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Showing posts from 2006

Homenagem ao poder de síntese

Ando lendo uma quantidade excessiva de antologias e resenhas de poesia e o resultado foi esse texto em "homenagem" a esses augustos críticos que nos explicam qualquer coisa em um par de parágrafos. A Geração de 65* A Geração de 65 é das mais vigorosas do século, principalmente no que diz respeito à chamada lírica da solidão anabolizante, com uma busca incessante da experimentação estética em linhas arrojadas, porém eminentemente bucólicas. Foram publicados inicialmente nas páginas amarelas das revistas Broca, Espelho e, é claro, Klut – O Passado Condena; além do lendário caderno de cultura do jornal Folha de Montezuma dirigido na época por Eulálio Fagundes Feitosa e Júlia Jorge de Medeiros. A de 65 é uma geração marcada acima de tudo pelo desastre da desclassificação da seleção iugoslava nas eliminatórias para a Copa da Inglaterra. Seu líder inconteste e figura mais importante é, sem dúvida, Xerxes Feitosa. Advogado, militante estudantil, jornalista e dono de uma academia

Fazer o quê?

Quem tiver alguma resposta que preste que atire a primeira pedra! O poeta mexicano Jaime Sabines articulou o dilema da seguinte forma em 1956, enquanto estava enfurnado em uma loja trabalhando como comerciante em seu estado natal, Chiapas: ¿Qué putas puedo hacer con mi rodilla, con mi pierna tan larga y tan flaca, con mis brazos, con mi lengua, con mis flacos ojos? ¿Qué puedo hacer en este remolino de imbéciles de buena voluntad? ¿Qué puedo con inteligentes podridos y con dulces niñas que no quieren hombres sino poesía? ¿Qué puedo entre los poetas uniformados por la academia o por el comunismo? ¿Qué, entre vendedores o políticos o pastores de almas? ¿Qué putas puedo hacer, Tarumba, si no soy santo, ni héroe, ni bandido, ni adorador del arte, ni boticario, ni rebelde? ¿Qué puedo hacer si puedo hacerlo todo y no tengo ganas sino de mirar y mirar? Esse poema faz parte da série que Sabines transformou no livro Tarumba, um exercício memorável de sobrevivência... Porq

Musas?

Musas? Uma pergunta de uma aluna estrangeira sobre uma canção da Rita Lee e Zélia Duncan que foi gravada por Maria Rita me chamou a atenção para a freqüência com que a palavra musa anda aparecendo na mídia brasileira e para o significado peculiar dessa palavra nesse contexto. Que diacho quer dizer para uma mulher ser chamada de "musa"? E que tal "musa do congresso", "musa do verão", "musa da novela", "musa da torcida"? Quem é a "musa dos mecânicos"? Somos um país de homens punheteiros e mulheres de papel? Cada país e cada época têm a musa que merece? Com a palavra um respeitado poeta: O POETA ASSASSINA A MUSA Há dez dias que Clotilde - Uma das musas queridas - Anda aborrecendo o poeta. Aparece carinhosa, De repente vira as costas, Diz várias coisas amargas, Bate impaciente o pé. Então o poeta aporrinhado Joga álcool e ateia fogo Nas vestes da musa. A musa descabelada Sai cantando pela rua. Súbito o corpo gran

Musas?

Uma pergunta de uma aluna estrangeira sobre uma canção da Rita Lee e Zélia Duncan que foi gravada por Maria Rita me chamou a atenção para a freqüência com que a palavra musa anda aparecendo na mídia brasileira e para o significado peculiar dessa palavra nesse contexto. Que diacho quer dizer para uma mulher ser chamada de "musa"? E que tal "musa do congresso", "musa do verão", "musa da novela", "musa da torcida"? Quem é a "musa dos mecânicos"? Somos um país de homens punheteiros e mulheres de papel? Cada país e cada época têm a musa que merece? Com a palavra um respeitado poeta: O POETA ASSASSINA A MUSA Há dez dias que Clotilde - Uma das musas queridas - Anda aborrecendo o poeta. Aparece carinhosa, De repente vira as costas, Diz várias coisas amargas, Bate impaciente o pé. Então o poeta aporrinhado Joga álcool e ateia fogo Nas vestes da musa. A musa descabelada Sai cantando pela rua. Súbito o corpo grande se estende no chão. Di

Em homenagens às musas

Intrigante a maneira como a palavra "musa" anda sapecando nossos meios de comunicação ... Cada país e cada época têm as musas que merece? Cada cabloco tem as musas que merece! O POETA ASSASSINA A MUSA Há dez dias que Clotilde - Uma das musas queridas - Anda aborrecendo o poeta. Aparece carinhosa, De repente vira as costas, Diz várias coisas amargas, Bate impaciente o pé. Então o poeta aporrinhado Joga álcool e ateia fogo Nas vestes da musa. A musa descabelada Sai cantando pela rua. Súbito o corpo grande se estende do chão. Diversas musas sobresalentes Desandam a entoar meus cânticos de dor. Clotilde ressuscitará no meu terceiro dia, Clotilde e o poeta farão as pazes. Música! Bebidas! Venham todos à função. Murilo Mendes, 1930-1933

Voltei 2

Consegui abrir meu blog aos comentários da imensa massa de leitores que me perseguia desde o ano passado. Então vou tentar de novo esse negócio. Vou passar nos meus e-mails o anúncio dessa volta triunfal e esperar pelas garrafas com mensagens...

