De repente, lendo Dora Bruder de Patrick Modiano, tenho um possível momento de iluminação. Isso acontece quando o narrador engata uma série de rápidas biografias de escritores obscuros, medianos e famosos que cruzaram antes dele os mesmos lugares que ele mesmo e a sua obsessão/protagonista Dora percorreu antes de desaparecer para sempre na fumaça do Holocausto. O narrador se lembra desses escritores que tentaram dizer qualquer coisa sobre a época em que viviam e foram esmagados e tacitamente os compara consigo mesmo, escritor obcecado por certos lugares de Paris naquele período, lugares que tinham sido passagem da jovem protagonista que dá nome ao livro. No mesmo capítulo ele recorda também uma viagem num camburão da polícia e à delegacia, viagem feita por ele mesmo em plena adolescência, [des]acompanhado pelo pai. O pai que o ignorava ostensivamente dentro do aperto do camburão, o pai que havia ele mesmo chamado a polícia para dar queixa do filho que tinha sido mandado pela mãe par...
Basicamente, mas não exclusivamente literatura: prosa e poesia.