Trabalho com texto, e
normalmente trabalho com textos originalmente em português ou em outras línguas
que, na pior das hipóteses, eu dou conta de traduzir ou de conferir a tradução.
Acho uma felicidade útil quando acontece de eu me interessar, de vez em quando,
por um texto em uma língua que eu não consigo nem começar a traduzir. Assim eu
recupero a noção da entrega total, da confiança total que a gente deposita num
tradutor quando lê um texto numa língua desconhecida da gente. Uma lição de
humildade necessária, já que minha especialização pode acabar escondendo o fato
de que existe um mundo 300 vezes maior do que as línguas que eu consigo ler.
Além da letra de “Vökuró”, que
eu acho linda tanto pelos sons do islandês como pelo sentido de acordo a
tradução para o ingles, de uma evocação de um inverno que deve ser 200.000
vezes mais intenso do que o que a minha frescura tropical já sente como uma
experiência do outro mundo. Essa é minha canção favorita da Björk [até segunda
ordem], aquela em que ela faz, sem querer, uma visita ao Clube da Esquina. Além desse motivo, digamos bairrista, é a minha canção favorita da Björk por vários motivos: por ela manerar na interpretação “menininha
over” que ela gosta tanto de fazer; por ser em islandês com esse monte de erres
e tês e vogais “doidas” [que eu acho que ela tenta enfiar duzentas
s-i-i-i-Ilah-aaaaah-bah-ah-ah-ahssss goela abaixo do inglês]; e finalmente pelo
arranjo bem simples que não enterra a canção em pequenas boas ideias.
Vökuró
Bærinn minn
Bærinn minn og þinn
Sefur sæll í kyrrð
Fellur mjöll
Hljótt í húmi á jörð
Grasið mitt
Grasið mitt og þitt
Geymir mold til vors
Hjúfrar lind
Leynt við brekkurót
Vakir eins og við
Lífi trútt
Kyrrlátt kalda vermsl
Augum djúps
Utí himinfyrrð
Starir stillt um nótt
Langt í burt
Vakir veröld stór
Grimmum töfrum tryllt
Eirðarlaus
Ottast nótt og dag
Augu þín
Ottalaus og hrein
Brosa við mér björt
Vonin mín
Blessað brosið þitt
Vekur ljóð úr værð
Hvílist jörð
Hljóð í örmum snæs
Liljuhvít
Lokar augum blám
Litla stúlkan mín
Bærinn minn og þinn
Sefur sæll í kyrrð
Fellur mjöll
Hljótt í húmi á jörð
Grasið mitt
Grasið mitt og þitt
Geymir mold til vors
Hjúfrar lind
Leynt við brekkurót
Vakir eins og við
Lífi trútt
Kyrrlátt kalda vermsl
Augum djúps
Utí himinfyrrð
Starir stillt um nótt
Langt í burt
Vakir veröld stór
Grimmum töfrum tryllt
Eirðarlaus
Ottast nótt og dag
Augu þín
Ottalaus og hrein
Brosa við mér björt
Vonin mín
Blessað brosið þitt
Vekur ljóð úr værð
Hvílist jörð
Hljóð í örmum snæs
Liljuhvít
Lokar augum blám
Litla stúlkan mín
Vigil
My farm
My farm and yours
Sleeps happily at peace
Falls snow
Silent at dusk on earth
My grass
My grass and yours
Keeps the earth till spring
Nesting spring
Hid at the hill's root
Awake as are we
Faith in life
Quiet cold spring
Eye of the depths
Into the firmament
Staring still in the night
Far away
Wakes the great world
Mad with grim enchantment
Disquieted
Fearful of night and day
Your eyes
Fearless and serene
Smile bright at me
My hope
Your blessed smile
Rouses verses from sleep
The earths rests
Silent in arms of snow
Lily white
Closes her blue eyes
My little girl
My farm and yours
Sleeps happily at peace
Falls snow
Silent at dusk on earth
My grass
My grass and yours
Keeps the earth till spring
Nesting spring
Hid at the hill's root
Awake as are we
Faith in life
Quiet cold spring
Eye of the depths
Into the firmament
Staring still in the night
Far away
Wakes the great world
Mad with grim enchantment
Disquieted
Fearful of night and day
Your eyes
Fearless and serene
Smile bright at me
My hope
Your blessed smile
Rouses verses from sleep
The earths rests
Silent in arms of snow
Lily white
Closes her blue eyes
My little girl
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