dormindo estamos mortos pro mundo
dormindo
estamos mortos pro mundo
não há dor
não há mágoa não há pena
se o mundo
não quer dormir conosco
não me diga
que é nosso o problema
nos
deitamos antes que escureça
acordamos
no final da manhã
terminamos
a sesta quando cai a tarde
hibernamos
no fim de semana
o pijama é
nossa segunda pele
a cama
escura, nosso endereço certo
ainda que o
coração teime em bater
seguimos impenitentemente
dormentes,
não há dor
não há mágoa não há pena
que nos
entorpeça o prazer de não ser
do Rivotril
e do
Lexotan com Champagne
agradeço
pela alface,
pela aveia,
pelo maracujá,
pela
cachaça e pela camomila
na nossa
mesa de todo dia.
Peço
auxílio aos santos
Magnésio,
Frontal, Lorax e Dalmadorm,
e proteção
às deusas
Tranxilene,
Maconha e Morfina.
Que todos
me embalem,
homo, qui nocturno pollutus
sit somnio
extra casta ad
aeternum,
Amém.
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