Vamos mudar de registro para continuar furiosos:
(Quase) glória da ciência nacional
Já estavam quase aprendendo a viver
quase sem comer
quando, infelizmente,
vieram a falecer,
deixando para trás aqueles que,
já quase aprendendo
a viver quase sem qualquer desejo,
acabaram, infelizmente, comprando
com um revólver arrendado
uma passagem (com escalas)
ao Carandiru
mais próximo onde,
infelizmente, vieram
também a falecer antes
de aprender de novo
a ser pobre sem trauma de pobreza,
mas
não sem antes dar
ao Estado o que é do Estado
quando o Estado precisa ser Estado:
esse medo duro,
generalizado,
embalado a vácuo,
que cria um ajustamento sem dor,
ou, se preferirem,
um consenso asmático
(quem tiver estômago,
faça uma pesquisa
e pergunte a esfinge
que atende pelo curioso nome,
brasileiro médio,
se ele concorda com a frase,
cunhada de próprio punho,
“o bandido bom é o bandido morto”)
que transformou e transforma
quinhentos anos de violência crassa
na identidade nacional maior.
Enquanto isso, nós,
com a cabeça enterrada
na areia fresca da praia
fazendo as pazes conosco,
vivendo em guerra conosco,
querendo sempre não ver:
são sempre quase todos quase
tataranetos de escravos
moídos em doce duro
que adoça o café amargo
que só vem depois
da tal sobremesa.
(Quase) glória da ciência nacional
Já estavam quase aprendendo a viver
quase sem comer
quando, infelizmente,
vieram a falecer,
deixando para trás aqueles que,
já quase aprendendo
a viver quase sem qualquer desejo,
acabaram, infelizmente, comprando
com um revólver arrendado
uma passagem (com escalas)
ao Carandiru
mais próximo onde,
infelizmente, vieram
também a falecer antes
de aprender de novo
a ser pobre sem trauma de pobreza,
mas
não sem antes dar
ao Estado o que é do Estado
quando o Estado precisa ser Estado:
esse medo duro,
generalizado,
embalado a vácuo,
que cria um ajustamento sem dor,
ou, se preferirem,
um consenso asmático
(quem tiver estômago,
faça uma pesquisa
e pergunte a esfinge
que atende pelo curioso nome,
brasileiro médio,
se ele concorda com a frase,
cunhada de próprio punho,
“o bandido bom é o bandido morto”)
que transformou e transforma
quinhentos anos de violência crassa
na identidade nacional maior.
Enquanto isso, nós,
com a cabeça enterrada
na areia fresca da praia
fazendo as pazes conosco,
vivendo em guerra conosco,
querendo sempre não ver:
são sempre quase todos quase
tataranetos de escravos
moídos em doce duro
que adoça o café amargo
que só vem depois
da tal sobremesa.
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