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Showing posts from October, 2007

Quando o que não se diz diz mais do que o que se diz

Na mídia aprende-se mais notando o que não foi dito do que lendo o que foi dito. Por exemplo, o deputado acusado de assassinato, Ronaldo Cunha Lima, é chamado apenas de "deputado federal" na imprensa em geral. Já outros deputados em seus momentos de notoriedade, por exemplo o "professor Luisinho" ou Devanir Ribeiro são sempre "deputados do PT". E para ser mais claro: acho que TODOS os deputados em seus momentos de notoriedade deveriam ser associados a seus partidos e também acho que esses momentos de notoriedade deveriam ser revistos com alguma constância, principalmente na época das eleicões. Meu assunto é outro: para um leitor mais atento as omissões da imprensa revelam mais do que qualquer coisa. Outro exemplo diferente: Armírio Fraga é entrevistado em grande jornal brasileiro e fala entusiasmado sobre a "revolução capitalista" no Brasil, mas ninguém pergunta a ele sobre a necessidade de quarentena para funcionários que ocuparam altos postos n

Argentina e Brasil, violência e justiça

O padre Christian Von Wernich foi condenado à prisão perpétua na Argentina por seus crimes durante a ditadura militar. Von Wernich esteve envolvido em sete assassinatos, 31 casos de tortura e 42 seqüestros. Ninguém discute a escala muito maior da violência da ditadura argentina: em apenas 7 anos foram, nas mais conservadoras estimativas, 9.000 mortos. Quem mata e tortura mais é pior, mas quem mata e tortura menos não é melhor por causa disso. Até quando as violências da ditadura militar brasileira vão ser varridas para debaixo do tapete? Execução sumária não é morte em tiroteio e tortura é tortura em quaquer lugar, inclusive nos Estados Unidos. Uma sociedade julga por dois motivos. Olhando para trás, a justiça julga e pune para compensar prejudicados e castigar os responsáveis por esses prejuízos; olhando para o futuro, a justiça julga e pune para evitar na medida do possível que os erros continuem ou se repitam. Mas uma sociedade também é julgada pelas gerações seguintes, por sua cova

Recomendação

Quer conhecer uma poeta excelente? Rosario Castellanos: Consejo de Celestina Desconfía del que ama: tiene hambre, no quiere más que devorar. Busca la compañía de los hartos. Esos son los que dan. Diálogos con los hombres más honrados, 1972

Poesia Contemporânea

Quando algumas pessoas falam sobre poesia [ou prosa] contemporânea no Brasil, sinto um certo ranço saudosista, dos bons tempos em que a produção era bem menor e os grandes mestres modernistas escreviam seus clássicos. Só que esse saudosismo é alimentado por uma visão altamente distorcida do nosso passado recente. A produção não era tão pequena assim e muita porcaria foi escrita naquela época e depois completamente esquecida e os tais clássicos modernistas não eram absolutamente vistos assim. Há quem se queixe da falta de “direção” da poesia contemporânea e critique o “ecletismo” em vigor. Essa tal “direção” tão clara que as pessoas vêem na produção anterior é um construção feita posteriormente por pessoas que tinham um certo [não necessariamente suficiente] distanciamento e fizeram uma seleção, um corte na produção variadíssima da época. Nada contra fazer seleções ou cortes, mas não dá para achar que a seleção representa o todo. Ou alguém aqui acha mesmo que absolutamente ninguém escre

Disfarce para a Farsa

Os japoneses têm muito medo da violência, ainda que os níveis de criminalidade no Japão sejam um sétimo dos do Estados Unidos, onde aliás as pessoas também têm medo da violência, ainda que a criminalidade no Estados Unidos tenha diminuído muito, a níveis muito abaixo da criminalidade do Brasil, onde as pessoas também têm muito medo ainda que os níveis de homicídios tenham caído muito também mas, voltando aos japoneses, eles criaram soluções sensacionais para que o cidadão comum se proteja: uma saia que se transforma em um disfarce de máquina de vender refrigerantes, uma mochila que se transforma em disfarce de extintor de incêndio e até uma bolsa que se disfarça de tampa de bueiro! [veja os slides do New York Times no link abaixo] http://www.nytimes.com/slideshow/2007/10/20/world/20071020_JAPAN_SLIDESHOW_index.html No caso brasileiro, eu proporia que a classe média amedrontada adaptasse a idéia dos japoneses e se disfarçasse também. Mas, como tampas de bueiro e máquinas de vender refr

Da série os gênios da raça I

Olhem que beleza: “Vejo o mercado de educação como um supermercado. Estou vendendo um produto. Só que, em vez de vender tomate, meu produto é um assento para o aluno estudar.” Economista Marcelo Cordeiro, da Fidúcia Asset Management, especializado em buscar investimentos para o setor de educação em depoimento para Carta Capital. Nosso lobo em pele de Marcelo Cordeiro vende "assento", ou seja, seu cliente preferencial é a parte da anatomia que alguns chamam de preferência nacional. Melhor eu ser mais explícito porque posso estar sendo lido por algum aluno das instutuições servidas pelo senhor Lobo em Pele de Cordeiro: a sua bunda, meus caros, é o foco da mira dessa gente! Tire o seu da reta antes que seja tarde demais! Ou como diria o Chacrinha, "Olha o tomate, aí!"

