Foto minha: A na Visão de B |
Foto minha: B na visão de A |
1. Quando vai falar de política logo cai no esquema A x B no qual A é bom e bonito e B é malvado e feio. Está sempre incondicionalmente a favor de A e incondicionalmente contra B. Tudo o que A faz está certo ou pelo menos é justificável e tudo o que B faz está completamente errado e é injustificável. O estado de espírito é de permanente indignação.
2. Os tempos mudam e as opiniões também, mas o esquema permanece inalterado. O A de hoje pode se transformar no B de amanhã e vice-versa, mas o esquema em preto e branco sem direito a semi-tons continua.
Por exemplo, a candidata a presidente que conhecia como ninguém a área de desenvolvimento e saberia equilibrar preservação e desenvolvimento se transforma numa presidente desenvolvimentista autoritária que imita o general Geisel mal e porcamente. O valoroso companheiro de ontem é o safado governista de hoje. O aliado razoável de ontem é o inimigo número 1 de amanhã.
3. O conteúdo do que A ou B diz já está definido pelo fato de que ele se originou em A ou em B. A proposta feita por A que era razoável ontem se torna um absurdo indefensável quando é defendida por B amanhã.
4. B, todos os que defendem B ou qualquer um que ouse levantar reparos a A são imediatamente tachados de safados, hipócritas, nojentos, traidores, vendidos etc. Ninguém pode ter qualquer simpatia por B sem se revelar um completo canalha.
5. A outra opção para os que apreciem alguma coisa de B é o retardamento mental, a mais completa e absurda ignorância ou alienação ou algum tipo de doença mental.
6. Protesta contra quem despeja preconceitos contra A mas reserva para B os mesmos preconceitos que diz combater.
7. Esses preconceitos que despeja em B se apegam invariavelmente a velhos xingamentos relacionados a
raça [negro safado, capitão do mato, bugre desgraçado, nordestino burro],
gênero [fofoqueira, gorda, mulherzinha, invejosa, encalhada, piranha],
orientação sexual [sapatão, viadinho, bicha enrustida],
idade [velho gagá, moleque metido],
aparência física [cara de bunda, monstro da lagoa, feioso],
algum tipo social marcado [tarado, pinguço, corno, perua].
8. Protesta veementemente quando esses velhos xingamentos são dirigidos a A.
9. Carrega forte no rancor mazombo e no desejo facistóide de violência: quer que B morra, que tenha câncer, que seja estuprado numa cela lotada, que apanhe de cacetete até sangrar etc.
10. Horroriza-se quando um rancor bem parecido com o seu é dirigido a A.
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