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Recordar é viver: Tocqueville e a trilha de lágrimas


Em 1831, durante sua longa viagem pelos Estados Unidos, Tocqueville viu os índios Chickasaw e Choctaw, expulsos do estado do Mississippi, atravessando o rio Mississippi em direção a Oklahoma, uma longa e dolorosa peregrinação conhecida como Trail of Tears [Trilha de Lágrimas, termo que algumas pessoas usam para todas as remoções de tribos e outros apenas para a dramática viagem dos Cheroquis da Geórgia até Oklahoma, quando um terço da tribo morreu - aqui uso o termo em geral]:

“Os índios traziam suas famílias consigo; entre eles estavam os feridos, os doentes, crianças recém-nascidas e idosos a ponto de morrer. Eles não tinham barracas nem carroças; apenas algumas provisões e armas. Eu os vi embarcar para atravessar o grande rio, e o que vi nunca vai se apagar da minha memória. Nenhum soluço ou queixa se levantava daquele agrupamento silencioso. Suas aflições vinham de muito tempo e eles as sentiam como irremediáveis.”

Segue-se uma reflexão arguta para quem quer realmente compreender a cultura dos Estados Unidos:

“Os espanhóis, com atrocidades que os marcaram com vergonha indelével, não conseguiram exterminar a raça indígena nem puderam fazer com que os índios não compartilhassem seus direitos. Os Estados Unidos conseguiu ambos resultados com incrível facilidade, calmamente, legalmente e filantropicamente, sem derramar sangue e sem violar sequer um dos grandes princípios da moralidade ante os olhos do mundo. Impossível destruir seres humanos com mais respeito pelas leis da humanidade.”

Comments

sabina said…
que triste.

houve várias dessas remoções? é uma espécie de limpeza étnica organizada, à maneira nazista (faltando apenas os campos de exterminio)?
Uma série delas, clicando no mapa vc vê todas as remoções para o que hoje é o estado de Oklahoma, mas houve outras, é um processo presente desde os tempos de colônia. Tudo é oficializado em contrato, aprovado em congresso, autorizado pelo governo, "negociado" com as lideranças indígenas. Faulkner tem várias histórias sobre os Chickasaw que são bem interessantes e foi a partir da pesquisa para o meu livro que eu cheguei no Tocqueville.

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