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Showing posts from 2009

Poema meu: Mash-Up de Cyril Connolly

Desconfie dos que falam de ética o dia inteiro. Desconfie dos charmosos que escondem viver do amor alheio. Desconfie daqueles que ignoram que sem inteligência nem sensibilidade, o caráter é caroço duro, sem polpa e casca. Desconfie dos que negam que nada dói mais do que a dor que dois amantes podem dar um ao outro. Desconfie da uva que nos ensinou o vinho que aprendemos a beber, mas desconfie também dos que se dizem livres das drogas, porque tudo nesse mundo é uma droga perigosa exceto a realidade, que é insuportável. Desconfie dos que nunca se perguntaram se a civilização de hoje é o esterco de amanhã e dos que não desconfiam do passado, a única coisa morta que não cheira mal. Desconfie dos que vivem nas encubadoras de apatia e delírio da classe média e têm medo e amam o conforto vazio e têm medo e amam o dinheiro e têm medo e odeiam o que temem. Eles não se matam por medo do que os vizinhos vão dizer. Desconfie dos que escrevem poemas como esse, cheios de imperativos. Deus ri dos nos

Pérolas de Sabedoria

Duas frases interessantes de Cyril Connoly, um crítico e editor muito influente nos anos 40 na Inglaterra. "Like everyone who talked of ethics all day long, one could not trust him half an hour with one's wife." Sobre Arthur Koestler "There are many who dare not kill themselves for fear of what the neighbors will say."

Liar, Liar, Pants on Fire!

O www.politifact.com é um site muito interessante mantido por um jornal regional, da cidade de São Petersburgo na Flórida. A premissa é muito simples: declarações de políticos e de comentaristas da mídia são checadas pelo site que então classifica a declaração como verdadeira, verdadeira na maior parte, uma meia-verdade etc. Uma mentira deslavada ganha o nome de “Pants on Fire” [uma rima infantil muito comum que as crianças usam quando acusam alguém de mentiroso, dizendo “liar, liar / pants on fire”]. O troféu da “mentira do ano” do politifact.com vai para a mentira mais deslavada de todas no ano, de acordo com os leitores e os jornalistas do site. Em 2009 ganhou, com grande merecimento, a seguinte lorota da ex-governadora do Alaska e ex-candidata a vice-presidente Sarah Palin. No dia 7 de agosto, três semanas depois que a reforma do sistema de saúde chegou ao congresso, Sarah Palin disse que o governo de Obama iria criar “death panels”, grupos de burocratas que iriam resolver se os i

Extra, Extra!

O jornal El País da Espanha repercutiu muito positivamente a nova tradução de Grande Sertão: Veredas para o espanhol, feita por Florencia Garamuño e Gonzalo Aguilar, um argentino que conhece literatura brasileira melhor que a maioria dos especialistas brasileiros. Já no primeiro parágrafo do artigo do jornal uma surpresa: “El carioca Guimarães Rosa (1908-1967), uno de los más grandes narradores del siglo XX, anduvo siempre obsesionado con el lenguaje.” Ora bolas, Guimarães Rosa tem mais em comum comigo que eu pensava… deve ser o “carioca” mais mineiro de todos os tempos… Fora essa bola fora, a reportagem é muito simpática e o site do jornal oferece as primeiras páginas da tradução nova para baixar. Também chama a atenção a iniciativa da editora Adriana Hidalgo, que também lançou há pouco tempo uma primeira tradução de Sagarana para o Espanhol. Os argentinos, enfim, estão pondo outra vez no mapa das letras hispanas o nome de Guimarães Rosa. Não consigo imaginar outro universo literário

A dança dos números em Honduras de 1 a 10

1. A ONU, a OEA e mesmo o Carter Center [ONG do ex-presidente Jimmy Carter] não enviaram equipes de fiscalização para as eleições em Honduras porque não reconheciam a convocação de eleições por um governo golpista. 2. Sem essa fiscalização externa formal tradicional, as eleições foram monitoradas por duas ONGs dos Estados Unidos, o International Republican Institute (IRI), de extrema-direita, e o National Democratic Institute (NDI), digamos que de centro-direita; ambas financiadas principalmente pelo dinheiro do USAID (the United States Agency for International Development) do governo norte-americano. 3. Isso, claro, além do TSE de Honduras, que apoiava claramente o golpe. Poucos dias antes da eleição, 90 membros do TSE de Honduras pediram demissão em protesto contra o apoio do tribunal ao regime no poder. 4. O TSE de Honduras inicialmente anunciou a participação de 62% dos eleitores – informação crucial para a legitimação internacional do regime. Nesse sentido, o porta-voz do ministé

Gabriel Orozco 3

"Es un trabajo de desprejuicio, un proceso en que busco librarme de prejuicios". Mais Gabriel Orozco aqui .

A voz do dinossauro

Sexta-feria passada o rádio do helicóptero que levava o casal Kirchner da sua residência à Casa Rosada sofreu interferência durante o todo o trajeto. Em cinco momentos ouviram-se vozes. No primero, uma voz diz “Maten a la yegua”; no segundo ouve-se um fragmento de ‘Avenida de las Camelias’ [marcha militar que acompanhava os anúncios oficiais da ditadura militar argentina]; no terceiro outra voz diz “Boludos, maten al pescado” [apelido de Nestor Kirchner]; e no quarto e quinto uma voz diz simplesmente, “Mátenla”. A interferência no radio do helicóptero foi sincronizada com o início do julgamento de pessoas que trabalhavam na ESMA [Escuela de Mecánica de la Mariña], um dos principais centros de detenção clandestinos da ditadura argentina, onde estima-se que 5.000 pessoas foram “interrogadas” e de onde só sobreviveram 150. O prédio da ESMA foi aberto ao público e será transformado em um museu dos direitos humanos. Héctor Febres, o “administrador” da “maternidade” onde centenas de bebês na

Gabriel Orozco de novo

Além da foto, a escultura que aparece na fotografia também estava na exposição. O material: barro de uma olaria no México.

