Skip to main content

Posts

Showing posts from November, 2009

Homero Aridjis - Sobre lo irresistible de algunas frases falsas

Hay frases que llegan con fácil belleza y casi se escriben solas, no dejan de parecernos ajenas o voces impostadas de nosotros mismos, y hay algo en ellas que nos parece falso y su sentido dice cosas diferentes a las que creemos o queremos creer, o también, subrepticiamente nos refutan. Luego, porque nos gustan, se nos pone la cuestión de elegir entre lo que aparentemente es bello y mentiroso y nuestra ruda verdad. Pero también oralmente nos visitan, nos hablan cuando nos expresamos sobre personas, libros, cosas, situaciones, y cargadas de brillo elogian, detractan, mesuran sin que concuerde su significado con la imagen interna que nosotros tenemos o queremos tener de la persona, libro, cosa o situación a los que las aplicamos, salvo que la frase que nos parece falsa sea como una caja de doble fondo que guarda bajo su apariencia un reconocimiento, una deshonestidad, una imprecisión de juicio más nuestros que los que manifestamos en nuestras frases construidas racionalmente como verd

Diário da Babilônia - Gobble Gobble

Última quinta-feira de novembro, dia de ação de graças nos Estados Unidos. Sou definitivamente um estrangeiro. O rádio traz um programa especial de DUAS horas sobre como cozinhar um peru. Editor de revista de culinária fala sobre como todas as revistas culinárias "do mundo" estão atrás de uma forma nova de assar peru. Ele descreve um "exótico" método que usa sal grosso, "igual a um churrasco", penso eu. A mobilização é geral. Um faz questão de batatas doces, o outro de purê de batata. "Ó céus como agradar a todos?" Será que o meu peru vai sair "perfeito" [em português brasileiro isso soa ainda mais estranho...]. Amanhã é o "Black Friday", abertura oficial da temporada de caça ao presente de natal. Todas as lojas têm promoções e descontos "imperdíveis". Os jornais estão abarrotados de cupons "sensacionais". Algumas lojas vão abrir às 5 da manhã. Ano passado um pobre diabo morreu pisoteado na porta do Wal Ma

(Ainda que na ausência do dinheiro): Fama!!!!

Deu no blogue da FLIP : Carlito Azevedo escolheu os três melhores poemas da oficina da FLIP esse ano e um deles foi o meu. Nós vamos afundar Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como se dançassem ainda. Jorge de Lima Não é: "o que é arte?", mas, "quando é arte?" A partir de Nelson Goodman Antes dos remorsos desse avião despedaçado que nunca passeou com os filhos, antes dos poetas míopes, do homem de chapéu Panamá, e dos colecionadores de nuvens, antes que o sino dobre e o mosquito amigo do rei penetre a pele velada pelo mosquiteiro furado, nós vamos afundar dançando devagar até o fundo da garrafa e lá vamos nos reencontrar transformadas em bestas de corpo fosforescente, criaturas vivendo sem luz, no fundo mais fundo, submersos no lodo, sem olhos para abrir e ver, só um par de antenas cravadas no couro velho e duro. E, no momento mais agudo, esses monstros lá de baixo vão nos mastigar devagar e, como nossas irmãs hienas, vão nos enterrar na areia e voltar pa

Mais três aforismos de Mark Twain

"Man is the only animal that blushes. Or needs to." "There is no sadder thing than a young pessimist, except an old optimist." "All good things arrive unto them that wait - and don't die in the meantime."

Pérolas de Mark Twain 1

Fomos visitar a casa de Mark Twain em Hartford. Para mim ele é uma espécie de Dickens Americano [adoro Dickens mas conheço muito pouco Twain além do que li na adolescência, Tom Sawyer e Huck Finn ]. Famoso pelos aforismos, Twain tem uma série que usam a mesma estratégia retórica: começam como sentenças de moralismo ianque e depois viram tudo de pernas para o ar. Eis um exemplo: "Always obey your parents - when they are present."

