1. Eugene Genovese morreu. Ele escreveu Roll, Jordan, Roll e depois se converteu ao catolicismo e virou um conservador de carteirinha. Era um sulista empedernido que nasceu no Brooklin. De certa forma, eu sempre pensei no livro dele como uma espécie de Casa-Grande e Senzala dos Estados Unidos. Mas isso é etnocentrismo de brasileiro.
2. Autran Dourado morreu. Antes de morreu escreveu "Escrever é uma imitação. A gente escreve feito um menino que vê o livro como um brinquedo e pensa ah, eu quero um". Gostei bastante do que li dele, o que foi pouco, mas nunca me entusiasmei muito, ao contrário de outras pessoas que admiro muito. Pelo tamanho da repercussão da morte dele, eram muito poucas. Acabei de pegar um romance dele que nunca li na biblioteca. Acho uma homenagem justa, embora não faça evidentemente a menor diferença.
3. O marido da prima da minha esposa morreu. Um câncer fulminante no cérebro. Parecia ser um bom sujeito, nas poucas vezes em que troquei meia-dúzia de palavras com ele. Não sei se é a idade, mas esse ano fiquei sabendo, ao voltar a BH, de duas pessoas amigas que morreram de câncer também. Bate na madeira.
4. Arthur Sulzberger morreu. A família é dona do New York Times desde 1896. Ele esteve no comando desde 1963. É o único jornal nacional dos Estados Unidos. Os republicanos reclamam que o jornal é liberal. De fato, uma semana de leitura do New York Times dá a dimensão exata dos grandes limites do liberalismo americano, ainda mais na versão água com açúcar desse milênio. Infelizmente, fora dele, aqui, só a mais miserável barbárie.
5. Acompanhar a desfaçatez da campanha política nas grandes capitais brasileiras é um ótimo antídoto para qualquer ilusões a respeito da política partidária brasileira. Numa cidade o PSB é o capeta, na outra é parte das "forças progressistas", cujo progresso aliás inclui várias das forças reacionárias, umas até um mês antes da campanha e algumas outras agora mesmo; isso sem falar que esse tal progresso das forças progressistas fica cada vez parecido com o que eu achava que se chamava "modernização conservadora". Obituário de que esse número 5? Mortas todas as ilusões no processo, tudo se transforma num imenso segundo turno desde o primeiro turno, no sentido de que tudo o que nos resta é votar no mesmo pior, tentar não deixar fulano ganhar e coisas desse tipo. Um diálogo deprimente me vem à mente: "Ei, eles vão asfaltar a Amazônia mas pelo menos eles não deixam as universidades à mingua." "Ué, mas e a greve?" "Bom, mas pelo menos eles ainda são a favor do estado laico." "Pelo menos quando eles não conseguem apoio das igrejas evangélicas, mais ou menos." O diálogo vai seguindo assim e percebo que se trata de escolher entre uma porcaria total e uma porcaria relativa. Uma pena que a retórica política não tenha nada a ver com a realidade das coisas, porque se fosse assim eu poderia me integrar hoje na campanha do PPR, partido da porcaria relativa. Mas sem entusiasmo, porque esse já morreu também.
6. Eric Hobsbawn também morreu. Li muitos de seus livros, ainda não acabei o texto introdutório de em seu último livro, não tenho certeza se é o último, no qual Hobsbawn dizia o seguinte sobre as reformas que o governo inglês enfiava goela abaixo das universidades:
"The needs of 21st capitalism require universities that subordinate intellectual creativity, discourage individual initiatives and restrict the number of disciplines with which higher education has usually been associated."
2. Autran Dourado morreu. Antes de morreu escreveu "Escrever é uma imitação. A gente escreve feito um menino que vê o livro como um brinquedo e pensa ah, eu quero um". Gostei bastante do que li dele, o que foi pouco, mas nunca me entusiasmei muito, ao contrário de outras pessoas que admiro muito. Pelo tamanho da repercussão da morte dele, eram muito poucas. Acabei de pegar um romance dele que nunca li na biblioteca. Acho uma homenagem justa, embora não faça evidentemente a menor diferença.
3. O marido da prima da minha esposa morreu. Um câncer fulminante no cérebro. Parecia ser um bom sujeito, nas poucas vezes em que troquei meia-dúzia de palavras com ele. Não sei se é a idade, mas esse ano fiquei sabendo, ao voltar a BH, de duas pessoas amigas que morreram de câncer também. Bate na madeira.
4. Arthur Sulzberger morreu. A família é dona do New York Times desde 1896. Ele esteve no comando desde 1963. É o único jornal nacional dos Estados Unidos. Os republicanos reclamam que o jornal é liberal. De fato, uma semana de leitura do New York Times dá a dimensão exata dos grandes limites do liberalismo americano, ainda mais na versão água com açúcar desse milênio. Infelizmente, fora dele, aqui, só a mais miserável barbárie.
5. Acompanhar a desfaçatez da campanha política nas grandes capitais brasileiras é um ótimo antídoto para qualquer ilusões a respeito da política partidária brasileira. Numa cidade o PSB é o capeta, na outra é parte das "forças progressistas", cujo progresso aliás inclui várias das forças reacionárias, umas até um mês antes da campanha e algumas outras agora mesmo; isso sem falar que esse tal progresso das forças progressistas fica cada vez parecido com o que eu achava que se chamava "modernização conservadora". Obituário de que esse número 5? Mortas todas as ilusões no processo, tudo se transforma num imenso segundo turno desde o primeiro turno, no sentido de que tudo o que nos resta é votar no mesmo pior, tentar não deixar fulano ganhar e coisas desse tipo. Um diálogo deprimente me vem à mente: "Ei, eles vão asfaltar a Amazônia mas pelo menos eles não deixam as universidades à mingua." "Ué, mas e a greve?" "Bom, mas pelo menos eles ainda são a favor do estado laico." "Pelo menos quando eles não conseguem apoio das igrejas evangélicas, mais ou menos." O diálogo vai seguindo assim e percebo que se trata de escolher entre uma porcaria total e uma porcaria relativa. Uma pena que a retórica política não tenha nada a ver com a realidade das coisas, porque se fosse assim eu poderia me integrar hoje na campanha do PPR, partido da porcaria relativa. Mas sem entusiasmo, porque esse já morreu também.
6. Eric Hobsbawn também morreu. Li muitos de seus livros, ainda não acabei o texto introdutório de em seu último livro, não tenho certeza se é o último, no qual Hobsbawn dizia o seguinte sobre as reformas que o governo inglês enfiava goela abaixo das universidades:
"The needs of 21st capitalism require universities that subordinate intellectual creativity, discourage individual initiatives and restrict the number of disciplines with which higher education has usually been associated."
Comments
Sobre o Hobsbawm, dizem que lançam um livro, que ele estava revisando, no ano que vem.
(Tata)
A sujeira na política não me assusta tanto. É muito difícil governar. Se a gente não pode evitar que os proprios filhos ou irmãos sejam conservadores, se é difícil fazer algo bom mesmo numa sala de aula, então política é luta. Depois que entra na briga, só dá pra ver o resultado procurando suspiros de alguém vivo entre os cadáveres.
(tata)
Olha o que eu ando lendo:
"hay pesimismos que tienen la significación de un optimismo paradójico [...] propagan, con su descontento de lo actual, la necesidad de renovarla."
José Enrique Rodó