Poema meu

[imagem: cartão postal de 1905 do Luna Park de Long Island] Mash-up: LUNA PARK Nací cuando del sollozo del ultimo siglo, No se oía ni un solo eco Luis Cardoza y Aragón O soluço do último século abriu a fenda onde passaram galopando as montanhas. O século seguinte ofereceu a Dom Quixote um aeroplano, lastre lançado ao passado. Do trigo dos campos de batalha um grão de loucura germinou nas minhas entranhas. O rio suicida me piscou um olho; sua suave sonolenta corrente noturna não quer os barcos que singram, fumando, pacientes, sobre trilhos, no mar. Nesse bosque de chaminés fumantes escuto o músculo obediente, fiel, sonoro, da máquina, construindo castelos no ar. Para as vidas sublinhadas em vermelho pela guerra o choro veste os rostos com caretas de máscaras de clown: o futuro é um feto que não vem. E que Deus é esse que só ouve súplicas em inglês? Que prazer sentir-se bruto e desfolhar a vida sem saber nada da feira do mundo, nada desse LUNA PARK e

Gabriel Orozco

[esse é um post em fragmentos]: - Escrever sobre artes plásticas é como fazer um quadro ou uma escultura para comentar um romance. Não é impossível, é muito interessante, mas não é nada fácil. - Visitei uma exposição retrospectiva de Gabriel Orozco. Logo me lembrei de um amigo pintor de São Paulo que, explicando porque não se sentia latino americano, me disse que não havia nenhum pintor mexicano que lhe dissesse alguma coisa, que fosse importante para ele. Como é que você se sentiria se conversasse com um artista angolano que dissesse que não se sentia africano e que nenhum artista africano lhe dizia qualquer coisa de interessante? - A obra ao lado [Papalotes Negros] foi a que mais gostei na exposição, mas é uma apresentação que convida a uma visão equivocada do trabalho dele. Por quê? Porque as pessoas vão logo achar que... Prefiro não dizer mais nada para não acabar reforçando o que eu não queria dizer sobre ele. - Trabalhar com objetos encontrados ao acaso, com materiais nada nobre

Unsilent Night

Ontem New Haven foi palco de um evento muito legal. Imagine um grupo de umas sessenta pessoas passeando durante mais ou menos 40 minutos pelas ruas da cidade, carregando mais ou menos trinta aparelhos de som portáteis tocando a mesma música sincronizada. É uma música instrumental estranha, cheia de sinos e notas longas, pequenos padrões vagamente natalinos encadeados sem transições bruscas. A música muda à medida em que você anda e se coloca em posições diferentes, no meio, nas pontas, no fim, no começo da “procissão de boomboxes”. O nome do evento é uma brincadeira com o natal: “Unsilent Night” [o nome da canção natalina Noite Feliz é Silent Night]. O compositor Phil Kline estava presente e ainda serviram chocolate quente antes e depois. O evento acontece em várias cidades diferentes todos os anos e tem uma página na internet com notícias e clips, de onde qualquer um pode baixar a música para participar. Encontrei um clip do ano passado no iutubi .

Última da Sterling: Painel de Vidro na Janela

Mais Sterling: detalhe da porta principal

Afinal de contas, o que é que eu estou fazendo aqui?

Quase três horas da tarde. A temperatura agora não vai além de nove graus até abril e geralmente, como hoje, vai estar bem abaixo disso. O sol, branco e fraco como se você uma lua metida à besta, vai se por, na menos pior das hipóteses, às 15 para as quatro [3:45]. Isso mesmo: antes das quatro horas da "tarde" [sou contra o uso aspas para indicar ironia]. Preciso me lembrar porque vivo 10 meses por ano aqui nesse clima feito para Inuits [nome que os Eskimós usam para si mesmos] e protestantes masoquistas. Vou visitar a Biblioteca Sterling: são mais de 4 milhões de livros em 15 andares dentro de uma linda ainda que bizarra leitura de uma catedral gótica. No altar, Palas Atena e companhia ilustrada. Os vitrais e as esculturas vão de Santo Agostinho aos Maias, sempre se referindo à linguagem, ao saber, aos livros. Melhor ainda: aqui dentro está quentinho!

Katherine Anne Porter

Eis o final de “Noon Wine” de 1937 "He licked the point of his pencil again, and signed his full name carefully, folded the paper and put it in his outside pocket. Taking off his right shoe and sock, he set the butt of the shotgun along the ground with the twin barrels pointed toward is head. It was very awkward. He thought about this a little, leaning his head against the gun mouth. He was trembling and his head was drumming until he was deaf and blind, but he lay down flat on the earth on his side, drew the barrel under his chin and fumbled for the trigger with his great toe. That way he could work it."

