Acho bom lembrar que o jornalismo e a política no Brasil tem
uma longa e tenebrosa tradição de fraudes:
1.
Em 1921 o jornal Correio da Manhã publicou cartas
supostamente escritas por Arthur Bernardes com comentários desrespeitosos aos
militares.
As cartas que o jornal anunciava serem “escritas e assinadas
pelo próprio punho do presidente de Minas, segundo os mais apurados exames
periciais” eram falsas.
2.
Em 1937 “descobriu-se” o “Plano Cohen” de
dominação comunista do Brasil, saído diretamente da máquina de escrever de um militar
integralista Olímpio Mourão Filho, então chefe da AIB [Associação Integralista
Brasileira] e futuro general do golpe de 1964. A fraude só foi revelada depois
de oito anos de ditadura implacavelmente anti-comunista pelo poderoso general
Góes Monteiro, um dos arquitetos do golpe do Estado Novo.
3.
Em setembro de 1955, durante a campanha para
presidência da república, noticiou-se
que uma “república sindicalista” baseada em brigadas de trabalhadores armados estaria
sendo tramada entre os peronistas argentinos e a esquerda trabalhista no Brasil
representada pelo candidato a vice de JK, João Goulart. A denúncia baseou-se numa
carta falsa do deputado justicialista Antonio Brandi ao então ministro do
trabalho João Goulart. Carlos Lacerda leu a carta na televisão e ela depois foi
publicada na íntegra em O Globo e na Tribuna de Imprensa. A manchete de O
Globo em 17 de setembro, por exemplo, era “Armas Cedidas por Perón a João
Goulart” [aqui dá para ver as primeiras páginas daquele mês e ver que o clima de panfleto
anti-comunista histérico do jornaldo Sr. Marinho. Só em dezembro daquele ano,
depois da vitória de JK, a fraude foi revelada como tal. O fantasma foi ainda revivido
por Lúcia Hippolito e depois por José Serra a partir de 2008.
4.
Em 1975 houve o laudo do IML assinado por Arildo
de Toledo Viana e por Harry Shibata [que continuou diretor do IML até 1983] para
o “suicídio” do jornalista Vladimir Herzog em cela do DOI-CODI. Seria o mais
famoso dos vários laudos forjados pela ditadura.
5.
Em 1981 a explosão de um puma na porta do
Riocentro no dia de um show de 1o de maio teria sido obra de um certo “Comando
Delta.” O secretário de segurança do RJ, um certo general Waldyr Muniz garantia
na primeira página de O Globo “que o
capitão e o sargento correram para o local juntamente com agentes de outros
órgãos de investigação” depois que “um telefonema anônimo anunciou que um grupo
terrorista denominado Comando Delta” faria explodir uma bomba.
6.
Em 1982, na primeira eleição para governador desde 1966, houve o anúncio da “derrota” de Brizola nas
eleições para governador do Rio de Janeiro com a ajuda da Proconsult.
7.
Na campanha eleitoral de 1989 um dos
sequestradores de Abílio Diniz aparece uniformizado com a camisa do PT. Ainda
em 1989 ficou “constatado” o abandono de Lurian pelo pai seu pai Lula com um enojante depoimento da mãe da menina.
8.
O “envolvimento” de Ibsen Pinheiro com a máfia
dos Anões do Orçamento levou a um linchamento na mídia que culminou na cassação do deputado em 1994.
9. E as "irrefutáveis" acusações contra Erenice Guerra desde 2008 até 2010 terminam arquivadas “por total falta de provas” em 2012.
Recomendo portanto às
pessoas que acham que gente do PSOL anda pagando 150 reais para gente soltar rojão em cima de jornalistas
a ter um pouco de cautela mesmo quando houver "provas irrefutáveis".
Comments
Como dizia o Lacerda quando seu jornalista lhe advertiu que a tal carta Brandi era uma fraude, "isso é problema para o pessoal do Jango descobrir!"