O parágrafo de abertura de Nonato, de Augusto Roa Bastos:
Augusto Roa Bastos |
"Quando você
me diz que eu não posso me lembrar tão para trás, que ninguém em seu juízo são
pode fazer isso, e que eu já estou crescido para andar perdendo tempo com bobageiras
de menino, eu me calo. Só por fora. Sem ninguém para falar dessas coisas, já
que você também não quer me escutar, fico falando comigo mesmo, para dentro. Posso
desperdiçar minhas palavras; não desperdiço nada com meu silêncio. Me abraço com
a parede, encosto a boca no reboco e as sinto mover-se no meu hálito com gosto
de cal, gosto de baratinhas vermelhas. Eu as mastigo um pouco e as deixo subir meio
mancando. Sobem e ficam enroladas nas teias de aranha do teto."
No original em espanhol:
"Cuando
usted me dice que yo no puedo acordarme tan lejos, que nadie en su sano
juicio puede hacerlo, y que ya estoy crecido para andar perdiendo el
tiempo en chocheras de chico, yo me callo. Solo por fuera. Sin nadie a
quien hablar de estas cosas, ya que usted tampoco quiere escucharme, me
quedo hablando conmigo mismo, para adentro. Puedo malgastar mis
palabras; a qué voy a malgastar mi silencio. Me abrazo a la pared,
aplasto la boca contra el revoque y las siento moverse en el aliento con
gusto a cal, a cucarachitas rubias. Yo las masco un poco y las dejo
subir rengueando. Suben y se quedan enredadas en las telarañas del
techo."
Comments
Obrigada