Um dia vai aparecer alguém no Brasil com a sagacidade política de
Martin Luther King e perceber que as crenças mais entranhadas do país sobre si
mesmo podem ser usadas como combustível para a mudança. Eu fico imaginando
alguém que, “impávido que nem Mohammad Ali” e “tranquilo e infalível como Bruce
Lee” dirá o seguinte:
“Queremos Democracia Racial Já! Somos de fato um país mestiço e é
por isso mesmo não podemos mais admitir que a desigualdade e o preconceito
destruam o sonho de uma sociedade onde todas as raças vivem juntas e têm
oportunidades iguais em todos os sentidos: na saúde, na educação, na obtenção
de uma moradia digna, no trabalho, no acesso não só ao consumo mas também à
produção de cultura, na política, nas artes. Oportunidades iguais para todos os
mestiços de todas as cores: eis aí o caroço do nosso angu e a semente de uma
verdadeira democracia racial que há de primar pelo profundo respeito e generosa
aceitação de todas as diferenças. Para alcançar uma democracia racial de
verdade, o Brasil precisa admitir que a desigualdade, a discriminação e o
preconceito existem e que eles precisam ser combatidos sem trégua por todos
como uma responsabilidade de todos.”
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