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Sobre o espancamento de professores da rede pública estadual em Curitiba

De certa forma, o post de hoje vai quebrar uma longa tradição aqui nesse meu quintal empoeirado: falar sobre eventos correntes, que estão sendo comentados agora. Meu quintalzinho pode até ser de vez em quando meio metido a besta, mas não costuma esquecer o que é: um cantinho mixuruca esquecido do bafafá do dia-a-dia onde eu falo única e exclusivamente em meu nome.

Das tais redes sociais só conheço o já [suponho] bolorento FCBK, mas com base nele, além do acesso diário a portais de informação de certos jornais, sinto que a opinião pública em sua versão internet parece um cachorro neurastênico correndo de lá para cá compulsivamente: um dia todo mundo tecla furiosamente sobre um terremoto do outro lado do mundo, dia seguinte todos riem da cantora aposentada que cantou o hino nacional bêbada e esqueceu a letra, mais um dia e rimos/choramos o político que esqueceu o nome de dois estados do seu próprio país ou o candidato a candidato que esqueceu até a própria promessa de campanha no meio de um debate. Por aí vamos e voltamos, movidos muito frequentemente por ódio disfarçado de indignação ou sarcasmo. Então fica difícil fazer o que Diego Viana no seu blog ou mesmo o que a Camila Pavanelli de Lorenzi faz no próprio FCBK - não se deixar levar por essa correria sem fim e tentar botar a cabeça para pensar. Continuo achando que a palavra escrita vale muito e que falar bobagem na mesa no bar [um esporte popular e perfeitamente legítimo] vira uma temeridade teclado na internet.

Enfim, ao que interessa: professores da rede pública fazendo manifestação pública foram tratados hoje de forma truculenta pela PM do Paraná. Imagens chocantes de gente sendo mordida por cachorro até arrancar sangue e coisas do tipo. Tudo em nome de não deixar os manifestantes entrar na assembléia estadual. Os jornais contribuem com o de sempre: chamam de "confronto" uma série de espancamentos violentos em professores "armados", quando muito, de celulares e pedaços de papel, uma chuva de bombas de gás de pimenta, um massacre. 150 feridos, alguns em estado grave.

Para os que não compreendem a minha recusa radical de votar ou apoiar qualquer candidato do PSDB mesmo quando a outra opção não me entusiasma em nada, eu digo: acompanhem as imagens e depoimentos do que aconteceu em Curitiba. Eu digo aqui o seguinte eu também sou professor brasileiro [apesar de trabalhar fora] e antes de ser professor fui aluno brasileiro. Isso que está acontecendo no Paraná [no dia da educação] não é fora do normal. Essa gente quer que a educação pública vá para o ralo. Professor para essa gente é lixo. Ainda mais professor de escola pública, que só ensina gente que essa gente também considera lixo. Você já foi tratado feito lixo? Sinceramente espero que não. Eu já fui e não é nada, nada agradável.

Agora uma lembrança importante: não quero aqui contribuir para o FLA X FLU político como não quero contribuir para o discurso imbecil "são todos farinha do mesmo saco". Não são santos nem são iguais os dois lados desse embate, mas o comportamento do governador do Paraná está bem dentro da média dos governadores e prefeitos e mesmo do governo federal com seus "confrontos" e seus "desdobramentos" assim como seus grandes planos e novos slogans grandiloqüentes.

Não acho que os professores devam esperar muita solidariedade muito menos ajuda de ninguém nessa guerra. Todo o brasileiro é a favor da educação assim como todo o brasileiro é contra a corrupção e o racismo: o Brasil em geral é profundamente conivente com o racismo, a corrupção e com o sucateamento da educação e o aviltamento da profissão. Fui uma vez patrono de uma turma de letras da UFMG - é um dos meus maiores orgulhos. Na mesa em cima do palco ao meu lado estava o sujeito [professor] que me disse que eu tinha que começar a dar 3 cursos ao invés de 2 na Letras para continuar ganhando os mesmo R$500 por mês. Eu disse ao alunos mais ou menos o seguinte: ninguém vai reconhecer o valor que vocês têm lá fora; vocês têm que saber disso e têm que lutar com unhas e dentes para receber o reconhecimento que vocês merecem. Acho que continua valendo.  

Comments

Camila said…
Obrigada por me dar esse reconhecimento de que você fala ao final, Paulo! Pensar, ou melhor, *tentar* pensar, é a coisa mais difícil que há, até porque não é toda vez que dá resultado - quase sempre tento e falho miseravelmente. Mas, assim como você, acho importante continuar tentando em vez de simplesmente xingar muito no Feissy. Abraço enorme!
Merecido, Camila. A gente deve, quando reconhecer uma coisa legal, contar logo para todo mundo em volta. Se ficar esperando os jornalões e o Sabadão do Fostão anunciar as coisas boas, estamos fritos!

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