Jóias da Literatura Americana: Flannery O'Connor

Flannery O'Connor é uma das escritoras mais originais que eu já li - uma católica praticante que adorava o grotesco e foi uma das figuras mais importantes do Southern Gothic. Junto com Katherine Anne Porter, Eudora Welty, Carson McCullers [todas do sul dos Estados Unidos], acho que O'Connor escreveu a melhor literatura americana do século XX, depois de Faulkner. É dela o elenco mais estranho e fascinante de personagens que eu já conheci: uma perneta niilista formada em filosofia chamada Joy Hopewell, um vendedor de bíblias que esconde pornografia e bebida em uma Bíblia oca, etc. O'Connor é uma escritora de precisão, com uma frieza e crueldade extremas que nunca caem na banalidade, uma lição útil para muito escritor contemporâneo que quer bancar o Tarantino no papel e acaba escrevendo neo-naturalismo de quinta. Abaixo um trecho do conto "A Good Man is Hard to Find", com o confronto final entre uma vovó mal humorada e o assassino The Misfit, que acaba de dar cabo d

Poema meu

O poema - em nova versão - ainda não está completo, mas depois de ter lido os jornais hoje, ando achando que ler poesia pode ser bem mais útil e informativo . As partes em itálico são poemas de outrem [putz, acabo de perceber que o itálico sumiu do word pra internet] . A história é sensacional e o elenco é muito forte - se não deu certo a culpa é toda minha. Kafka e Drummond Ciego a las culpas, el destino puede ser despiadado con las mínimas distracciones. (…) A la realidad le gustan las simetrías y los leves anacronismos. Jorge Luis Borges, “Sur” 1939, quatro dias antes da Polônia começar a cair; imagine No meio do caminho tinha uma pedra traduzido por um judeu da Hungria. “É um maluco de Budapeste”, diziam aqui. Preso numa ilha, terceira margem do rio Danúbio; condenado a levantar e, depois de pronto, desmanchar com as mãos nuas um prédio de pedra dura; o tradutor louco de Budapeste numa pausa entre arremate e demolição, foge e vem parar aqui, no Brasil. Aqui pede ao poeta funcionári

Mais Lydia Davis: Head, Heart

Heart weeps. Head tries to help heart. Head tells heart how it is, again: You will lose the ones you love. They will all go. But even the earth will go, someday. Heart feels better, then. But the words of head do not remain long in the ears of heart. Heart is so new to this. I want them back, says heart. Head is all heart has. Help, head. Help heart.

Classificar o inclassificável

Entender as categorias raciais no Brasil e nos Estados Unidos me ensinou que é preciso ter cuidado com as certezas que a gente tem sobre quem é o quê quando e como. Nada é tão simples como parece. Quem sabe dizer com certeza, sempre, quem é homem e quem é mulher? Será que todo mundo é homossexual ou heterossexual ou bissexual? Caster Semenya era uma corredora extremamente promissora da Africa do Sul. Uma pessoa humilde, do norte rural do país, Caster começou a treinar descalça e conseguiu entrar para universidade com uma bolsa e fazer carreira internacional. Sua especialidade era os 800 metros e ela parecia estar à beira de ganhar tudo nessa categoria. Mas Caster é uma italasi – uma mulher com jeito de homem, com feições masculinas – e o comitê internacional de atletismo resolveu que ela precisava ser “testada” além do trivial [e ao mesmo tempo extremamente humilhante] “abaixa a calça”. O problema é que mesmo os famosos cromossomos XX e XY são menos definitivos do que parecem – há, por

É insuportável mas é meu

Às vezes a gente escreve uma coisa que acha boa e ninguém gosta. Mesmo assim a gente continua gostando do que escreveu, às vezes. Mas às vezes a gente escreve umas coisas que nem a gente mesmo gosta. Um textos que eu classifico como insuportáveis , mas que, como filhos que a gente odeia mas também ama, a gente é obrigado a suportá-los. Segue abaixo um deles. É engraçado [ou triste] como uma idéia que a gente ser irresistível acaba gerando um texto que a gente mesmo acha insuportável - imagina os outros. Esse foi feito durante a oficina em Paraty mas não foi mostrado lá - afinal a primeira impressão é importante e ninguém quer ficar marcado como "o sujeito dos textos insuportáveis"... o mundo inteiro entre uma maiúscula e um ponto final I’m trying to say it all in one sentence, between one Cap and one period. I’m still trying to put it all, if possible, on one pinhead. I don’t know how to do it. All I know to do is to keep on trying in a new way William Faulkner Enfiar o mun

Homero Aridjis - Sobre lo irresistible de algunas frases falsas

Hay frases que llegan con fácil belleza y casi se escriben solas, no dejan de parecernos ajenas o voces impostadas de nosotros mismos, y hay algo en ellas que nos parece falso y su sentido dice cosas diferentes a las que creemos o queremos creer, o también, subrepticiamente nos refutan. Luego, porque nos gustan, se nos pone la cuestión de elegir entre lo que aparentemente es bello y mentiroso y nuestra ruda verdad. Pero también oralmente nos visitan, nos hablan cuando nos expresamos sobre personas, libros, cosas, situaciones, y cargadas de brillo elogian, detractan, mesuran sin que concuerde su significado con la imagen interna que nosotros tenemos o queremos tener de la persona, libro, cosa o situación a los que las aplicamos, salvo que la frase que nos parece falsa sea como una caja de doble fondo que guarda bajo su apariencia un reconocimiento, una deshonestidad, una imprecisión de juicio más nuestros que los que manifestamos en nuestras frases construidas racionalmente como verd

Diário da Babilônia - Gobble Gobble

Última quinta-feira de novembro, dia de ação de graças nos Estados Unidos. Sou definitivamente um estrangeiro. O rádio traz um programa especial de DUAS horas sobre como cozinhar um peru. Editor de revista de culinária fala sobre como todas as revistas culinárias "do mundo" estão atrás de uma forma nova de assar peru. Ele descreve um "exótico" método que usa sal grosso, "igual a um churrasco", penso eu. A mobilização é geral. Um faz questão de batatas doces, o outro de purê de batata. "Ó céus como agradar a todos?" Será que o meu peru vai sair "perfeito" [em português brasileiro isso soa ainda mais estranho...]. Amanhã é o "Black Friday", abertura oficial da temporada de caça ao presente de natal. Todas as lojas têm promoções e descontos "imperdíveis". Os jornais estão abarrotados de cupons "sensacionais". Algumas lojas vão abrir às 5 da manhã. Ano passado um pobre diabo morreu pisoteado na porta do Wal Ma

(Ainda que na ausência do dinheiro): Fama!!!!

