Faz dois anos e meio que ocorreu a megaoperação policial no Complexo do Alemão, conhecida como Chacina do Pan. Foi em 27 de junho de 2007, que se firmou uma parceria entre o Governo do Estado do Rio de Janeiro (através da Polícia Civil e Militar) e o Governo Federal (através da Força Nacional de Segurança). O efetivo policial contou com um total de 1.350 homens e a intervenção culminou, em um único dia, com 19 pessoas mortas e 62 pessoas feridas por arma de fogo.
Me lembro bem disso, especialmente, quando de minha segunda visita após a operação, ao Complexo do Alemão, na condição de coordenadora de Sistema Penitenciário e Segurança Pública da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, em 30 de junho de 2007, particularmente impactante para toda a nossa equipe. Transcorreu durante todo um longo dia, em que os casebres na rua principal e nas ruelas estreitas estavam atassalhados por projéteis. Os rastros de sangue enodoavam a paisagem. A angústia e o desespero ainda estavam estampados nos olhos dos moradores. Ouvimos dezenas de emocionados depoimentos de vítimas, familiares de vítimas e testemunhas, tomados a termo na sede da Associação dos Moradores, que narravam extorsões, roubos, furtos, ameaças, constrangimentos ilegais, lesões corporais e homicídios. Estivemos com dezenas de vítimas ainda feridas, algumas sem nenhuma hospitalização."
Ou melhor deixo uma letra de Arnaldo Antunes que apareceu recentemente no blogue do Ademir Assunção fazer o comentário:
CHACINA
Acertaram aquele e o amigo dele
O de blusa listrada com a namorada
O menor correu, seu irmão morreu
O seu pai sumiu, nunca mais se viu
O de short azul, pasto de urubu
Camisa vermelha sobre o peito nu
Dois estão feridos mais sete escondidos
E os outros seis já viraram três
Quem tava do lado também foi queimado
Quem pode escapar não pode falar
Ninguém teve pena, ninguém teve dó
Daquela família só ficou a avó
E daquele corpo, osso dente e unha
Ninguém quer o troco, ninguém testemunha
Não deu na TV, nem deu no jornal
Não foi pra cadeia, nem pro hospital
Não teve caixão, não teve funeral
E TEM MUITA GENTE QUE ACHA NORMAL
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