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Relembrando um passado interessante sem o menor saudosismo

Detesto o clichê retórico da nostalgia e da desilusão que acompanha o tipo de comparação que é feita frequentemente entre os bons tempos a época de ouro e a decadência cultural de hoje em dia. Não é essa a minha intenção com essa rápida lista tirada da minha cabeça sem grandes ambições de coisas que foram feitas no período entre 1945 e 1964 no Brasil:

Rio 40 Graus e Vidas Secas de Nelson Pereira dos Santos
O cangaceiro de Lima Barreto
Nem Sansão, nem Dalila e Matar ou Correr de Carlos Manga, Oscarito e Grande Otelo no segundo

O Teatro Experimental do Negro de Abdias do Nascimento
O Vestido de Noiva de Nelson Rodrigues
O Teatro Arena e Augusto Boal

O projeto e construção de Brasília de Lúcio Costa, Niemeyer e JK
O projeto e construção da Cruzada São Sebastião no Rio de Janeiro
A criação da Petrobrás por Getúlio Vargas
A criação do Instituto de Estudos Brasileiros [ISEB]
Formação Econômica do Brasil de Celso Furtado
Visão do Paraíso e a versão revisada de Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda
O Parque do Xingu e os irmãos Villas-Bôas
O método Paulo Freire de alfabetização
Os Centros Populares de Cultura da UNE

A Bossa Nova com Tom Jobim, João Gilberto, Vinícius de Moraes e outros
O Zicartola no Rio de Janeiro

Didi, Pelé e Garrincha e duas Copas do Mundo

A Poesia Concreta e o Neo-Concretismo
Claro Enigma de Drummond [entre outros]
Pátria Minha de Vinícius de Moraes [entre outros]
Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto [entre outros]
Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa [entre outros]
Laços de Família de Clarice Lispector [entre outros]
Formação da Literatura Brasileira de Antonio Candido

Nada disso aí em cima é sublime nem perfeito. São realizações às vezes com grandes imperfeições bastante complicadas. O que eu quero destacar nelas não é uma pretensa qualidade superior e sim uma grande vontade de ousadia, de tentar alguma coisa diferente ao invés de simplesmente repetir os mesmos erros de antes. Esse é o meu problema principal com coisas como Belo Monte ou com a maneira como o governo lida com os povos indígenas ou passeatas de oposição que pedem por uma intervenção militar ou mesmo com a maneira como, de tempos em tempos, alguém clama por um novo Glauber Rocha ou por um novo Guimarães Rosa. Esses exemplos que acabo de dar não são apenas erros, são erros velhos, repetições de erros antigos, mofados, um conservadorismo mental, profundo. Continuamos sendo um país tão problemático e imperfeito como sempre. Mas por isso mesmo precisamos de mais ousadia.

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 que pertence a menos gente 
 mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
 foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
 a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.

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