Um exemplo de frase faulkneriana

Faulkner escreveu um ensaio chamado "Mississippi" em que se misturam autobiografia, história e ficção. Desse ensaio tirei uma frase faulkeneriana e traduzi para o português: The Anglo-Saxon, who would stay, to endure: the tall man roaring with Protestant scripture and boiled whiskey, Bible and jug in one hand and like as not an Indian tomahawk in the other, brawling, turbulent, uxorious and polygamous: a married invincible bachelor without destination but only motion, advancement, dragging his gravid wife and most of his mother-in-law’s kin behind him into the trackless wilderness, to spawn that child behind a log-crotched rifle and then get her with another one before they moved again, and at the same time scattering his inexhaustible other seed in three hundred miles of dusky bellies: without avarice or compassion or forethought either: felling a tree which took two thousand years to grow, to extract from it a bear or a capful of wild honey. (Essays, Speeches, and Public L

"I'm still trying to put all mankind's history in one sentence"

"As regards to any specific book, I’m trying primarily to tell a story, in the most effective way I can think of, the most moving, the most exhaustive. But I think even that is incidental to what I am trying to do, taking my output (the course of it) as a whole. I am telling the same story over and over, which is myself and the world. Tom Wolfe was trying to say everything, the world plus “I” or filtered through “I” or the effort of “I” to embrace the world in which he was born and walked a little while and then lay down again, into one volume. I am trying to go a step further. This I think accounts for what people call the obscurity, the involved formless “style,” endless sentences. I’m trying to say it all in one sentence, between one Cap and one period. I’m still trying to put it all, if possible, on one pinhead. I don’t know how to do it. All I know to do is to keep on trying in a new way. I’m inclined to think that my material, the South, is not very important to me. I just h

Poema meu ou, rindo da desgraça própria com redondilhas e rimas fáceis

Imagem: uma das aranhas de Louise Bourgeois Fonte: blogue da Art 21 Apneia be still be calm be quiet now my precious boy don't struggle like that or i will only love you more Robert Smith As seis pernas coloridas terminando em pontinhas delicadas mal deixam rastros no chão. As seis perninhas coloridas dançando em volta da linha enquanto ela desce do teto, cuidadosa, devagar. Ela pousa em minha cama, no escuro do meu corpo, quando eu pego no sono e paro de respirar. Sua língua abre meus olhos devagar enquanto passa a linha pelo buraco da agulha e as perninhas coloridas começam a me embrulhar num pacote apertado do tamanho justo do meu punho fechado. Subimos juntos de volta até a teia, até o teto, onde ninguém pode me pegar, onde eu, calmo, espero a hora do seu jantar que já vai chegar.

Lydia Davis: Collaboration With Fly

I put that word on the page, but he added the apostrophe.

Fitzgerald e Hollywood

Scott Fitzgerald era o rei da cocada literária nos anos 20 nos Estados Unidos. Mas aí chegaram os anos 30 e parecia que ninguém mais queria saber dele ou que ele não conseguia escrever mais nada que chamasse a atenção. Sem um tostão no bolso e com a mulher internada num sanatório, Fitzgerald vai para Hollywood em 1937. Não brinca em serviço, ele. Estuda minuciosamente filmes que tinham feito sucesso na época, como “A Star is Born”. Já no primeiro trabalho vêm as decepções: depois de uma primeira revisão a produção impõe que Fitzgerald trabalhe com outro roteirista e meses depois o trabalho o produtor do filme, ainda insatisfeito, resolve fazer várias outras modificações. Esse sistema de “linha de montagem” para scripts tinha sido criado nos anos 20 por um executivo prodígio, Irving Thalberg: várias equipes de escritores revisando e modificando o script até que ele chegue à forma final. Fitzgerald ficou furioso com as mudanças nos diálogos e escreveu uma carta quase desesperada ao produ

Um conto de Lydia Davies

TRYING TO LEARN I am trying to learn that this playful man who teases me is the same as that serious man talking money to me so seriously he does not even see me anymore and that patient man offering me advice in times of trouble and that angry man slamming the door as he leaves the house. I have often wanted the playful man to be more serious, and the serious man to be less serious, and the patient man to be more playful. As for the angry man, he is a stranger to me and I do not feel it is wrong to hate him. Now I am learning that if I say bitter words to the angry man as he leaves the house, I am at the same time wounding the others, the ones I do not want to wound, the playful man teasing, the serious man talking money, and the patient man offering advice. Yet I look at the patient man, for instance, whom I would want above all to protect from such bitter words as mine, and though I tell myself he is the same man as the others, I can only believe I said those words, not to

Enquete: primeira ou terceira pessoa?

Em primeira pessoa fica assim: Mal abro a boca já falo eu mesmo e o lugar de onde eu vim. Mal abro a boca já falo essa vida que passa da minha boca pra fora, onde nasce vive e morre o mundo. Mal abro a boca já mexo com quem escuta, não pelo que disse aqui mas pelo que se ouve aí, desse outro lado onde eu não posso entrar. Mal abro a boca e bordo som e palavra, num tipo de música sutil, que às vezes transborda, mas quase sempre não. Mal abro a boca. Em terceira pessoa, assim: Mal abre a boca o sujeito já falaram ele mesmo e o lugar de onde ele vem. Mal abre a boca o sujeito já fala essa vida que passa da sua boca pra fora, onde nasce vive e morre o mundo. Mal abre a boca o sujeito já mexeu com quem escuta, não pelo que disse lá mas pelo que se ouve aqui, desse outro lado onde ele não pode entrar. Mal abre a boca o sujeito e borda, som e palavra, um tipo de música sutil, que às vezes transborda, mas quase sempre não. Mal abre a boca o sujeito.