É duro ter que dizer o óbvio

Se Cidade de Deus centra foco nos traficantes e Tropa de Elite na polícia, agora só nos falta um terceiro filme para completar a trilogia: um que fale da maioria da população que vive em favelas e bairros pobres brasileiros, que não tem envolvimento direto com crime nem polícia embora sofra as consequencias da brutalidade de AMBOS. É duro ter que dizer o óbvio, mas o óbvio não aparece em muitos posts raivosos espalhados por aí, depoimentos de gente frustrada que vocifera contra o terceiro mundo em que vive sem perceber que o seu discurso olho-por-olho dente-por-dente é que é verdadeiramente subdesenvolvido: Bandido é bandido mesmo, e por isso deveria ser preso, julgado e condenado. Quem tortura ou elimina sumariamente quem seja, junta-se aos bandidos que supostamente combate.

Mash-up: Morte sem fim

"¡Hazme, Señor, Un puerto en las orillas de este mar!" Eis o meu poema, pesadelo surdo da carne, que queima, punciona, rói, sangra. Flor que se abre pra dentro, estéril, cheia de mim, repetindo; presa na epiderme que me define, cheia de mim. Eu, seco como a sede do gesso, padecendo a fome do ar que respira, por um Deus inalcançável, rancor da molécula. Pântano de espelhos, solidão em chamas. Surdo pesadelo da carne. Ilhas de monólogos sem eco. Topo dum tempo paralítico. Ínfimo do olho que segue o curso da luz pela pele da gota de orvalho. Flor que se abre para dentro, afogada n’água estrangulada no copo. Poema que se afoga na garganta – Resta o poço ressecado, esgar de agonia: o poema.

Sobre o amor

Uma aura quase cheiro de desastre: dois olhos duros amarelos de gato olhando pra mim e o meu desejo inato de esconder pelo menos uma beirinha da verdade embaixo da manga, do sapato, me estudando com sobriedade especuladora e a intenção atenta e indiferente dum bebê (muito além desse sonoro peido humano, tão comum hoje em dia, que atende pelo nome de audácia). E eu mal-acompanhado por um desses dessa tribo de gente que mora na beira do mar, mas só sabe comer sardinha enlatada que me atira logo, cheio de certeza: “esse tipo aí eu conheço é pelo cheiro.” Eu retruquei afiado e seco como um jacaré: “caráter é caroço e casca: punhal de que não se vê o cabo.” Meu mau-companheiro aceitou meu truco e pediu um longo seis em forma de aparte: “Eu digo e repito quantas vezes você quiser ouvir o que eu sempre digo desde que virei gente: esse negócio de amor é uma bela duma balela. É tanta gente por aí dizendo que ama isso, que ama aquilo, que ama não-sei-o-quê, mas a gente só ama mesmo só o que aind

Ô sujeito mais objeto, seu!

Pior do que o sujeito ter que se sujeitar a essa matilha de hienas lobotomizadas que inventam esses concursos de contos em que os contos precisam ter a palavra cactus e 1500 caracteres e coisas do tipo é o sujeito respirar fundo e se sujeitar mesmo assim e ver seus contos rejeitados! Pior do que isso a matilha de gorilas da objetividade querer obrigar o sujeito a produzir papel que ninguém nem abre muito menos lê. Mas pelo menos esses te pagam… Ô sujeito mais objeto, seu!

Boas oportunidades de investimento

Boas oportunidades de investimento O governo mexicano, com a ajuda do governo americano, acelerou o número de apreensões de drogas e prendeu gente um pouco mais graúda do tráfico. O resultado foi que o preço do papelote subiu 24% para quase US$120. No atacado o produto registra hoje preços de $30.000 dólares por quilo. São as leis da oferta e da demanda. A mão invisível do mercado já exibiu comportamento semelhante no passado. A demanda continua firme, então logo aparece gente nova com disposição para o negócio para preencher o vácuo deixado pelos cartéis desmantelados. De Medellin e Cali para Sinaloa e Tijuana para onde? Rio e São Paulo? Lima? Santiago? Quem se habilita? Ah, essa notícia aparece logo antes de Bush levar ao congresso uma proposta de um pacote de ajuda de 1 bilhão de dólares para “ajudar o México a combater os narcotraficantes.” Mais uma grande oportunidade de negócio…

Gosta de cinema?

Gosta de cinema? Não suporta a imbecilidade rasa da sub-crítica dos jornais com suas estrelhinhas e bonequinhos e uma conversa mole de quem não entende patavinas de cinema? Então experimente a revista eletrônica Contracampo: http://www.contracampo.com.br/