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Leituras: Diálogo dos mortos

Acabo de ler o Diálogo dos Mortos de Luciano de Samósata. Nascido na cidade síria [então província romana] às margens do Eufrates, Luciano escreveu em grego e publicou a maior parte da sua obra em Atenas. Os diálogos entre mortos mais ou menos famosos são rápidos e se passam todos nas profundezas do Hades. É comédia desbragada, com um sarcasmo mordente. Exemplo breve: Sócrates jura que foi sincero e literal quando confessou que "nada sabia" mas que seus admiradores e seguidores interpretaram a frase como irônica e continuaram atrás dele mesmo assim.

Por que ler literatura clássica se não me especializo nessa área? Por causa de Machado de Assis, ou melhor, por causa de críticos de Machado de Assis que volta e meia levantam a bola de uma certa "sátira menipéia" para falar do escritor carioca e principalmente do Memórias Póstumas de Brás Cubas. Menipeu é o pândego que "entrevista" Sócrates e vários outros defuntos no Diálogo dos Mortos. É dele que vem o [horrível] termo "sátira menipéia". Sinceramente acho que Luciano está mais para aquela sátira ácida (e no fundo moralista) de Jonathan Swift do que para Machado de Assis, mas agora, sim, posso entender melhor o que dizem aqueles que insistem nessa filiação clássica.

Há muito anos tomei por princípio que não faz sentido estudar crítica literária ou teoria sem ler em primeira mão os textos aos quais elas se referem. Tudo começou com "O narrador" de Walter Benjamin, que eu li pela primeira vez em um curso [bem fraco] de teoria ainda na graduação e depois de novo na graduação e de novo na vida profissional pós-doutorado. Ali Benjamin se refere diversas vezes aos contos de um certo Nicolai Leskov - e se o contador de histórias/narrador do ensaio parece partir da leitura de Leskov, onde é que eu [que nem sei ler em alemão] fico o texto de Benjamin?

E me diverti muito com o Diálogo dos mortos, leitura excelente para esses tempos de Coronga.

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