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Sobre Música, Máquinas e Mãos

Era uma vez um jovem compositor chamado Steve Reich brincando com fitas magnéticas no começo dos anos 60. Ele começa a tocar duas ao mesmo tempo e se maravilha com as pequenas diferenças entre duas gravações de uma voz humana, pequenos desencontros que crescem e eventualmente se reencontram em estranhas abstrações sonoras, hipnóticas, maquinais. Ele chama esses micro-encontros/desencontros de "phasing". "Come Out" é uma das composições mais famosas do período, de 1966:



Os anos passam e Reich parece que começa a se sentir sufocado no meio de tanta máquina e tanto fio e tanta fita. Ele começa então a compor música para instrumentos convencionais operados por músicos, mas com a ideia "... transformar as fantasias da máquina em eventos humanos" [o caderno de notas de Steve Reich]. Daí vem as "Fases" como a que está no vídeo abaixo. "Violin Fase" é de 1967:



Reich passou um tempo longe das máquinas e mesmo quando voltou a elas, o fez com uma certa parcimônia, a mesma parcimônia com que ele sugere que nós todos aproveitemos o Sabbath para, no cair da noite de sexta-feira, desligar a parafernalha eletrônica - inclusive aquela que nos liga agora, querido leitor, e nos permite ouvir essa música tão difícil tão facilmente, e permanecer "desligado" até o cair da noite seguinte. E seguir respirando, puxando ar para dentro e expelindo ar para fora, como máquinas.

Comments

Anonymous said…
Sempre que ouço essas coisas, fico tentando entender o que é que leva um músico (que antes de tudo é uma pessoa) a esse nível de obsessão. O resultado com o violino não deixa de ser interessante. (Tata)
Pelo que sei, Tata, o Reich quase que ficou louco com as tais fitas magnéticas. Ele mesmo falou que começou a transferir o trabalho dele para instrumentos e músicos de carne e osso porque não estava mais dando conta de se enterrar com aquelas máquinas. Enfim esse mundo de música erudita contemporânea é bom para arejar as ideias um pouco.

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