Anúncios de 1860 no jornal Diário do Rio de Janeiro |
Cansado dos eventos e seus jornais remelentos, ando agora lendo esse velho e vetusto jornal de quatro páginas onde Machado de Assi trabalhou. As sete colunas praticamente sem ilustrações são cansativas, mas tremendamente informativas também. Política, economia, obituários, tudo muito informativo.
Separei esses destaques aí de cima, dos classificados:
1. Anúncio do técnico de choque eléctrico-magnético que tem todo o equipamento e aplica o tratamento "com muita pachorra e certeza." Os anúncioss anunciando tratamentos médicos e remédios de todo o tipo são comuns no jornal e sempre incríveis. Ainda coloco aqui um outro dia o genial anúncio do "Ungüento Holloway."
2. O seco anúncio da Rua do Sabão que vende duas crianças, "dois molequinhos bonitos." Desse tipo há vários no jornal. Recordar as coisas duras do passado para remediar as injustiças do presente, é o meu lema.
3. Ainda no mesmo veio o anúncio de aluguel da escrava-babá ["uma preta para andar com crianças"] me impressiona pelo detalhe de que o locatário enfatiza que a babá "é muito fiel com a condição de não sahir à rua".
4. O uso do termo "alcova" como, suponho, cômodo no último anúncio.
Comments
abraços
Aqui está inteiro:
"Tercetos"
I
Noite ainda, quando ela me pedia
Entre dois beijos que me fosse embora,
Eu, como os olhos em lágrimas, dizia:
“Espera ao menos que desponte a aurora!
Tua alcova é cheirosa como um ninho…
E olha que escuridão há lá por fora!
Como queres que eu vá, triste e sozinho,
Casando a treva e o frio de meu peito
Ao frio e à treva que há pelo caminho?
Ouves? é o vento! é um temporal desfeito!
Não me arrojes à chuva e à tempestade!
Não me exiles do vale do teu leito!
Morrerei de aflição e de saudade…
Espera! até que o dia resplandeça,
Aquece-me com a tua mocidade!
Sobre o teu colo deixa-me a cabeça
Repousar, como há pouco repousava…
Espera um pouco! deixa que amanheça!”
— E ela abria-me os braços. E eu ficava.
II
E, já amanhã quando ela me pedia
Que de seu claro corpo me afastasse,
Eu, com os olhos em lágrimas, dizia:
“Não pode ser! não vês que o dia nasce?
A aurora, em fogo e sangue, as nuvens corta…
Que diria de ti quem me encontrasse?
Ah! nem me digas que isso pouco importa!…
Que pensariam, vendo-me, apressado,
Tão cedo assim, saindo a tua porta.
Vendo-me exausto, pálido, cansado,
E todo pelo aroma de teu beijo
Escandalosamente perfumado?
O amor, querida, não exclui o pejo…
Espera! até que o sol desapareça,
Beija-me a boca! mata-me o desejo!
Sobre o teu colo deixa-me a cabeça
Repousar, como há pouco repousava!
Espera um pouco! deixa que anoiteça!”
— E ela abria-me os braços. E eu ficava.