Ainda sobre as biografias ou a construção de personagens em biografias, me parece simplista do ponto de vista historiográfico sintetizar um personagem com um punhado de atributos fixos. Alguém pode ser, em diferentes momentos da vida, extremamente covarde e depois extremamente corajoso sem qualquer problema de personalidade múltipla.
Quero passar muito longe de qualquer preconceito realista de achar que literatura precisa de personagens complexos. E, do ponto de vista historiográfico, passar ainda mais longe ainda de qualquer relativismo bobo e acabar dando a entender que seja impossível compor personagens com um nível de complexidade digno das figuras biografadas ou que biografia e ficção são exatamente a mesma coisa. No mesmo Times Literature Supplement onde li sobre a biografia de Eleanor Marx [numa resenha escrita por uma estudiosa feminista famosa], li também sobre uma exposição de pinturas/fotografia montada em torno da figura de Virginia Woolf. Veja o contraste com a reflexão da própria Woolf neste trecho do A Writer's Diary:
Quero passar muito longe de qualquer preconceito realista de achar que literatura precisa de personagens complexos. E, do ponto de vista historiográfico, passar ainda mais longe ainda de qualquer relativismo bobo e acabar dando a entender que seja impossível compor personagens com um nível de complexidade digno das figuras biografadas ou que biografia e ficção são exatamente a mesma coisa. No mesmo Times Literature Supplement onde li sobre a biografia de Eleanor Marx [numa resenha escrita por uma estudiosa feminista famosa], li também sobre uma exposição de pinturas/fotografia montada em torno da figura de Virginia Woolf. Veja o contraste com a reflexão da própria Woolf neste trecho do A Writer's Diary:
“Now is life very solid or very shifting? I am haunted by the two contradictions. This has gone on forever; goes down to the bottom of the world -- this moment I stand on. Also it is transitory, flying, diaphanous. I shall pass like a cloud on the waves. Perhaps it may be that though we change, one flying after another, so quick, so quick, yet we are somehow successive and continuous we human beings, and show the light through. But what is the light?”
Essa luz, algo sutil e longe de poder ser delineada em palavras com poucos traços fortes e simples, é a substância que um escritor de biografias deveria procurar. Aí vive a nossa complicada continuidade como personagens. Volto a enfatizar que a literatura não precisa necessariamente delinear seus personagens assim. Agora um escritor de biografias que procede assim parece mais um roteirista escrevendo um esboço para um filme/biografia de Hollywood.
Para tentar ser um pouco menos esotérico, coloco aqui outra citação da tal resenha, na qual Woolf tenta fixar a imagem que ela tem do próprio pai - que ela declara "fails to be described" - lendo os livros que ele escreveu:
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