Deu no blogue da FLIP : Carlito Azevedo escolheu os três melhores poemas da oficina da FLIP esse ano e um deles foi o meu. Nós vamos afundar Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como se dançassem ainda. Jorge de Lima Não é: "o que é arte?", mas, "quando é arte?" A partir de Nelson Goodman Antes dos remorsos desse avião despedaçado que nunca passeou com os filhos, antes dos poetas míopes, do homem de chapéu Panamá, e dos colecionadores de nuvens, antes que o sino dobre e o mosquito amigo do rei penetre a pele velada pelo mosquiteiro furado, nós vamos afundar dançando devagar até o fundo da garrafa e lá vamos nos reencontrar transformadas em bestas de corpo fosforescente, criaturas vivendo sem luz, no fundo mais fundo, submersos no lodo, sem olhos para abrir e ver, só um par de antenas cravadas no couro velho e duro. E, no momento mais agudo, esses monstros lá de baixo vão nos mastigar devagar e, como nossas irmãs hienas, vão nos enterrar na areia e voltar pa

Mais três aforismos de Mark Twain

"Man is the only animal that blushes. Or needs to." "There is no sadder thing than a young pessimist, except an old optimist." "All good things arrive unto them that wait - and don't die in the meantime."

Pérolas de Mark Twain 1

Fomos visitar a casa de Mark Twain em Hartford. Para mim ele é uma espécie de Dickens Americano [adoro Dickens mas conheço muito pouco Twain além do que li na adolescência, Tom Sawyer e Huck Finn ]. Famoso pelos aforismos, Twain tem uma série que usam a mesma estratégia retórica: começam como sentenças de moralismo ianque e depois viram tudo de pernas para o ar. Eis um exemplo: "Always obey your parents - when they are present."

Um exemplo de frase faulkneriana

Faulkner escreveu um ensaio chamado "Mississippi" em que se misturam autobiografia, história e ficção. Desse ensaio tirei uma frase faulkeneriana e traduzi para o português: The Anglo-Saxon, who would stay, to endure: the tall man roaring with Protestant scripture and boiled whiskey, Bible and jug in one hand and like as not an Indian tomahawk in the other, brawling, turbulent, uxorious and polygamous: a married invincible bachelor without destination but only motion, advancement, dragging his gravid wife and most of his mother-in-law’s kin behind him into the trackless wilderness, to spawn that child behind a log-crotched rifle and then get her with another one before they moved again, and at the same time scattering his inexhaustible other seed in three hundred miles of dusky bellies: without avarice or compassion or forethought either: felling a tree which took two thousand years to grow, to extract from it a bear or a capful of wild honey. (Essays, Speeches, and Public L

"I'm still trying to put all mankind's history in one sentence"

"As regards to any specific book, I’m trying primarily to tell a story, in the most effective way I can think of, the most moving, the most exhaustive. But I think even that is incidental to what I am trying to do, taking my output (the course of it) as a whole. I am telling the same story over and over, which is myself and the world. Tom Wolfe was trying to say everything, the world plus “I” or filtered through “I” or the effort of “I” to embrace the world in which he was born and walked a little while and then lay down again, into one volume. I am trying to go a step further. This I think accounts for what people call the obscurity, the involved formless “style,” endless sentences. I’m trying to say it all in one sentence, between one Cap and one period. I’m still trying to put it all, if possible, on one pinhead. I don’t know how to do it. All I know to do is to keep on trying in a new way. I’m inclined to think that my material, the South, is not very important to me. I just h

Poema meu ou, rindo da desgraça própria com redondilhas e rimas fáceis

Imagem: uma das aranhas de Louise Bourgeois Fonte: blogue da Art 21 Apneia be still be calm be quiet now my precious boy don't struggle like that or i will only love you more Robert Smith As seis pernas coloridas terminando em pontinhas delicadas mal deixam rastros no chão. As seis perninhas coloridas dançando em volta da linha enquanto ela desce do teto, cuidadosa, devagar. Ela pousa em minha cama, no escuro do meu corpo, quando eu pego no sono e paro de respirar. Sua língua abre meus olhos devagar enquanto passa a linha pelo buraco da agulha e as perninhas coloridas começam a me embrulhar num pacote apertado do tamanho justo do meu punho fechado. Subimos juntos de volta até a teia, até o teto, onde ninguém pode me pegar, onde eu, calmo, espero a hora do seu jantar que já vai chegar.

Lydia Davis: Collaboration With Fly

I put that word on the page, but he added the apostrophe.

Fitzgerald e Hollywood

Scott Fitzgerald era o rei da cocada literária nos anos 20 nos Estados Unidos. Mas aí chegaram os anos 30 e parecia que ninguém mais queria saber dele ou que ele não conseguia escrever mais nada que chamasse a atenção. Sem um tostão no bolso e com a mulher internada num sanatório, Fitzgerald vai para Hollywood em 1937. Não brinca em serviço, ele. Estuda minuciosamente filmes que tinham feito sucesso na época, como “A Star is Born”. Já no primeiro trabalho vêm as decepções: depois de uma primeira revisão a produção impõe que Fitzgerald trabalhe com outro roteirista e meses depois o trabalho o produtor do filme, ainda insatisfeito, resolve fazer várias outras modificações. Esse sistema de “linha de montagem” para scripts tinha sido criado nos anos 20 por um executivo prodígio, Irving Thalberg: várias equipes de escritores revisando e modificando o script até que ele chegue à forma final. Fitzgerald ficou furioso com as mudanças nos diálogos e escreveu uma carta quase desesperada ao produ

