N'este período
tempestuoso, os paes que forem vigilantes devem observar com cuidado a
physionomia, os gestos, as palavras, todos os actos dos adolescentes, para
descobrir os novos sentimentos que se preparam. É então que nascem ou se
aggravam costumes secretos, de que fallarei em outro logar (veja-se ONANISMO) e que tem sobre a saúde
influencia muito perniciosa. Principiou nova existência. Mil particularidades moraes
revelam esta revolução physica, na qual cada sexo se mostra debaixo de cores
differentes. O menino, educado com costumes menos severos, menos pudicos, e
naturalmente mais ousado, procura a sociedade das mulheres, sente que as ama
mais, e não esconde muito a sua inclinação, ou deixa de a occultar. Entretanto,
o amor contemplativo abre-lhe ordinariamente a scena amorosa. O adolescente que
não foi corrompido pelas palavras ou exemplos de seus camaradas, faz uma
divindade de sua primeira amante, e arde por ella de um amor discreto. A joven
virgem, que uma solicitude esclarecida, pia, ou ao menos moral, tem
constantemente cercado de sãs impressões, está agitada de mil sensações
diversas, cuja fonte ignora; apenas se atreve a interrogar-se a si mesma, e
busca dissimular. E por isso a alegria, a candidêz da primeira idade cede o
logar a um ar de distracção, de embaraço; que não escapa a nenhum observador.
Reconhece logo ella própria que prefere a sociedade dos moços á das
companheiras, e que estes produzem n'ella um effeito insólito. D'aqui vem
provavelmente, na presença d'elles, a postura contrafeita, a linguagem freqüentemente
embaraçada, o olhar incerto, bem que expressivo, os movimentos de pudor, que
coram e empallidecem alternadamente seu rosto.Perturbação bella, que denota uma
alma que ama, mas ainda innocente.
Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...
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