But it's like we weren't made for this world
(Though I wouldn't really want to meet someone who was)
(Though I wouldn't really want to meet someone who was)
(Eu não gosto de poemas longos,
mas vamos lá)
Já faz tanto tempo e eu ainda preciso aprender
a agarrar como um carrapato o que ainda não existe
e deixar de lado quem me rouba a solidão.
Já faz tanto tempo e ele tem razão
quando diz que o passado
é um animal grotesco brincando no meu porão,
mas, ao contrário da direção geral
dos poemas confessionais de todas as facções,
não é o passado que me preocupa;
é esse outro monstro, o futuro,
o dragão de sete cabeças que me espreita e me assusta.
Vai ser difícil falar sobre isso
porque muita gente não vai escutar
e o resto não vai entender
vai ser difícil falar porque
conta-se nos dedos de um porco
as pessoas que sabem olhar para fora de si
mais do que um pequeno instante
que desaparece debaixo do espelho d’água
sem rastro, sem a menor consequência
(um exemplo: meu pai esperando, impaciente,
que eu não fosse mais criança para falar comigo –
na verdade um monólogo entre o orgulho e o ressentido
cujo abismo absurdo qualquer criança revela em dois palitos).
Azar: falar para surdos ou falar para mim mesmo
no fundo nem importa:
fazer poesia é antes de tudo
dizer ao mundo, eu estou vivo, eu existo.
Então o que eu tenho para dizer é o seguinte:
Sair de casa, ir embora pra longe,
viver fora é difícil é ser
estranho, estrangeiro, extraviado, esquisito
o tempo todo, não por escolha mas por definição.
Ah, e o olhar dos outros é mortal.
É cruel o olhar frio de espanto,
o desconforto, o desagrado:
Afinal, o que é que você está fazendo aqui?
E a todo momento um micro mal entendido
involuntário nos separa com um abismo
intransponível. gelado
Mas porque você não faz as coisas como a gente?
Porque você não entende?
Porque você não pára?
Porque você não fala direito?
Porque é que você não cala a boca um pouco?
Porque é que você não se porta como uma pessoa normal?
Porque você insiste em nos lembrar
o tempo todo
que você não é uma pessoa normal?
Eu juro que não consigo não ser quem eu sou
eu não consigo nem querer não ser quem eu sou:
estranho, esquisito, estrangeiro, extraviado,
excêntrico, desajeitado, embaraçoso, tapado.
Não é orgulho ressentido, é incapacidade.
Você tira isso de mim e eu me olho no espelho
e o que eu vejo não é nem “uma figura,
perfil humano, desagradável ao derradeiro grau,
repulsivo senão hediondo”
não é nem “só o campo, liso,
às vácuas, aberto como o sol,
água limpíssima, à dispersão da luz,
tapadamente tudo”
não é nem “o tênue começo
de um quanto como uma luz,
que se nubla, aos poucos
tentando-se em débil cintilação, radiância”.
Você tira isso de mim
e eu sou você.
Não liga não.
hoje eu estou assim:
tudo me fere tudo me afeta
tudo me arrasa uma flor me atropela
hoje esquece tudo o que eu disse
hoje tudo me faz sofrer além da conta
hoje.
Comments
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Fiquei intrigada com as linhas sobre o pai esperando para fazer um discurso. Que relação tensa seria essa?