Um conto de Lydia Davies

TRYING TO LEARN I am trying to learn that this playful man who teases me is the same as that serious man talking money to me so seriously he does not even see me anymore and that patient man offering me advice in times of trouble and that angry man slamming the door as he leaves the house. I have often wanted the playful man to be more serious, and the serious man to be less serious, and the patient man to be more playful. As for the angry man, he is a stranger to me and I do not feel it is wrong to hate him. Now I am learning that if I say bitter words to the angry man as he leaves the house, I am at the same time wounding the others, the ones I do not want to wound, the playful man teasing, the serious man talking money, and the patient man offering advice. Yet I look at the patient man, for instance, whom I would want above all to protect from such bitter words as mine, and though I tell myself he is the same man as the others, I can only believe I said those words, not to

Enquete: primeira ou terceira pessoa?

Em primeira pessoa fica assim: Mal abro a boca já falo eu mesmo e o lugar de onde eu vim. Mal abro a boca já falo essa vida que passa da minha boca pra fora, onde nasce vive e morre o mundo. Mal abro a boca já mexo com quem escuta, não pelo que disse aqui mas pelo que se ouve aí, desse outro lado onde eu não posso entrar. Mal abro a boca e bordo som e palavra, num tipo de música sutil, que às vezes transborda, mas quase sempre não. Mal abro a boca. Em terceira pessoa, assim: Mal abre a boca o sujeito já falaram ele mesmo e o lugar de onde ele vem. Mal abre a boca o sujeito já fala essa vida que passa da sua boca pra fora, onde nasce vive e morre o mundo. Mal abre a boca o sujeito já mexeu com quem escuta, não pelo que disse lá mas pelo que se ouve aqui, desse outro lado onde ele não pode entrar. Mal abre a boca o sujeito e borda, som e palavra, um tipo de música sutil, que às vezes transborda, mas quase sempre não. Mal abre a boca o sujeito.

Alma masculina em corpo de mulher

Não deve ser fácil ser atriz em Hollywood, onde papéis femininos são chamados de “handbags” [uma espécie de adereço para o personagem masculino principal] ou, menos poeticamente, “girlfriend parts.” James Cameron ficou famoso, além da xaropada multi-milionária chamada “Titanic,” pelos filmes da série “O exterminador do futuro” e por dirigir filmes da série “Alien”, e seus filmes chamam a atenção justamente por não terem nada de comédias românticas mas terem personagens femininos marcantes e importantes. Olha que interessante a descrição da técnica de Cameron para escrever para esses papéis femininos: “As a young writer, Cameron borrowed a trick from Walter Hill, who, working on the outer-space horror movie ‘Alien,’ took a character (a young ensign named Ripley) that was originally male and, with minimal revision, made the character female. (Sigourney Weaver played the role, Ellen Ripley.) As Cameron described the technique, ‘You write a dialogue for a guy and then change the name.’” Ne

Darwin, o oráculo, e as tartarugas

Tenho uma profunda desconfiança das pessoas que tentam fazer de Darwin uma espécie de oráculo infalível e incriticável, algo que já fizeram antes com Freud e com Marx. Fico desconfiado principalmente quando as críticas a qualquer aspecto do pensamento de Darwin são imediatamente vinculadas a qualquer tipo de fundamentalismo religioso obscurantista. É como se eu tivesse que escolher entre aceitar tudo o que Darwin disse ou ir morar com Bin Laden nas cavernas do Paquistão. Entre os dois fundametalismos, entre a direita religiosa e a direita neo-liberal darwinista, eu fico com nenhum dos dois. Vejam, por exemplo, esse trecho de The Descent of Man : “At some future period, not very distant as measured by centuries, the civilised races of man will almost certainly exterminate, and replace, the savage races throughout the world. At the same time the anthropomorphous apes, as Professor Schaaffhausen has remarked, will no doubt be exterminated. The break between man and his nearest allies will

Trecho

Imagem retirada de http://homepages.wmich.edu/~p3morefi/heart.html, com a legenda: "This is the human heart. This is the organ that keeps blood running throughout your body. You must have one of these." Trecho de romance que ando escrevendo nas parcas horas vagas: Montezuma, Minas Gerais, existe. Está no mapa, pode procurar. Fica no norte do estado, perto da Bahia. Parece que ninguém sabe disso, nem em Belo Horizonte, que é um lugar que também existe, ainda que aqui fora, onde eu vivo, há quem duvide. Meu projeto pessoal, minha contribuição social, estadual, nacional, universal enfim, é convencer primeiro Belo Horizonte, depois o Brasil (metonímia de Rio de Janeiro e São Paulo, pelo menos para quem vive em São Paulo ou Rio de Janeiro) e finalmente o mundo inteiro, que Montezuma existe. Mas, você deve se perguntar, por que? Aqui nunca nasceu alguém importante, nunca houve ouro nem diamante, nenhuma grande batalha, nenhum bandido famoso, nenhum desastre terrível, nenhuma igreja

Diário da Babilônia – Em busca de segurança

Esse post de certa forma foi inspirado por um post interessante do Diego Viana, “A ‘sensação de segurança’ é um engodo” . Vários estados americanos adotaram variações da lei conhecida popularmente como “Three-Strikes Laws”, em que uma pessoa que é condenada criminalmente três vezes recebe na terceira vez uma sentença de prisão perpétua, ou seja, pelo menos 25 anos antes da liberdade condicional. Desde 1994, a Califórnia tem uma das versões mais severas dessa lei, já que lá a natureza do terceiro crime não importa. A maneira como a lei é aplicada dentro da Califórnia varia bastante, como sempre acontece apesar de todas as garantias que não da parte das pessoas que acham que novas leis resolvem qualquer problema. Variam, principalmente, de acordo com as convicções políticas do promotor público, e por isso os casos mais notórios vêm do Vale Central, que é o berço político de coisas como Nixon e Reagan, para quem acha que a Califórnia é um paraíso de surfistas e hippies relaxados no sul e

Outono em New Haven

O quintal aqui de casa...

