você tem na cabeça!

Moro num bairro de classe média de New Haven onde pelo menos 40% das casas são habitadas por Hassidim do grupo Lubavitch. Eles são minoria entre os judeus da cidade, mas têm crescido de forma consistente e se concentram praticamente todos aqui no bairro. Uma curiosidade que sempre me chamou a atenção no código de vestimenta deles: o sheitel que as mulheres usam para cobrir a cabeça. Trata-se de uma peruca completa que, ao mesmo em que [suponho] "protege a modéstia feminina", parece muito com uma cabeleira normal. Como eu não sou maluco de sair tirando fotografia de gente na rua, ainda mais dos meus vizinhos e muito menos das minhas vizinhas, ofereço como  testemunho visual essa foto da internet que exemplifica bem o que eu vejo na rua quase todos os dias: Sinceramente em termos de vestimenta, principalmente de mulheres, eu sou da seguinte posição: não tenho posição nenhuma, não cabe a mim dizer nada sobre o que os outros vestem; chapéu, salto-alto, gravata, biquini,

Postal: Pagu traduzindo a segunda-feira braba

Foto minha da série "The Land of the Free" "Os chinelos de cor se arrastam sonolentos ainda sem pressa na segunda-feira. Com vontade de ficar para trás. Aproveitando o último restinho de liberdade." Trecho de "TEARES" capítulo inicial de  Parque Industrial de Patrícia Galvão 

Joaquim Calado, filho do Lundu, pai do choro, avô do samba

Uma tal de Chiquinha Gonzaga começou tocando com ele. Joaquim Antonio da Silva Calado [1848-1880] viveu pouco tempo e não é muito conhecido hoje em dia. "Flor Amorosa" - que muito depois recebeu letra de Catulo da Paixão Cearense - é uma daquelas músicas que todo mundo no Brasil conhece, mesmo sem saber de onde nem porquê. E aqueles poucos que conhecem bem Joaquim Calado, entretanto... valem muito! Aqui, em três gravações de apresentações ao vivo, Altamiro Carrilho, Paulinho da Viola e Marcos Suzano são muito bem acompanhados e dão uma boa ideia do que Joaquim Calado era capaz e de que no Brasil, já no século XIX, seja na música ou na literatura, negro é a cor da excelência.

A matéria bruta da ficção e o fim das ilusões no triste fim de Policarpo Quaresma

Lima Barreto era afilhado de Afonso Celso, o Visconde de Ouro Preto, membro da Academia Brasileira de Letras, autor do inacreditável   Porque me ufano do meu país - My Country Right or Wrong.  Sua mãe deu-lhe o primeiro nome do padrinho inventor do ufanismo, que em troca ajudou o rapaz de família humilde a entrar no Liceu Popular Niteroiense, que de popular não tinha nada, era um colégio particular de elite. No seu diário o ainda jovem Lima Barreto já mostrava claramente que se recusaria a fazer o papel de afilhado agradecido, tão caro ao patriarcado brasileiro: “E os 10$000  do tal visconde ! Idiota . Os protetores são os maiores tiranos. ”  Lima Barreto logo rompe com o padrinho, mas consegue arrancar do patriotismo patrioteiro do padrinho "idiota" o cerne de um de seus melhores e mais conhecidos personagens: Policarpo Quaresma, o quixotesco patriota gentil. Em Policarpo enm sombra do católico elitista, nem do monarquista conservador, nem do escritor pedante

Kyary Pamyu Pamyu, ou confissões de um cafona excêntrico...

Podem me chamar de doido, mas eu gosto muito de Kyary Pamyu Pamyu. Conheço todos os vídeos, cada um mais delirante que o anterior. E acho que gosto de todos eles, principalmente porque não entendo nenhum completamente! pudera: os vídeos de Kyary são todos bobamente superficiais e profundamente enigmáticos e misteriosos, são alegrinhos e grotescos, são macabros e às vezes melancólicos, são infantis e surrealistas, são desbragadamente americanizados e completamente japoneses, são cafonérrimos e muito sofisticados. 

Urupês, uma Stalingrado jagunça do nosso canibal bandeirante, ou a história da bonita amizade entre o neto do fazendeiro José Hipólito de Andrade e o neto do visconde de Tremembé

Já vou começar dizendo de uma vez que gosto muito de partes da obra de Oswald de Andrade [como da de Monteiro Lobato] e que não tenho a menor disposição para querer tentar linchar nem ele nem nenhum outro escritor da primeira metade do século XX. Mas fico impressionado com as viagens em que um monte de gente embarca em cima de uma leitura apressada de meia dúzia de poemas, quem sabe o Rei da Vela e sem dúvida o "Manifesto Antropófago" para fazer desse último uma espécie de pedra de toque da cultura brasileira, um milagroso texto que seria capaz de ser simultaneamente da vanguarda modernista e pós-modernista [idem com Mário de Andrade e o Macunaíma ]. Ninguém, por exemplo, parece atentar para o fato do tal manifesto estar no mesmo número inaugural da revista onde figura também um texto sobre o Tupi [digno de ser assinado por um Policarpo Quaresma sem graça] do futuro pai do integralismo Plínio Salgado. O Oswald do "sarampão" modernista e o da "maleita"

Sobre a língua portuguesa entre baiques, xópins, piqueniques e abajures

À maneira do seu ídolo  Antônio de Castro Lopes, e is o Capitão Pelino que, cercado por alvissareiros, fala sobre o runimol de ludâmbulos que a Copa do Mundo causou.  Fiz meu doutorado em literatura comparada e me considero um comparatista contumaz. Acredito piamente que reunir uma conjunto cuidadoso de comparações e contrastes entre duas épocas ou dois lugares ou simplesmente dois textos diferentes é uma estratégia excelente para produzir conhecimento.  Quem não acredita em nada piamente que me atire a primeira pedra.  Pratico a versão extensiva dessa prática comparativa na minha vida de professor/pesquisador universitário e uma versão muito sintética [e por isso meio atabalhoada] aqui no meu blogue. Tenho que priorizar aquilo que paga o leite das crianças.  Quando leio qualquer pessoa veramente indignada com qualquer neologismo ou algum "erro" de português numa placa qualquer ou qualquer coisa desse tipo, sinto uma profunda preguiça. Quando fico sabendo que há até