Alma masculina em corpo de mulher

Não deve ser fácil ser atriz em Hollywood, onde papéis femininos são chamados de “handbags” [uma espécie de adereço para o personagem masculino principal] ou, menos poeticamente, “girlfriend parts.” James Cameron ficou famoso, além da xaropada multi-milionária chamada “Titanic,” pelos filmes da série “O exterminador do futuro” e por dirigir filmes da série “Alien”, e seus filmes chamam a atenção justamente por não terem nada de comédias românticas mas terem personagens femininos marcantes e importantes. Olha que interessante a descrição da técnica de Cameron para escrever para esses papéis femininos: “As a young writer, Cameron borrowed a trick from Walter Hill, who, working on the outer-space horror movie ‘Alien,’ took a character (a young ensign named Ripley) that was originally male and, with minimal revision, made the character female. (Sigourney Weaver played the role, Ellen Ripley.) As Cameron described the technique, ‘You write a dialogue for a guy and then change the name.’” Ne

Darwin, o oráculo, e as tartarugas

Tenho uma profunda desconfiança das pessoas que tentam fazer de Darwin uma espécie de oráculo infalível e incriticável, algo que já fizeram antes com Freud e com Marx. Fico desconfiado principalmente quando as críticas a qualquer aspecto do pensamento de Darwin são imediatamente vinculadas a qualquer tipo de fundamentalismo religioso obscurantista. É como se eu tivesse que escolher entre aceitar tudo o que Darwin disse ou ir morar com Bin Laden nas cavernas do Paquistão. Entre os dois fundametalismos, entre a direita religiosa e a direita neo-liberal darwinista, eu fico com nenhum dos dois. Vejam, por exemplo, esse trecho de The Descent of Man : “At some future period, not very distant as measured by centuries, the civilised races of man will almost certainly exterminate, and replace, the savage races throughout the world. At the same time the anthropomorphous apes, as Professor Schaaffhausen has remarked, will no doubt be exterminated. The break between man and his nearest allies will

Trecho

Imagem retirada de http://homepages.wmich.edu/~p3morefi/heart.html, com a legenda: "This is the human heart. This is the organ that keeps blood running throughout your body. You must have one of these." Trecho de romance que ando escrevendo nas parcas horas vagas: Montezuma, Minas Gerais, existe. Está no mapa, pode procurar. Fica no norte do estado, perto da Bahia. Parece que ninguém sabe disso, nem em Belo Horizonte, que é um lugar que também existe, ainda que aqui fora, onde eu vivo, há quem duvide. Meu projeto pessoal, minha contribuição social, estadual, nacional, universal enfim, é convencer primeiro Belo Horizonte, depois o Brasil (metonímia de Rio de Janeiro e São Paulo, pelo menos para quem vive em São Paulo ou Rio de Janeiro) e finalmente o mundo inteiro, que Montezuma existe. Mas, você deve se perguntar, por que? Aqui nunca nasceu alguém importante, nunca houve ouro nem diamante, nenhuma grande batalha, nenhum bandido famoso, nenhum desastre terrível, nenhuma igreja

Diário da Babilônia – Em busca de segurança

Esse post de certa forma foi inspirado por um post interessante do Diego Viana, “A ‘sensação de segurança’ é um engodo” . Vários estados americanos adotaram variações da lei conhecida popularmente como “Three-Strikes Laws”, em que uma pessoa que é condenada criminalmente três vezes recebe na terceira vez uma sentença de prisão perpétua, ou seja, pelo menos 25 anos antes da liberdade condicional. Desde 1994, a Califórnia tem uma das versões mais severas dessa lei, já que lá a natureza do terceiro crime não importa. A maneira como a lei é aplicada dentro da Califórnia varia bastante, como sempre acontece apesar de todas as garantias que não da parte das pessoas que acham que novas leis resolvem qualquer problema. Variam, principalmente, de acordo com as convicções políticas do promotor público, e por isso os casos mais notórios vêm do Vale Central, que é o berço político de coisas como Nixon e Reagan, para quem acha que a Califórnia é um paraíso de surfistas e hippies relaxados no sul e