Diário da Babilônia: Rakkasans

Trechos do discurso feito pelo Coronel Michael Dane Steele, comandante dos Rakkasans de 2004 a 2006, quando essa divisão de paraquedistas ficou famosa pela execução sumária de homens desarmados e por manter um quadro onde contavam o número de iraquianos que haviam matado: “I am talking about the moment of truth, when you’re about to kill the other son of a bitch. I do not want you to choke.” “The guy that is going to win is the one who gets violent the fastest.” “Think of yourselves as apex predators: ‘if you mess with me, I will eat you.’” [Os Rakkasans costumavam referir a si mesmo como “carnívoros” e aos militares envolvidos na reconstrução e nas relações com civis iraquianos como “herbívoros.”] “Men, it is time to go hunting. You’re the hunter. You’re the predator. You’re looking for the prey. Rakkasans!” Finalmente, o lema do 101st Airborne Division do exército Americano chamados “Rakkasans”: “We give the enemy the maximun opportunity to give his life for his country” E ainda há o

Literatura Coletiva, Literatura de Massa: Alloy Entertainment

Alloy Entertainment é um grupo editorial que se especializa no público adolescente e pré-adolescente. Eles não publicam livros; criam coletivamente ideias para livros, programas de TV e filmes. Depois que uma ideia inicial se desenvolve e é aprovada pelos dois sócios da Alloy, um resumo do conceito aparece e é enviado a um escritor free-lancer que escreve um primeiro capítulo/amostra. Se o pessoal da Alloy gosta do tal capítulo/amostra, o escritor monta um enredo completo junto com três editores da empresa, em sessões diárias de brainstorming coletivo. Com o enredo pronto, o escritor escreve sozinho os primeiros 10 capítulos do livro que, depois de aprovados pela Alloy, são enviados como proposta a uma editora. A Alloy produz assim uns trinta livros por ano e alguns são grandes sucessos com o público adolescente feminino, como Gossip Girl [12 livros], que virou seriado de TV [3 temporadas]. O segredo do sucesso, de acordo com uma editora de livros infantis e juvenis: “Editors and publi

Crise?

Uma citação sobre o conceito de crise na historiografia do historiador Francisco Iglésias que eu acho muito interessante: "A regra é a mudança, que pode ser mais ou menos acelerada, pois não há igualdade no fluxo temporal. Todas as fases são críticas, há uma crise permanente, de modo que a afirmativa comum de que determinada época é de crise é a-histórica, pois todas o são: apenas em algumas o ritmo se acelera, há o salto - são as revoluções. A nota constante, porém, é a mudança."

Diário da Babilônia: "Brazil"

A professora de artes dramáticas da escola do meu filho organizou com os alunos de 5a e 6a séries uma apresentação sobre o "Brazil" no dia internacional da escola. Obviamente o foco foi o "Carnival" e o "Samba". Descobri coisas interessantes sobre meu país: por exemplo sobre as origens "espanholas" da nossa festa mais importante e, principalmente, que o nosso "Samba" é , pelo que vi no palco, uma versão bem simplificada da Macarena! And Let's Dance!

Levi Stubbs

Levi Stubbs era o cantor principal do Four Tops, um dos grupos vocais mais conhecidos da era clássica da gravadora Motown. Aqui você pode ver e ouvir Levi Stubbs com Aretha Franklin ao piano no iutúbio. O que é que Billy Bragg, um cantor super politizado que mistura folk com atitude punk, tem a ver com a Motown? A Motown é um produto do mundo negro industrializado, de um tempo em que a música negra americana conquistou o mundo além dos muros do gueto. Cantores de jazz como Levi conquistaram o mundo de língua inglesa basicamente com canções de amor. Mas não são canções de amor simplesmente, são uma canção de amor como Reach Out (I'll Be There).

Era uma vez Billy Bragg

Há séculos e séculos atrás, quando eu sonhava acordado [e sozinho] com música e fingia estudar arquitetura, Billy Bragg era um dos meus modelos. Mas não fui eu mas sim um companheiro de viagem que quis que a gente tocasse "Levi Stubb's Tears" de Billy Bragg. E assim foi. Aqui a letra: Levi Stubb's Tears With the money from her accident She bought herself a mobile home So at least she could get some enjoyment Out of being alone No one could say that she was left up on the shelf Its you and me against the world kid she mumbled to herself Chorus: When the world falls apart some things stay in place Levi stubbs tears run down his face She ran away from home with her mothers best coat She was married before she was even entitled to vote And her husband was one of those blokes The sort that only laughs at his own jokes The sort that war takes away And when there wasnt a war he left her anyway Norman whitfield and barratt strong Are here to make everything right thats wrong

Poetas Méxicanos - Efraín Huerta

EL TAJÍN a David Huerta a Pepe Gelada ...el nombre de El Tajín le fue dado por los indígenas totonacas de la región por la frecuencia con que caían rayos sobre la pirámide... 1 Andar así es andar a ciegas, andar inmóvil en el aire inmóvil, andar pasos de arena, ardiente césped. Dar pasos sobre agua, sobre nada —el agua que no existe, la nada de una astilla—, dar pasos sobre muertes, sobre un suelo de cráneos calcinados. Andar así no es andar sino quedarse sordo, ser ala fatigada o fruto sin aroma; porque el andar es lento y apagado, porque nada está vivo en esta soledad de tibios ataúdes. Muertos estamos, muertos en el instante, en la hora canicular, cuando el ave es vencida y una dulce serpiente se desploma. Ni un aura fugitiva habita este recinto despiadado. Nadie aquí, nadie en ninguna sombra. Nada en la seca estela, nada en lo alto. Todo se ha detenido, ciegamente, como un fiero puñal de sacrificio. Parece un mar de sangre pe

