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Recordar é viver: o que deveria ser leitura nas escolas secundárias no Brasil

Nas escolas públicas, cheias de rapazes e moças negros que ouviram mais de uma vez que não deveriam "se iludir" e procurar, na melhor das hipóteses, completar o segundo grau e arrumar um emprego logo, devia-se estudar, por exemplo, a carta que o jurista abolicionista Luiz Gama escreveu a Lúcio de Mendonça em 1880, dois anos antes de morrer. Eis um trecho:

"Sou filho natural de uma negra
africana livre
da Costa Mina
[Nagô de nação]
de nome Luiza Mahin
pagã
que sempre recusou
o batismo e a doutrina
cristã.

Luiz Gama 
Minhã mãe era de baixa estatura
magra bonita
a cor era de um preto retinto
e sem lustro
tinha os dentes alvíssimos
como a neve
era muito altiva
geniosa, insofrida
e vingativa.

Dava-se ao comércio -
era quitandeira
muito laboriosa
e mais de uma vez
na Bahia foi presa
como suspeita de envolver-se
em planos de insurreições de escravos
que não tiveram efeito.

Era dotada de atividade.

Em 1837,
depois da revolução do Dr. Sabino
na Bahia
veio ela ao Rio de Janeiro
e nunca mais voltou.

Procurei-a em 1847
em 1856,
em 1861
na Corte
sem que a pudesse encontrar.

Em 1862 soube
por uns pretos minas
que conheciam-na
e que deram-me sinais certos que ela
acompanhada com malungos desordeiros
em uma 'casa de fortuna'
em 1838
fora posta em prisão
e que tanto ela como os seus companheiros
desapareceram.

Era opinião dos meus informantes
que esses 'amotinados' fossem mandados
para fora pelo governo
que nesse tempo tratava
rigorosamente os africanos livres
tidos como provocadores."

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