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Eu adoro a figura do rei Clóvis, avô pagão de Carlos Magno que
aparece no livro dos 12 pares de França, provavelmente muito diferente do rei
de fato que viveu entre 481 e 511 DC. Um homem com um coração capaz de gerar um
grande amor por uma mulher que ele nunca viu só ouvindo as descrição dos que a
viram e ainda sentir uma grande pena por não poder estar com essa mulher com
quem ele nunca esteve. Um homem capaz de “descobrir seu segredo a um
confidente” para tentar aliviar a sua pena e dar remédio a sua paixão por essa
mulher; que envia seu amigo confidente vestido de mendigo para receber esmolas
da princesa amada e fazer-lhe a sugestão de casamento com um anel de ouro; que
se casa com ela e aceita que sua esposa continue cristã mesmo sendo ele pagão;
que aceita que sua esposa tenha batizado seus filhos, mesmo achando que o
menino morreu exatamente porque não ter sido dedicado aos seus deuses e que o
segundo tinha nascido fraco e doente pelo mesmo motivo; que mudou de ideia sobre
religião depois de levar uma coça de um exército cristão muito menor que o seu;
e que, escutando depois a história da crucifixão de Cristo, se levantou cheio
de lágrimas nos olhos e lamentou não poder viajar no tempo com os seus
guerreiros para dar uma boa coça nos romanos e salvar Jesus de tanto sofrimento.
Os afetos do rei Clóvis imaginado nesse velho livro não se deixam limitar nem
pela distância no espaço [no caso da princesa Clotilde] e no tempo [no caso da
paixão de Cristo] e nem mesmo pela sua própria falta de experiência – a inocência
do rei Clóvis não se traduz em ignorância por causa dessa capacidade tão
intensa de afeto.
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