Viva a porcaria!!!!!! - Voltei

"Assim como não se come caviar e lagosta todos os dias, na literatura um pouco de arroz com feijão não faria mal nenhum." Que tal um McDonalds bem nojento todos os dias? Ver filmes da Xuxa, assistir Faustão, ler porcaria - porque não? É preciso lutar pelo direito de cada cidadão consumidor de amar o seu lixo cultural sem ser incomodado por esses intelectuais super-poderosos que monopolizam os meios de comunicação completamente!!!!

Bubú capítulo 2

Atendendo a bilhões de pedidos agora deve ficar mais fácil registrar seus comentários online! Sheila e Walton E aí minha mãe apareceu de repente lá na casa da tia Sharon pra me buscar e todo mundo lá estranhou ela aparecer assim de repente. E ela chegou daquele jeito tão bem nervosa dela que tia Sharon deve de ter achado melhor nem perguntar nada e muito menos eu. Só o jeito que ela pegou assim no meu braço já deu pra sentir que o trem tava feio. Queria lembrar quem foi o burro que falou outro dia na televisão que perguntar não ofende – qualquer menino da minha idade e até bem mais novo sabe muito bem que isso é a maior mentira da paróquia e já provou na própria pele o preço salamargo de uma pergunta mal perguntada na hora errada. Eu por mim já apanhei mais do que eu dava conta na minha vida, então eu não sou retardado igual o Felixton meu colega de escola, que encheu tanto o saco da mãe dele que ele foi parar no hospital e anda por aí com a perna meio torta até hoje. Eu não gosto

Uma novela - Bubú

Continuo na minha busca desesperada por leitores. Ainda não apelei para a pornografia, mas resolvi adotar o folhetim em capítulos para competir com as novelas das 5, 6, 7 e 8. Da Globo. Sheila e Bubú A cama do fé-da-puta do cachorro ficava na sala e era muito melhor que aquele colchão mofado que era mais um mofão acolchoado onde eu tinha que dormir naquele quartinho que nem armário tinha, que era abafado no verão e frio no inverno, praonde eu tinha que ir e ficar quando não tivesse fazendo algum serviço na casa ou no quintal. “Olha, Sheila, aqui em casa o sistema é assim: parou de trabalhar, terminou o serviço – você pode ir direto já pro seu quarto e se a gente precisar a gente te chama.” E a porcaria do cachorro lá, assistindo televisão enviado nas pernas da patroa, empestando o sofá todo de pelo, com aquele cheiro de cachorro. E então eu sabia que eles iam me despedir – a empregada da vizinha me disse que eles sempre despediam as empregadas depois de seis meses – e a porcaria do cac

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p

2 cachorros e meu recorde

Enquanto eu me aproximo cada vez mais (como se alguém pudesse se aproximar cada vez menos) de entrar para o Guiness Beer Book of Stupid Records como o dono do blog menos visitado desse mundo digital sem pai nem mãe, mais um texto, agora sobre cachorros com direito a epígrafe da venrável senhora woolf! woolf!: 2 cachorros Such conduct in a man even, in the year 1842, would have called for some excuse from a biographer; in a woman no excuse could have availed; her name must have been blotted in ignominy from the page. But the moral code of dogs, whether better or worse, is certainly different from ours, and there was nothing in Flush’s conduct in this respect that requires a veil now, or unfitted him for the society of the purest and the chastest in the land then. Virginia Woolf 10 de dezembro, 10.55 da manhã - Porcaria d cadela já vem me atrapalhar o banho d sol. Já ficamos os 2 trancados nessa porcaria de quintal c/ esse pedaçinho d corredor c/ nem bem 2 horas de sol p/ dia e ainda me

(Quase) glória da ciência nacional

Vamos mudar de registro para continuar furiosos: (Quase) glória da ciência nacional Já estavam quase aprendendo a viver quase sem comer quando, infelizmente, vieram a falecer, deixando para trás aqueles que, já quase aprendendo a viver quase sem qualquer desejo, acabaram, infelizmente, comprando com um revólver arrendado uma passagem (com escalas) ao Carandiru mais próximo onde, infelizmente, vieram também a falecer antes de aprender de novo a ser pobre sem trauma de pobreza, mas