Recordar é viver

Estou lendo um livro meio despretensioso e maravilhoso como documento dos anos 70 no Brasil. Patrulhas Ideológicas é composto de uma série de entrevistas com artistas e intelectuais em 1978 sobre o assunto das patrulhas. Coloco aqui um trecho da resposta de Antônio Calmon para uma pergunta bem típica da época sobre "a crise em termos de pensamento de esquerda no Brasil e no mundo". Ele diz que prefere contar uma história e manda bala. Abaixo só um trechinho, já no meio da resposta: "Quando cheguei em Copacabana minha namorada abriu a porta da casa e anunciou que o Jango tinha se mandado. Choros, palavrões, etc... até que o pai dela veio buscá-la para levá-la para casa, em Santa Teresa. Pegamos a Nossa Senhora de Copacabana e como se não bastasse o bode que estávamos, ainda ficamos dentro da passeata de automóveis que ia queimar a UNE. A classe média comemorava com bandeiras, papel picado e outras frescuras, essa mesma classe média que hoje está aí, na merda! Bem feito!

Diário da Babilônia - Há também os que vivem para não consumir

Nos Estados Unidos, considerado o centro mundial do consumismo mais extremado, há um curioso movimento radical chamado Freeganism [a palavra mistura de Veganism com Free]. É um movimento de anti-consumismo radical que define uma forma de vida: os freegans variam muito de uma comunidade para outra mas, em geral, eles costuram suas próprias roupas de roupas [usadas e descartadas pelos outros], aprendem a comer coisas como cogumelos e frutas silvestres que encontram pelos parques e florestas daqui, se locomovem apenas a pé ou de bicicleta [reciclada a partir de bicicletas abandonadas] ou, em ultimo caso, de transporte público. Trabalham sempre o mínimo possível. Alguns organizam “free, really free markets” onde as pessoas fazem trocas e dão presentes umas às outras, outros ocupam edifícios abandonados e fazem hortas comunitárias em terrenos baldios. Outros ainda complementam sua dieta com o que encontram em lixeiras, geralmente de restaurantes. Sinceramente admiro as pessoas que têm a cor

Gustav Mahler e o Funk CArioca

José Juan Tablada

Tablada [1871-1945] é um outro poeta mexicano genial. Um daqueles poetas de duas vidas, um pouco como Manuel Bandeira. A primeira vida, como poeta do modernismo hispanoamericano, que é mais ou menos como o nosso parnasianismo/simbolismo; e a segunda vida como um iconoclasta amante das letras japonesas e introdutor do haiku na America Latina. Poemas de Un día… La mañana Pajarera Distintos cantos a la vez; La pajarera musical Es una torre de Babel. Los zopilotes Llovió toda la noche y no acaban de peinar sus plumas al sol, los zopilotes. Las abejas Sin cesar gotea Miel el colmenar; Cada gota es una abeja… El saúz Tierno saúz casi oro, casi ámbar, casi luz... La tarde La palma En la siesta cálida ya ni sus abanicos mueve la palma… Hojas secas El jardín está lleno de hojas secas; nunca vi tantas hojas en sus árboles verdes, en primavera. El crepúsculo La buganvilia La noche anticipa y de pronto arde en el crepúsculo la pirotecnia de la buganvilla. Mariposa nocturna Devuelve a la desnuda ra

Extra! Extra!

Final da minha fala daqui ha pouco no simposio sobre literatura latino americana contemporanea "mas alla de la nacion": As ethnographers, as poets, as tourists in search for “love stories,” a bestseller turned into a movie, or simply a good grant: what is the best stance for new Latin American writers as their fictional imagination moves them beyond their national borders? In other words, for what reasons and with what purposes are Latin American writers going to travel in the 21st century? The answers to these questions – I am sure that there will be many – will shape the work of several contemporary Latin American writers.

Poesia Mexicana - Alfonso Reyes

Os tarahumaras [rarámuri é o nome que eles dão a si mesmos] vivem nas montanhas do norte do México, de onde veio o poeta Alfonso Reyes. São famosos por correr distâncias impressionantes nas montanhas [tipo 160 km em uma só corrida] e por terem sido objeto de veneração do surrealista Artaud que escreveu um livro sobre suas experiências com o alucinógeno Peyotl. O melhor texto sobre os tarahumaras que eu conheço até hoje é esse poema. YERBAS DEL TARAHUMARA Han bajado los indios tarahumaras, que es señal de mal año y de cosecha pobre en la montaña. Desnudos y curtidos, duros en la lustrosa piel manchada, denegridos de viento y de sol, animan las calles de Chihuahua, lentos y recelosos, con todos los resortes del miedo contraídos, como panteras mansas. Desnudos y curtidos, bravos habitadores de la nieve —como hablan de tú—, contestan siempre así la pregunta obligada: —"Y tú ¿no tienes frío en la cara?" Mal año en la montaña, cuando el grave deshielo de las cumbres escurre has

Mash-up 4 – Robert Browning

Ele fez essa carne de gente, essa bolha inflada, essa massa socada que engarrafa e gruda no chão dessa terra essa alma humana, esse bafo da boca dEle, vaporosa vertigem de cinza e nada. Mas Ele faz aparecer nessa mesma massa esses picos e rachos por onde esse vapor engenhoso, esse fogo esbelto, essa música delgada, essa coluna de silêncio puro, esse rio assombroso que se levanta do leito e flui pelos ares, que escapa assim de volta, sempre um pouco antes da hora. Isso e tudo mais nesse inferno que é o artesanato Seu aqui na terra me aparece assim: torcido e torneado com tinta que escorre da Sua boca e condensa no papel jornal dum livrinho vagaba jogado num canto cheio de entulho sobre-humano. Ele nos quer assim: formigueiros crescendo dentro de uma caixa de ferro, sem caber dentro.

