Skip to main content

Derrida professor

Derrida fazendo biquinho sensual
Entre 1984 e 2003 [ele morreu em 2004] Jacques Derrida ensinou semanalmente um seminário de duas horas na Escola de Estudos Superiores em Ciências Sociais num total de 10 a 15 aulas de duas horas por ano letivo. Nesses seminários Derrida se encontrava com um público bastante variado, desde estudantes de filosofia preparando-se para os exames de entrada no sistema de ensino francês até amigos e parisienses curiosos de saber mais sobre filosofia. Para cada encontro semanal, Derrida escrevia cuidadosamente umas 20 a 30 páginas de texto completo. Fossem lidos sem interrupção à maneira de uma palestra, esses textos dariam para uns 20 a 40 minutos da aula, mas não se trata de notas soltas para a aula. Elas eram escritas primeiro à mão, depois datilografadas e finalmente escritas no computador e não foram publicadas em vida. Estão sendo publicados postumamente, os últimos seminários chegando ao inglês aí pelo final da primeira década do século XXI. Esclareço que falo aqui da edição em inglês porque meu francês [procuro sempre estar lendo alguma coisinha em francês para melhorar e por prazer mesmo] não dá para ler Derrida, autor que, suspeito, às vezes não dá para ler direito em língua nenhuma, nem no meu português nativo. Creio que está aí o maior atrativo desses seminários publicados postumamente para mim. Sobre a pena de morte e A besta e o soberano são textos complexos e sofisticados [e importantes] como TODOS os outros que li de Derrida, mas padecem menos da prosa elíptica, pseudo-poética e pedagogicamente desastrosa que costuma fazer da leitura de Derrida em qualquer língua um verdadeiro exercício masoquista.

Acho sinceramente uma bobagem a maioria das críticas ao pensamento de Derrida, porque essas críticas em geral não consideram que o pensamento de Derrida que nunca teve o desejo de destruir [desconstruir, se preferirem] para nutrir uma ambição de se impor como nova Bíblia Sabichona do Pedaço. A ideia não poderia ser simplesmente substituir os monolitos que fizeram de certos textos por um novo monolito desconstrutivista. Mesmo porque Derrida demolia as coisas amorosamente, querendo deixá-las livres e não querendo livrar-se delas. Mas sempre me deixou invocado que um trabalho tão bom e tão relevante ficasse tão soterrado em hermetismo cafona - Paul de Man, cujo pensamento não queria e não tinha nem metade do alcance de Derrida, pelo menos tinha uma certa clareza de estilo. Por isso sempre preferi as traduções para o inglês - que acabavam passando uma certa plaina pragmática anglo-saxona nas piruetas do francês, enquanto as traduções para o português, se bobear, piruetavam até mais que o original. Ler em francês, não tem jeito - só se resolvo citar alguma coisa, vou catar o original e cotejar a duras penas o original e a tradução.

Comments

Popular posts from this blog

Contos: "O engraçado arrependido" de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e

Poema meu: Saudades da Aldeia desde New Haven

Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia, 
 que pertence a menos gente 
 mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
 foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
 a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.

Diário do Império - Antenado com a minha casa [BH]

Acompanho a vida no Brasil antes de tudo pela internet, um "lugar" estranho em que a [para mim tenebrosa] classe m é dia brasileira reina soberana, quase absoluta, com seus complexos, suas mediocridades e sua agressividade... Um conhecido, daqueles que ao inv és de ter um blogue que a gente visita quando quer, prefere um papel mais ativo, mandando suas "id éias" para os outros por e-mail, me enviou o texto abaixo, que eu vou comentar o mais sucintamente possível: resolvi a partir de amanh ã fazer um esforço e tentar, al ém do blogue, onde expresso minhas "id éias" passivamente, tentar me comunicar diretamente com as pessoas por carta... OS ALUNOS DE UNIVERSIDADES PARTICULARES DERAM UMA RESPOSTA; E A BRIGA CONTINUOU ... 1 - PROVOCAÇÃO INICIAL Estudar na PUC:............... R$ 1.200,00 Estudar no PITÁGORAS:..........R$ 1.000,00 Estudar na NEWTON:.....R$ 900,00 Estudar na FUMEC:............ R$600,00 Estudar na UNI-BH:........... R$ 550,00 Estudar na