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E Nero me pergunta, "e daí?"
Os sábios do bom senso que me repreendiam toda a vez que comparava o número de mortos e infectados com Suíça ou Itália, talvez se levantassem para fazer seus apartes ajuizados. Nero só me perguntaria, "e daí?"
Mas não aqui nesse canto sossegado da internet. Passaremos rapidamente Irã e Alemanha, creio que ainda essa semana. Afinal temos mais de 8.000 infectados em estado crítico.
Nero me pergunta de novo, irritado, "e daí?" O que você quer que eu faça?"
Continuamos com a menor proporção de testes por 100.000 habitantes, disparado. Continuamos desafiando a morte nas ruas, sem máscaras, buzinando, dando festinhas. Continuamos assistindo a miséria, que tinha voltado às ruas como o dinossauro de Augusto Monterroso.
O novo ministro - o anterior parecia menos disposto a cooperar com a morte - parece estar completamente perdido. Talvez seja por isso mesmo que ganhou o cargo. Pelo menos o governo ficou menos esquizofrênico, com um ministro pedindo cautela e isolamento e planejamento e um presidente dizendo "E daí?"
Ainda no governo, o nosso fascistinha de condomínio pediu o boné e saiu disparando, compartilhando conversas privadas de telefone ao melhor estilo "The Intercept". Os poderes já estão prontos para escolhê-lo como sucessor do Nero, embora ainda faltem mais de dois anos e ninguém consegue articular algo mais que um pedido novo de impeachment e um ou outro pedido patético para que Nero renuncie por livre e espontânea vontade, na esperança que o vice seja apenas um milico troglodita ordinário, como aqueles da ditadura. Aliás Nero conseguiu um milagre: criar algo realmente, concretamente pior do que aquela tragédia que foi a ditadura militar. Nero se irrita com a preocupação com Marielle e pede mais atenção ao celerado que o esfaqueou (de frente) em Juiz de Fora. Mas isso é notícia de ontem. Já foi.
Agora ficamos com Nero, de novo, que nos pergunta, desafiador, "e daí?"
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