Narrador Monstruoso

Uma só cabeça e vários tentátulos, várias pernas tentáculos que se assentam em terras diversas e variados e variados mares, deles sugando o que podem oferecer e ofertando o produto à cabeça de um olho ciclópico, montada em um dorso gigantesco de onde saem braços, de onde saem mãos que selecionam caminhos pelas teclas do computador. A cabeça vive dilacerada pelos tentáculos que se distanciam em busca de novos apoios. Cada novo apoio, se não for uma caravela, é uma terra, se não for uma terra, é uma caravela. Se não for caravela ou terra, é uma tela de computador a ser preenchida. Silviano Santiago, Viagem ao México

Esclarecimento breve

Só para explicar: republicanos e democratas são em geral muito diferentes e a maioria dos republicanos e uma boa parte dos democratas correspondem às generalizações que se fazem deles na imprensa. Mas qualquer partido político grande abriga debaixo de um mesmo guarda-chuva muita gente diferente em qualquer lugar, inclusive nos Estados Unidos. A tendência das bases republicanas de rejeitar candidatos moderados e favorecer candidatos super-conservadores [frequentemente fanáticos, seja por oportunismo ou por crença mesmo] é uma das razões dos recentes fracassos do partido, que tinha maioria nas duas casas do congresso e agora é "minoria folgada" nas duas. Para não falar no caso de sujeitos construirem carreiras políticas como super-conservadores em termos de comportamento e serem presos caçando aventuras gays num banheiro público ou arrumando emprego para o marido da amante...

Diário da Babilônia - As coisas são mesmo complicadas...

Jefferson Finis Davis (1808 – 1889) era senador pelo Mississippi quando a Guerra Civil eclodiu – os estados do sul dos Estados Unidos quiseram separar-se do resto do país para manter sua “soberania” – o sistema escravista. Jefferson Davis renunciou no senado e foi o único presidente dos “Confederate States of America” entre 1861 to 1865. Do outro lado na Guerra Civil estava o presidente Abraham Lincoln. Bem, Lincoln era do Partido Republicano e Jefferson Davis do Partido Democrata… Uma simplificação pode mesmo ser pior que uma inexatidão - a política não é cheia de contradições e heterodoxias só no quintal da gente.

Diário da Babilônia – uma simplificação pode ser pior do que uma inexatidão

Sheila Bair, ou como as coisas são mais complicadas do que parecem ser nos Estados Unidos Sheila Bair é atualmente a pedra no sapato das grandes corporações americanas e chegou a ganhar um “Profile in Courage Award” da Biblioteca Kennedy por ter chamado na responsa os grandes banqueiros de Wall Street em 2007 ANTES da coisa toda explodir. Na verdade, bem antes disso, Sheila Bair foi o único voto, vencido mas valente, na comissão que decidiu liberar a ENRON da regulação anti-fraude. Em 2001 a ENRON, queridinha da revista Forbes [ganhou por seis anos consecutivos o prêmio de “America’s Most Innovative Company], quebrou levando 22.000 empregos e milhões de dólares dos investidores [mas não dos diretores da empresa que venderam todas as suas ações antes]. E Sheila Bair, atualmente trabalhando no FDIC [Federal Deposit Insurance Corporation], é uma voz combativa na luta para enquadrar os grandes bancos americanos, que apesar dos bilhões do contribuinte que os salvaram da bancarrota, não quer

Resumo de novela brasileira - Sábado:

São todos convidados para a grande festa regada à pizza do Frôscolo’s: Adoração, Argentino, Aeronauta, Agrícola, Aleluia, Adegesto e o doutor Cafiaspirina, além da própria Abrilina, Aricléia, Anatalino, Asteróide e Bananéia. Em um momento de ternura exacerbada, entre beijos e abraços, Abrilina quase estende o convite para a festa a uns dois ou três da turma do Coronel Marimbondo. Ela pensa em convidar especificamente Antônio Testa, Jovino de Almeida e Amável da Costa, amigos de Militão de Souza, amor de infância de Abrilina. Ao final, Abrilina decide ser prudente e não arriscar terminar a festa sem sua fatia de pizza. Percilina nega a garrucha e Amazonino tem que se contentar com uma faca sorocabana. Amazonino decide visitar Darcília no hospital. Felicidade, vestida de enfermeira, coloca veneno no suco de goiaba de Darcília. Darcília sai do quarto para conversar com Amazonino e conta que está grávida. Dentro do quarto, Dosolina toma o suco de goiaba envenenado.

Resumo de novela brasileira - Sexta-feira:

Abrilina respira fundo e pede a Aricléia, Anatalino, Asteróide e Bananéia que liguem para a melhor pizzaria da cidade, Frôscolo’s, de propriedade de Benedito e Benigna Frôscolo, e mandem trazer seis dúzias de pizzas fresquinhas, de vários sabores. Benedito e Benigna vem entregar pessoalmente as pizzas. “Melhor um canalha imbecil da família do que outro, associado com Marimbondo Trindade e família”, diz Abrilina à sua irmã. Felicidade promete ajudar Danúbio. Felicidade e Danúbio se beijam. O doutor Tropicão adverte a Darcília que ela pode perder seu bebê. Preocupado, Amazonino pede uma garrucha a Percilina Santos.