Em tempos de coronga, a ocupação principal aqui neste meu canto é escrever obituários. Uma letra de Aldir Blanc que eu adoro é essa aqui:
Incompatibilidade de gênios
Doutor,
jogava o Flamengo, eu queria escutar;
chegou,
mudou de estação, começou a cantar.
Tem mais:
um cisco no olho, ela em vez de assoprar
Sem dó,
falou que por ela eu podia cegar.
Se eu dou
um pulo, um pulinho, um instantinho no bar,
bastou:
durante dez noites me faz jejuar.
Levou
as minhas cuecas pro bruxo rezar.
Coou
meu café na calça pra me segurar.
Se eu estou
devendo dinheiro e vem um me cobrar
Doutor,
a peste abre a porta e ainda manda sentar.
Depois,
se eu mudo de emprego que é pra melhorar,
vê só,
convida a mãe dela pra ir morar lá.
Doutor,
se eu peço feijão ela deixa salgar.
Calor,
mas veste casaco pra me atazanar.
E ontem
sonhando comigo mandou eu jogar.
No burro
e deu na cabeça a centena e o milhar.
Ai, quero me separar
Aldir Blanc é um embaralhador de tudo que outros insistem em organizar. Nessa canção com João Bosco está uma espécie de ponte misturando tudo o que as pessoas insistem em colocar numa fila "evolucionária", toda certinha. Aqui se encontram o samba de terreiro e o samba de roda, o samba baiano e carioca, o samba do começo e do final do século. Quem prova o que estou dizendo é Clementina de Jesus:
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