Caderno meu |
"O que não ama seu irmão é sete vezes maldito, e o que se faz inimigo de seu irmão é maldito setenta vezes sete vezes. É isto porque os reis, os príncipes e todos aqueles que o mundo chama grandes foram malditos: não amaram seus irmãos, e os trataram como inimigos."
Gonçalves Dias não chega a condenar todos os príncipes e "grandes" do mundo por tratarem os seus irmãos como inimigos. Mas tem uma visão bastante dura do período colonial. Os portugueses saem assim:
"Eram homens sordidamente cobiçosos, que procuravam um pouco de oiro, pregando a religião de Christo com armas ensangüentadas.
[…]
Eram homens que pregavam a igualdade tractando os indígenas como escravos—envilecendo-os com a escravidão, e açoitando-os com varas de ferro."
E depois de palavras contundentes de admiração pelos povos indígenas [basta ler o que gente como José Bonifácio escrevia sobre os índios para se ter uma ideia do contraste radical]. Gonçalves Dias nos dá uma descrição da colonização como massacre prolongado por todo o terrritório:
"Começou então a lula porfiada, que de Porto-Seguro lavrou até á margem esquerda do Prata—e d'ali correu às margens do Amazonas com a rapidez do ar empestado.
Ouvia-se de instante a instante o som profundo, cavernoso e agonisante de uma raça que desaparecia de sobre a face da terra.
E era horrível e pavoroso esse bradar do desespero como seria o de milhões de indivíduos que ao mesmo tempo se afundassem no oceano.
E cadáveres infindos, expostos á inclemência do tempo e á profanação dos homens, serviam de pasto aos animais imundos."
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