Skip to main content

Um convite para conhecer um mundo: Nollywood

Sinto um rancor quase palpável nas palavras de alguns compatriotas quando reclamam do pouco reconhecimento que a cultura brasileira recebe fora do país [e às vezes até dentro do país]. O rancor não é apenas quase palpável, mas é também reconhecível, porque eu já o senti. Mas depois de anos  morando fora e ensinando literatura e cultura brasileira, mudei completamente. Eu acho que quem perde por não conhecer Machado de Assis, Guimarães Rosa, Villa-Lobos ou Pixinguinha são exatamente aqueles que não os conhecem. As obras e seus autores [pelo menos quando se trata de autores mortos] não perdem nem ganham tanto assim. Ora, se nós conhecemos Cole Porter e Miles Davis e também Cartola e Chico Buarque enquanto os estadounidenses só conhecem dois dos quatro, quem está em vantagem? Assim sendo, não sinto rancor nenhum. Mas também não sinto qualquer tipo de pena condescente pelos que não conhecem os inúmeros tesouros da cultura brasileira porque acho que, ao invés de se lamentar em rancores ou penas, deveríamos tratar de reconhecer de uma vez nossas próprias, imensas ignorâncias.

Somos de uma ignorância abismal e queremos ficar dando lição de moral aos outros ignorantes do planeta? Melhor arregaçar as mangas e tratar de enxergar onde é que nossas deficiências estão. Dou um exemplo bastante grotesco da nossa ignorância. Quais são as duas maiores indústrias do cinema no mundo? A primeira é da Índia e a segunda é a nigeriana. Vou me concentrar na segunda porque não tenho a menor dúvida em afirmar que qualquer contato com a cultura na Nigéria é um trabalho de reencontro muito importante para a cultura brasileira. Principalmente se pensamos em um país africano importantíssimo de 170 milhões de pessoas. E se pensarmos que vivemos coçando a cabeça e debatendo formas de desenvolver o cinema brasileiro estudando até os cavacos mais obscuros da cultura cinematográfica francesa ou italiana, mas não percebemos as lições valiosas que pode nos dar um país que tinha até bem pouco menos de 30 salas de cinema e mesmo assim criou um setor econômico de 5 bilhões de dólares produzindo 2.600 filmes por ano e exportando esses filmes com muito sucesso para vários países. Muita coisa boa ou não tão boa assim feita por Nollywood está disponível online no youtube, por exemplo. Ofereço um exemplo: Invasion 1897 de Lancelot Oduwa Imasuen, que fez fortuna com filmes como "Last Burial", "Games Women Play" e "Behind Closed Doors".

[É claro que seria decepcionante para muita gente xique e muderna da nossa nação Rivotril descobrir que uma indústria cultural vibrante no Brasil teria mais de Axé Music do que de Bossa Nova, mas isso já é assunto para outro dia...] 


Comments

Popular posts from this blog

Diário do Império - Antenado com a minha casa [BH]

Acompanho a vida no Brasil antes de tudo pela internet, um "lugar" estranho em que a [para mim tenebrosa] classe m é dia brasileira reina soberana, quase absoluta, com seus complexos, suas mediocridades e sua agressividade... Um conhecido, daqueles que ao inv és de ter um blogue que a gente visita quando quer, prefere um papel mais ativo, mandando suas "id éias" para os outros por e-mail, me enviou o texto abaixo, que eu vou comentar o mais sucintamente possível: resolvi a partir de amanh ã fazer um esforço e tentar, al ém do blogue, onde expresso minhas "id éias" passivamente, tentar me comunicar diretamente com as pessoas por carta... OS ALUNOS DE UNIVERSIDADES PARTICULARES DERAM UMA RESPOSTA; E A BRIGA CONTINUOU ... 1 - PROVOCAÇÃO INICIAL Estudar na PUC:............... R$ 1.200,00 Estudar no PITÁGORAS:..........R$ 1.000,00 Estudar na NEWTON:.....R$ 900,00 Estudar na FUMEC:............ R$600,00 Estudar na UNI-BH:........... R$ 550,00 Estudar na

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p

Protestantes e evangélicos no Brasil

1.      O crescimento dos protestantes no Brasil é realmente impressionante, saindo de uma pequena minoria para quase um quarto da população em 30 anos: 1980: 6,6% 1991: 9% 2000: 15,4%, 26,2 milhões 2010: 22,2%, 42,3 milhões   Há mais evangélicos no Brasil do que nos Estados Unidos: são 22,37 milhões da população e mais ou menos a metade desses pertencem à mesma igreja.  Você sabe qual é? 2.      Costuma-se, por ignorância ou má vontade, a dar um destaque exagerado a Igreja Universal do Reino de Deus e ao seu líder, Edir Macedo. A IURD nunca representou mais que 15% dos evangélicos e menos de 10% dos protestantes como um todo. Além disso, a IURD diminuiu seu número de fiéis   nos últimos 10 anos de acordo com o censo do IBGE, ao contrário de outras denominações, que já eram bem maiores. 3.      Os jornalistas dos jornalões, acostumados com a rígida hierarquia institucional católica não conseguem [ou não tentam] entender muito o sistema