Em 2012 o governador da Califórina Jerry Brown propôs um aumento nos impostos [um equivalente ao nosso ICMS e ao imposto de renda estadual que não existe no Brasil] dos mais ricos do estado para financiar melhor o sistema de universidades estaduais. Os opositores da medida [chamada de Prop 30] investiram mais de um milhão de dólares numa campanha publicitária destinada a convencer o eleitor que era uma má ideia. O maior contribuinte desse esforço foi o principal acionista no time de baseball San Francisco Giants, o bilionário Charles B. Johnson, dono do grupo de investidores Franklin Resources, que doou $200,000 para a campanha. A proposta era aumentar o imposto de quem tem renda acima de um milhão de dólares por ano de 10.3% para 13.3%. [leia aqui]
Aqui uma das propagandas contra a proposta do governador Jerry Brown:
Não há nada de errado
em doar dinheiro para uma universidade – no Brasil as pessoas costumam chamar
universidades como Yale, Columbia, Princeton e Harvard de “privadas” como se
elas fossem universidades-empresas feitas para gerar lucro, que não é o caso de
jeito nenhum. Essas universidades não têm acionistas, não tem que dar lucro e,
em geral, não dependem primordialmente do dinheiro arrecadado pelas
mensalidades para funcionar. Mas me chama a atenção que o mesmo sujeito – que
herdou a empresa criada pelo seu pai em 1947 – gaste 200 mil dólares contra a
educação pública e um ano depois se dispunha a gastar 250 milhões com a
educação privada.
A fundo de
investimento de Johson, a Franklin Resources administra 900 bilhões de dólares
[mais que o PIB da Argentina] e vale $34 bilhões. De
acordo com aquela revista Caras dos endinheirados ele “vale” 6.5 bilhões de
dólares.
Para completar o perfil do filantropista de 82 anos falta
saber que bicho vai dar uma história meio cabulosa de um caso na justiça em que
Charles está sendo acusado de fraudar um dos primeiros investidores na empresa
em 150 milhões de dólares. O investidor teria emprestado dinheiro em troca de
ações quando Charles tornou a empresa que recebeu do pai em 1957 em empresa
pública com ações no Mercado nos anos 70. O caso apareceu no começo de 2015 e
pode não dar em nada. [leia aqui a notícia sobre o caso]
Não tenho o menor interesse aqui nesse meu quintal jogado às moscas de criar vilões de cinema americano e sair malhando judas. Sem entrar nas entranhas da personalidade ou dos detalhes da vida do sujeito em questão, o contraste entre o inimigo ferrenho da Prop 30 e melhor amigo de
Yale é o suficientemente exemplar para mim. Não estou falando de um homem malvado ou cheio de boas intenções. Estou falando aqui de uma verdadeira guerra de princípio contra
qualquer forma de distribuição de renda, vinda da parte de uma pequena mas cada
vez mais poderosa classe de bilionários que souberam explorar as frustrações com os muitos fracassos do estado
e também ressentimentos de classe/raça profundos de uma classe média cada vez mais pressionada economicamente. Essa é uma guerra que só poderia ser nivelada se aumentassem as restrições à influência do poder econômico no processo político. O que se vê é, infelizmente, justamente o contrário. Num processo político de uma sociedade de massas o que pode um sindicato, por exemplo, contra um sujeito que tem metade do PIB da Argentina para doar? O governador Jerry Brown conseguiu convencer um número considerável de bilionários e multimilionários da conveniência da sua proposta, arrecadou mais dinheiro que seus opositores e ganhou essa parada. Mas os limites do processo democrático concebido nessas bases são gritantes e as frustrações crescem.
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