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Leitura Cerrada

 A coisa mais valiosa que eu aprendi quando saí do Brasil para estudar (e depois trabalhar) foi algo que eu descreveria como uma técnica de leitura. Uma prática, primeiro, de leitura e, depois, de escrita persuasiva. Para ser justo, fui apresentado a ela ainda na UFMG, mas só porque me formei no bacharelado em literatura de língua inglesa com muitos professores que tinham sido treinados nos Estados Unidos. Me explico: essa técnica de leitura é absolutamente central no mundo de língua inglesa, sendo praticado por aqui de forma contumaz desde o ensino médio em todas as aulas que envolvam literatura e escrita na língua inglesa.  Enquanto isso no Brasil (no meu tempo de aluno pelo menos), era um esforço fútil e absurdo de tentar enquadrar textos dentro de uma lista escolas e estilos de época, normalmente descritos de uma forma tão vaga e formalista que chega a produzir textos didáticos que são simplesmente surreais. Um exemplo: O  parnasianismo  é definido como uma escol...
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Livros de notas

"As ruas juntaram tanta poeira que o homem não teve escolha a não ser passar a existir, para varrê-las."  Victor Heringer, 11 "Não é uma vestimenta que eu jogo fora hoje, mas uma pele que eu arranco com as próprias mãos."  Kahlil Gibran, 5

Trump foi eleito POR CAUSA e não apesar do seu racismo.

Em 1973, o governo federal do republicano Nixon processou Donald Trump por discriminar negros na cobrança de aluguéis dos seus imóveis. Em 1980, um ex-empregado disse que todos os empregados negros do cassino de Trump  eram removidos da vista do proprietário quando ele visitava o cassino. Em 1989, cinco adolescentes foram acusados de agredir e estuprar uma mulher no Central Park e Trump pagou um anúncio de página inteira nos principais jornais de Nova Iorque pedindo a pena de morte para os cinco acusados (quatro negros e um latino). Exames de DNA exoneraram os cinco. Dois anos depois o ex-diretor do cassino e hotel de Trump disse que o chefe dizia que pessoas negras eram geneticamente preguiçosas. Em 1997, Trump afirmou que o livro do ex-empregado era veraz. Em 1992, o cassino de Trump foi multado em 200,000 dólares por forçar clientes negros a sair de certas mesas de apostas em atenção a um grande apostador racista. No ano 2000, Trump patrocinou anúncios que acusavam a tribo Mohaw...

Não pode ou não quer?

Parar de trabalhar agora? Parar de comer comida merda? Parar de beber Coca-Cola TODOS os dias? Escrever dois livros? Perder 20 quilos? Fazer alongamento TODOS os dias? Terminar meu livro de ficção? Publicar minhas traduções? Trabalhar no meu jardim?

A Liberdade e a Tutela do Liberalismo - John Stuart Mill

John Stuart Mill é uma espécie de santo padroeiro do liberalismo no âmbito da língua inglesa. Vejam, por exemplo, como se derrama o colunista Adam Gopnik na revista New Yorker logo na aberta de um artigo sobre o pensador inglês: "Com certeza ninguém nunca teve razão sobre tantas coisas diferentes por tanto tempo como John Stuart Mill, o filósofo, político e sabe-tudo-mor da Inglaterra no século XIX."  Uma boa forma de introdução ao pensamento político/filosófico de Stuart Hill é o primeiro capítulo do livro "Sobre Liberdade". Ali ele fala sobre três pilares da liberdade: a liberdade de consciência, a liberdade de decidir livremente o que fazer com a própria vida [desde que não se prejudique ninguém] e a liberdade de associação [desde que todos os membros tenham escolhido juntar-se].  Frequentemente ignorada é uma frase, a meu ver importantíssima daquele texto introdutório: "O despotismo é uma forma legítima de governo quando se trata de bárbaros, desde que seu ...

Música: Head of the Lake de Leanne Betasamosake Simpson

  Head of the Lake Lyrics by Leanne Betasamosake Simpson* Music by Nick Ferrio, Jonas Bonnetta, Ansley Simpson In a basement full of plastic flowers, Pierogis, cabbage rolls. At the head of the lake, thinking under accusation. At the mouth of the catastrophic river, Disappearing our kids. At the foot of the nest Beside trailer hitches, coffee, spoons. We made a circle And it helped. The smoke did the things we couldn’t. Singing broke open hearts, I hold your hand Without touching it. We’re in the thinking part of the lake. Faith under accusation At the mouth of the river. And the spectre of the free At the foot of Animikig** Beside bones of stone and red silver In a basement full of increasing entropy, Moose ribs, wild rice. ( We made a circle ) We made a circle ( We made a circle ) And it helped ( And it helped ) The smoke did the things we couldn’t ( The smoke did the things we could not ) Singing broke open hearts I hold your hand without touching it ( I hold your hand without t...

Sessenta anos: Martin Luther King Jr., gênio da retórica na sua cultura

1. Concordo com Benedict Anderson em ver na imaginação a cola que mantém uma nação minimamente coesa. 2. Somos um animal coletivo narcisista e por isso imaginamos comunidades nacionais criando mitos fundamentalmente positivos. 3. Falo dessa imaginação mítica [ainda com a mesma sanha sintética] em dois lugares que conheço intimamente: Nos Estados Unidos, o mito de ser um ícone luminoso da liberdade produtiva; no Brasil, o mito de ser um ícone luminoso da afetividade prazeirosa. 4. Nenhum mito é simplesmente uma mentira. Os mitos, como os estereótipos, têm poder porque vão buscar em alguma realidade a medula da sua construção fundamentalmente fantasiosa. 5. Entendi mais firmemente o gênio retórico de MLK, lendo a fantástica carta aberta que ele escreveu em abril de 1963 (há 60 anos) no xilindró em Birmingham, Alabama. A carta se dirige ostensivamente a outra carta aberta, publicada no jornal local por líderes religiosos, condenando as manifestações que lançaram o "Projeto C" (...

Trinta Anos: O monstro que hoje está no poder levanta sua face mais feia

 No dia 19 de abril de 1995 um atentado de extrema direita na cidade de Oklahoma City (há vinte minutos de onde eu moro) destruiu o edifício Alfred Murrah. Um carro cheio de explosivos feitos com três toneladas de fertilizante e diesel foi estacionado em frente ao prédio e detonado às nove da manhã. 168 pessoas morreram, entre elas 19 crianças que frequentavam uma creche no prédio, e 800 ficaram feridas. O prédio foi escolhido porque lá havia agências do governo federal. Sinceramente, sem retoques, a gente que explodiu o Murrah em 1995 chegou ao poder trinta anos depois. As ideias extermistas de Timothy McVeigh e Terry Nichols hoje estão no poder.  Salve-se quem puder!